Kirsten - Verão, 2015

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   "Megan já deve estar impaciente, mas eu não tenho culpa se o meu gloss de morango acabou! E para piorar a única loja que o-vende fica na N Wilmington St."
   Já estou na N Blount St.  quando olho para o outro lado da rua e vejo que Shekinah está vindo na minha direção.
   Shekinah é uma menina que estuda comigo e é filha de um imigrante indiano! "Meu pai diz que é por causa deles que o país não anda. Ugh como eu quero me mudar logo para uma escola particular, lá eles não tem esse tipo de gentinha!"
    Para me livrar dela viro na rua mais próxima que por acaso é um beco sem saída.
   Fiquei ali uns dez minutos escondida e para passar o tempo decidi avaliar o local. Vamos ver, é bem escuro, tem muito lixo e apenas uma porta, de carvalho claro com detalhes em um tom de dourado que foi se apagando com o tempo, mas o principal detalhe era uma assinatura ilegível que foi entalhada acima da maçaneta.
   De repente reparei que no chão, perto da porta, tinha uma carta. "Não é por nada não mas alguém ainda manda cartas? Bom, deve estar aí há um bom tempo, então não deve ter problema se eu ler". Abri o envelope e dentro achei um papel enfeitado com detalhes azuis nas laterais, e com a mesma assinatura da porta. Neste papel estava escrito:

   Numa meia noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
   Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
   E já quase adormecia, ouvi o que parecia
   O som de alguém que batia levemente a meus umbrais
   "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto é nada mais."

   "Eu já ouvi esse poema", pensei, "ah é mesmo é aquele O Corvo do Edgar Allan Poe! Mas o que isso tem a ver? Vai ver foi um d..." Nesse momento me virei para trás e vi um corvo que estava me observando. "Corvos em Raleigh?".
   O corvo voou em minha direção e soltei um grito. Ele bicou meu olho e o senti despencar na órbita. Gritei mais alto. Ele bicou meu peito e senti o sangue escorrer pelos meus seios até chegar no meu umbigo. Tentei expulsá-lo. Ele bicou minha bochecha esquerda e a dor se tornou insuportável. Cambaleei para trás até atingir a porta, a maldita porta, que parecia estar encarando a minha própria morte. Gritei mais alto. Ele bicou minha língua. Foi quase indolor. Maldita porta. Maldito poema. Maldita morte.
   
  

Cartas Da Morte - parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora