George - Outono, 1830

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   " Dia 30 - As abelhas continuam a se assustar com a minha presença.
                    Hoje apareceu uma vespa, e como estas matam minhas ilustres amigas tive de expulsá-la da colmeia.
                    Percebi que as abelhas preferem rosas a margaridas.
                    Também vi que algumas abelhas não possuem listras amarelas e pretas."

   Como já estava quase na hora da janta me levantei da pedra em que me sentava e despedi de minhas amigas abelhas.
   O caminho de volta para a vila era deslumbrante. Os pássaros, as árvores e o riacho é claro. "Um dia eu deveria pintar o riacho e a ponte que tanto me maravilham!" Pensei. E não era uma má idéia, embora nunca consegui realizá-la.
   Chegando em casa minha mãe já estava me esperando com a mesa posta e o ensopado, ainda na panela, fervendo de tão quente que estava.
   "Por onde andou pequeno George?" Perguntou minha mãe. "estava perto do riacho observando as abelhas mamãe", "ah você e suas abelhas! Nunca vi tanta paixão por seres tão pequenos!" .
   "Dia 40 - As abelhas já se acostumaram com a minha presença
                   As vespas começaram a aparecer com mais frequência
                  O número de abelhas aumentou"

   "Fiquei um pouco desapontado com essa tarde, pois nada de muito interessante me apareceu" pensei enquanto voltava para casa. Mas no meio do caminho apareceu algo muito interessante: uma carta.
   "Será que o Anthony deixou esta carta cair no meio de seu trajeto?" Até pensei em deixar a carta ali, mas não pude conter minha curiosidade então peguei o envelope e abri. Dentro encontrei um papel que aparentava ser muito caro, pelos detalhes azuis que havia nas laterais, e, uma coisa que demorei para perceber foi uma assinatura ilegível no canto da folha. Mas o principal, é claro, era o que estava escrito.

     "Eu fui à floresta porque queria viver livre.
     Eu queria viver profundamente, e sugar a própria essência da vida...
     Expurgar tudo o que não fosse vida;
     E não, ao morrer, descobrir que não havia vivido."

   "Que poema profundo! É belíssimo!", Sempre adorei ler poemas assim, misteriosos, abertos para a sua interpretação.
   Admirava o poema quando ouvi um barulho vindo de uma árvore próxima, então curioso como sempre, me aproximei da árvore para descobrir qual era a causa do barulho. O barulho se afastou, e o segui. E assim foi, árvore por árvore.
   O barulho foi diminuindo, até virar um chiado quase imperceptível. Finalmente olhei em volta,  e não vi nem o lago, nem a pedra, nem a ponte e nem o caminho de pedras. Estava perdido. E continuo perdido.

Cartas Da Morte - parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora