o pó que recobre o sol

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A sua respiração me destrói, desmorono. E você aspira meus detritos, quase que por impulso. Claro, você quer viver, nesse ar rarefeito que eu exalo. É capaz de aguentar toda a poeira que eu levanto, levanto e levanto, como se não me cansasse de remoer esse pó que ja foi uma parte minha. Não me leve a mal, não quero tornar isso uma situação inóspita, mas é como se eu tivesse a chance de retroceder. Pois tenho meu passado em minhas mãos, seguro as cinzas do homem que já fui, acho que você se sentiria melhor se tivesse o conhecido, enquanto ainda era entranhado dentro da minha carne. E você o respira, tira o passado de perto de mim, me afasta, para me empurrar pro nosso futuro. Eu sei que sou tóxico, mas você aguenta cada explosão de radioatividade sem definhar, sem murmurar. Obrigado, terra. Por absorver cada delírio, que aqui foi escrito em seu solo, eu espero pelo dia, toda essa poeira abaixe e eu possa revê-la.



Rarefeito: Segundo livro, da saga de poemas "Haja o que ecoar".
Primeiro livro: Ouvido cego.

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