9 - a l l a b o u t u s

32.7K 1.4K 80
                                    

Capítulo 9

If they hurt you
they hurt me too 
but hold on tight
Hold to me 'cause tonight 
it's all about us
All About Us-T.a.T.u


Ele fitou-me perplexo, os seus olhos negros presos nos meus e senti o meu corpo todo a tremer ligeiramente quando ele deu um passo em frente. As suas mãos desceram pelos meus braços e ele encostou a sua testa à minha. A minha respiração tornou-se descompassada comparada à sua calma e ele abriu os lábios que ainda conseguia saborear para falar.

- Tu acreditas que fui eu que a matei? – As suas palavras não passaram de um simples murmúrio e tentei manter a calma, apesar de os seus dedos agora se entrelaçarem nos meus. Ele afastou-se ligeiramente para fitar o verde dos meus olhos e aguardou, calmamente. Ouvi um barulho vindo do piso inferior e olhei automaticamente para a minha porta que se encontrava entreaberta. Ouvi Lyn clamar o meu nome e senti o meu coração a bater freneticamente. 

- Tens de ir Zayn. – Respondi rapidamente, tentando afastá-lo de mim. Ele não se moveu um centímetro e não permitiu que saísse da posição em que me encontrava. – Zayn, por favor. Se ela nos vê aqui juntos vai pensar o pior. Por favor. – Implorei, mas ele manteve-se na mesma posição.
 
- Charlotte? Estás em casa? – Conseguia ouvir os seus sapatos a pisarem as escadas e dentro de segundos ela estaria no meu quarto. Pensei na explicação mais razoável para lhe dar, mas simplesmente não me ocorreu nada. O que poderia dizer sem que ela pensasse que possivelmente andaria com Zayn? A minha mente encheu-se de pensamentos aleatórios.

- Amanhã, em minha casa depois das aulas. Passo na escola para te ir buscar. – Só conseguia pensar em Lyn encontrar Zayn e estremeci. 

- Está bem, agora tens de ir. Rápido! – Corri para a janela, abrindo-a e Zayn saltou, agachando-se no telhado. 

- Charlotte. – Olhei para trás e voltei a olhar para ele e só senti a sua mão a prender os meus cabelos e colidindo os seus lábios contra os meus. Soltou-me e sorriu. – Amanhã não escapas sem falarmos. – Ainda atónita com o segundo beijo que ele me dera naquela noite, observei-o a descer o telhado e depois a voz de Lyn soou. 

- O que estás a fazer com a janela aberta? – Fechei a janela e depois virei-me para ela. 

- Apenas a apanhar um pouco de ar fresco. – Bem necessitava do mesmo. Ainda espreitei para ver se via Zayn, mas ele desaparecera na escuridão. 

- Mas estás bem? – Ela exibiu uma expressão preocupada e afagou-me o rosto. 

- Sim, estava só a sentir-me um pouco sufocada. O Evan ligou-me e bem, são apenas as saudades. – Parte disto era realidade, mas Lyn não poderia saber que Zayn entrara pela janela do quarto e que me beijara intensamente. Ainda conseguia sentir os seus lábios nos meus. Os meus pelos dos braços eriçaram-se com o pensamento e um pequeno sorriso, que passou despercebido a Lyn, formou-se nos meus lábios. 

- Oh querida. – Ela afagou-me os cabelos. – Não quero que fiques desanimada. Ele vai voltar mais tarde ou mais cedo. 

- Sim, eu sei. – Voltar a falar do Evan fez-me aperceber o quanto sentia a sua falta. – Mas vamos falar um pouco sobre ti. Como está a tua relação com o Brian? – O sorriso de Lyn alargou-se e depois um rubor cobriu as maçãs do seu rosto. 

- Bem. – Ela fitou as suas mãos demasiado cuidadas e manteve-se assim alguns segundos. – Ele é fantástico, Charlotte. Tive medo de poder estar a atirar-me de cabeça, mas mesmo que o faça ele está sempre lá para me amparar. 

- Fico muito feliz por vocês. Mereces ser feliz. – Sorri-lhe. Lyn exibiu um ar sério e depois fitou-me. 

- Lembras-me tanto da tua mãe. Ela também era carinhosa e punha sempre a felicidade dos outros à frente da dela. Tenho a certeza que esteja onde ela estiver, está muito orgulhosa de ti. – Baixei a cabeça e comprimi os lábios. 

- Ela era feliz? – Olhei-a. Lyn ficou uns segundos sem falar e depois suspirou. 

- A tua mãe estava sempre feliz, na realidade era muito raro vê-la desanimada. Apenas quando o teu pai partiu é que ela se foi abaixo. Tinha uma criança pequena para cuidar sem a ajuda dele, apenas porque decidiu ser um mau pai. Ela conseguiu erguer-se e criou uma princesa linda. – Passou a mão pelo meu rosto e sorriu maternalmente. 

- Eu não me lembro dela. – Murmurei. – Lembro-me vagamente da voz doce, os abraços dela que me protegiam, os olhos esverdeados e os cabelos castanhos ondulados. Mas não me lembro de nada disso. As minhas memórias de infância são do orfanato. Eu quero lembrar-me como era tê-la a cuidar de mim, mas não consigo. 

- É normal, tinhas apenas três anos quando ocorreu aquela tragédia. 

- Eu nunca soube o que aconteceu, Lyn. A minha vida tem sido uma caixa de surpresas e quando mais procuro saber sobre a minha mãe, menos encontro. Porque é que nunca falas comigo sobre isso? 

- Charlotte... - Ela começou, mas depois suspirou. Uni as sobrancelhas e comprimi os lábios. – Houve um acidente em tua casa. – As minhas palmas começaram a suar e senti um nó no estômago quando ela começou a falar. Queria saber o que realmente acontecera, mas por alguns segundos senti que não estava emocionalmente preparada para ouvir. Respirei fundo e aguardei. – Disseram que foi um acidente. Ela deixou o gás ligado e deu-se uma explosão na cozinha que provocou um incêndio. Quando te encontraram, estavas inanimada e levaram-te logo para o hospital. E foi quando te mandaram para o orfanato, porque nenhum familiar se preocupou em cuidar de ti. – Ela falou um tanto magoada. – Eu sinto-me incluída nessa lista. Fui embora, iludida com a ideia que conhecera a pessoa ideal para mim e afinal só me tramou. Eu podia ter cuidado de ti, criar-te e terias uma infância e memórias felizes. Tudo o que te resta são as imensas do quarto pacato e não sei do que mais. 

- Lyn, não tens de te sentir culpada por isso. – Ela levantou-se e segui-a, caminhando até à janela. - Eu estou feliz agora. 

- Mas não há nada que possa fazer para apagar as memórias dolorosas que tens de lá. 

- Ninguém pode fazer nada em relação a isso. – Afirmei. – Mas no meu primeiro dia aqui, disseste que faríamos os possíveis para esquecer. Podemos sempre tentar. – Lyn virou-se para mim, os seus olhos brilhavam com o intenso azul. 

- Tornaste-te uma pessoa fantástica, Charlotte. E eu não vou deixar que nada te aconteça. – Envolveu-me num abraço apertado. 

- Obrigada tia. 

SWEET DREAMS - LIVRO 1 ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora