Troye sivan’s POV)
Vou ficar com Bruno.
Não me procure mais.
Trinta e dois dias haviam se passado. Setecentas e sessenta e oito horas, quarenta e seis mil e oitenta minutos... Dois milhões, setecentos e sessenta e quatro mil oitocentos e mais alguns malditos segundos.
E as malditas oito palavras que ela cuspiu como se fosse um veneno sendo finalmente expelido ainda perfuravam cruelmente meus tímpanos como adagas.
Baguncei de qualquer jeito meu cabelo diante do espelho, sem nem ousar analisar o reflexo de meu rosto. As olheiras, o olhar morto, a boca reta, as íris opacas... Sintomas com os quais eu já estava começando a me habituar.
Mas sabia que jamais os aceitaria de fato.
Ela se manteve firme em sua decisão. Em nenhum momento, durante aquele mês de distância, ela demonstrou arrependimento, sofrimento ou sequer um pingo de consideração por mim. Mal me olhava, evitava se aproximar de mim, estava sempre apressada, mudava de direção se me via... Enfim, usava todos os artifícios que podia para me repelir. E eu, com o resto de orgulho que ainda guardava no fundo de minha alma, fingi que a respeitava. Nunca corri atrás de mulher alguma, e me arrependi amargamente da primeira e última vez em que o fiz. As malditas oito palavras que recebi como recompensa (se é que posso chamá-las assim) não me encorajavam a repetir a experiência.
Ela não me queria mais? Ótimo. Ela preferiu o namoradinho perfeitinho e bonzinho que só faz papai-mamãe? Ótimo. Fui apenas uma atração passageira? Ótimo! Ela poderia perfeitamente ser uma para mim também. Eu também poderia fingir que ela simplesmente não existia, que havia morrido ou então se mudado para bem longe dessa merda de cidade. Ou então que ela foi apenas uma ilusão, um produto de uma mente alterada - no caso, a minha. Mas algo que eu não poderia fingir era o fato de que eu jamais poderia sentir novamente a maciez e o calor de sua pele, assim como a porra de seu perfume e de seus toques suaves e precisos. E que dali a algum tempo, eu já nem me lembraria mais de como era estar com ela. De como eu conseguia ser absurdamente espontâneo e diferente com ela... De como eu conseguia ser simplesmente Troye sivan.
Eu não poderia fingir aquilo porque não havia como fingir a verdade. Dali a algum tempo, tudo realmente se perderia no tempo. Todos os meus sentimentos, tão únicos e indescritíveis por ela, se resumiriam a meras, vagas e inexatas lembranças.
Mas das malditas oito palavras eu jamais me esqueceria.
Respirei fundo, e encarei meus olhos no espelho. Seus tons castanhos desbotados e fúnebres fizeram com que minha mente se perguntasse, pela milésima vez naquele dia, se valia mesmo a pena sair de casa. Há uma semana atrás, Bruno me convidou para uma reunião de amigos em seu apartamento, como forma de comemoração ao seu aniversário. Eu não via muitos motivos para comemorar; já motivos para me suicidar saltavam aos meus olhos. Mas durante aqueles sete dias que se seguiram ao convite de Bruno, eu me preparei psicologicamente para vencer minha crise existencial. Me determinei a ir, e repeti minha meta a cada ameaça de desistência que minha mente lançava. Eu não a deixaria me derrotar, não mesmo. Ela estava absurdamente enganada se pensava que eu iria me deixar abater por sua escolha.
Para ser bem sincero, eu estava com pena dela. Porque eu estava pronto para ir àquela maldita comemoração. E com toda a certeza do universo, ela estaria lá, e eu faria questão de mostrar a ela que sua decisão não mudou absolutamente nada na minha vida.
Pensando melhor, eu tinha um bom motivo para ir à casa de Bruno naquela noite. E esse motivo fez com que um sorrisinho maldoso surgisse em meu rosto, e meus olhos voltassem a arder, intensamente castanhos outra vez.
Dentre meus sentimentos favoritos, poucos superavam a vingança.
Eu realmente estou com pena dela. Ou talvez não. Afinal, garotas más merecem ser castigadas.- Fala, sivan! – Bruno exclamou, assim que surgi no primeiro andar de seu prédio, com sua habitual overdose de alegria. Eu também estaria super alegre com a mulher que ele tinha ao lado dele. Adoro meu senso de humor mórbido.
- Parabéns, Bruno – sorri, abraçando-o brevemente e dando tapinhas em suas costas – Não acredito que mais um ano se passou e eu ainda não te dei um pé na bunda.
- Valeu, cara – ele riu, afastando-se e me dando passagem para entrar no apartamento - Você sabe que me ama, gatinho.
- Fala baixo, vão nos descobrir – fingi um sussurro, fazendo-o gargalhar enquanto eu observava as pessoas que conversavam na sala. Alguns colegas da faculdade, poucos de profissão, mas não passavam de umas vinte pessoas.
- Fica à vontade, cara, vou buscar uma cerveja pra você – Bruno disse, indo até a cozinha e me deixando na sala. Pensei em segui-lo, me perguntando se Luisa estaria por lá, mas resolvi cumprimentar alguns amigos da faculdade e me sentar confortavelmente no sofá. Eu queria estar preparado para vê-la pela primeira vez após um mês de distância, e não queria parecer ansioso.
- E aí, como você tá? – Bruno perguntou alguns minutos depois, me entregando uma cerveja e atirando-se ao meu lado – Parece melhor da crise de enxaqueca.
É, eu sei, dei uma desculpa esfarrapada pra minha reação a um primeiro fora. Mas eu não podia simplesmente dizer pois é, Oliveira , eu fiquei meio deprimido porque sua namorada resolveu ficar contigo e não comigo se ainda queria deixar as coisas como estavam: em segredo.
- Eu estou mesmo – respondi, dando um grande gole na cerveja para não dar mais um de meus sorrisos maldosos ao pensar no motivo de minha melhora – Acho que precisava de umas boas noites de sono, e alguns analgésicos me ajudaram.
O que foi? Estou mentindo de novo? Eu sei. Não quero ir pro céu mesmo, gosto demais de sexo e álcool pra isso.
- Que bom, de verdade – ele assentiu, me dando dois tapinhas no ombro – Tava começando a ficar preocupado contigo.
E eu tô começando a ficar preocupado com a tua namorada. Cadê ela? Já eram quase dez e meia, ou seja, um pouco tarde para se chegar numa festa marcada para as oito, não acha?
- Oliveira , interfone! – uma voz masculina gritou da cozinha, em meio ao falatório dos outros presentes – Uma tal de Luisa! É pra mandar subir?
Duas palavras: oi, Gomes.
- É! – Bruno respondeu, e logo depois se dirigiu a mim – Já volto.
Assenti de leve, observando-o correr até a porta, e dei mais um gole em minha Heineken. Em menos de quinze segundos, Luisa surgiu à porta, e os braços de Bruno a envolveram tão rapidamente que eu mal pude vê-la. Tudo que ficou visível foram suas mãos, agarrando os cabelos dele e enterrando suas unhas vermelhas em sua nuca, e seus pés, suspensos no ar devido ao abraço de Bruno. E um detalhe que passaria despercebido por mim, se não fosse ela a garota em questão, chamou minha atenção e, confesso, me assustou pra caralho.
Os sapatos pretos dela eram exatamente iguaisaos que ela usava quando sonhei com ela no baile de primavera.
Merda. Só porque eu adoro fazer sexo com mulheres de salto. Eu podia ser um cafajeste, mas ela não ficava muito atrás me provocando daquele jeito.
Bruno a ergueu ainda mais no ar, e o rosto dela se tornou visível sobre o ombro musculoso dele. Luisa aproximou sua boca de seu ouvido e murmurou algumas palavras que, pelo que minha leitura labial me permitiu identificar, eram Parabéns, meu amor, eu te amo muito. Ele provavelmente respondeu à altura, porque o sorriso nos lábios rosados dela aumentou. Assim como minhas mãos se fecharam em punhos, quase esmagando a garrafa de cerveja entre meus dedos.
Desviei o olhar, tentando sufocar o grito de ódio que se formou em minha garganta. Engoli todo o resto do conteúdo da garrafa de uma só vez, esfriando a raiva que parecia queimar minhas entranhas, e quando voltei a encará-los, Bruno a havia abraçado pela cintura com um de seus braços e a apresentava para um grupo de amigos. Então eles haviam se tornado públicos? Que bonitinho. Eu bem que podia ser um belo filho da puta e contar tudo pra mãe dela, mas acho que isso dificultaria de certa forma minhas chances de tê-la para mim.
Então eu apenas ia assistir àquela barbaridade sem mover um músculo?
Bem... Não exatamente. Eu tinha meus meios de destruir aquele conto de fadas.
Minha mente trabalhava a todo vapor conforme ele a apresentava a praticamente todas as pessoas presentes, e meus olhos os seguiam com discreto interesse. Os sorrisos ternos queLuisa dava a cada uma delas me fez esquecer completamente, por um segundo, que estava bravo. Eu a queria tanto, meu Deus! Por que ela não conseguia simplesmente entender isso? Essa incompreensão queimava com tanta força em minha garganta que eu me sentia prestes a gritar tudo que se passava em minha cabeça, pra que todos ouvissem de uma vez que ela era minha e de mais ninguém.
- E esse aqui você já conhece – a voz de Bruno, perigosamente próxima, me acordou do breve transe no qual havia mergulhado sem querer, com um leve susto. Olhei para cima e o vi parado à minha frente, com a mão de Luisa na sua, e logo em seguida, desviei meu olhar até encontrar o dela, extremamente contido e assustado. Como uma presa frente a frente com seu predador.
- Oi, Gomes – sorri após alguns segundos de silêncio, e a malícia da vingança contornava visivelmente meus lábios. Eu me sentia absurdamente descarado, e não tinha a menor intenção de mudar essa situação, já que Bruno era um tapado e não repararia mesmo.
- Oi – ela murmurou, abaixando seu olhar do meu por um segundo, sem conseguir agüentar a carga de raiva que viu em minhas íris. Coitadinha. Só vai ficar pior.
- Senta aí, lu, eu vou buscar uma cerveja pra você e já volto – Bruno disse, e sem dar tempo para que ela se manifestasse, ele correu até a cozinha, deixando-a sozinha comigo. Ops. Errou feio, Oliveira .
Luisa o acompanhou com os olhos aflitos conforme ele se afastava, até que Bruno sumiu de vista. Ela manteve o rosto virado na direção da cozinha, segurando firmemente a pequena bolsa vermelha de verniz que combinava perfeitamente com suas unhas. Sim, eu tenho o péssimo e delicioso hábito de observar cada pequeno detalhe dela. Posso estar me mordendo de raiva, mas ainda sou fodidamente viciado naquela pirralha.
- Pode ir atrás dele – falei, fazendo-a pular levemente de susto e me encarar – Não é isso o que você sempre faz?
Luisa me fitou por alguns segundos, recuperando-se da surpresa por meu contato e ao mesmo tempo absorvendo e tentando formular alguma resposta para minhas palavras. Sem conseguir nenhum de seus dois objetivos, ela simplesmente desviou o olhar do meu e saiu de perto, tomando a mesma direção que Bruno. Observei-a caminhar rapidamente, enfeitiçado pelo tecido esvoaçante de seu curto vestido preto, e um detalhe no qual eu não havia reparado antes me fez sorrir pervertidamente.
Sua roupa deixava exposta quase que toda a extensão de suas costas. Ou seja, ela não estava usando sutiã. Saber que uma peça íntima estava faltando ali era, confesso, bastante excitante.
E só pra relembrar, a filha da puta estava de salto.
Ah, como eu queria transar com ela hoje.
Mordi meu lábio inferior, respirando fundo e desviando meus olhos dela. Seria constrangedor demais até para mim ter uma ereção no meio daquele bando de gente, mesmo que a culpada fosse capaz de me tirar dos eixos em qualquer lugar, a qualquer hora, com qualquer roupa. Percebi que alguém havia ligado a TV, e mantive meus olhos fixos na tela, sem realmente absorver o que estava sendo transmitido. Acho que nem milhares de mulheres gostosas e peladas se esfregando prenderiam minha atenção àquele televisor no momento, mas eu juro que me esforcei para prestar atenção por pelo menos dois minutos.
- Vem cá, lu, vamos ficar aqui na sala – pude ouvir a voz de Bruno dizer, vinda da cozinha e se aproximando cada vez mais – Aproveita e traz mais uma cerveja pro Troye.
Uma cerveja? Pra mim? Puxa, que gentileza!Bruno Oliveira , eu te amo. Se não fosse tão possessivo sobre a sua namorada, te chamaria pra um ménage. Mas que pena, eu sou. E te ver nu não é algo que eu queira.
Não movi um músculo, apenas esperei até queBruno voltasse a se sentar ao meu lado no sofá, deixando um lugar vago para Luisa de seu outro lado. Bastante egoísta da parte dele, eu achei.
- Fala sério, você tá assistindo TV no meu aniversário? Pensei que você estivesse aqui por mim! – ele brincou, e quando me virei para retrucar, vi Luisa se aproximando com duas garrafas de cerveja e uma expressão levemente pálida, como a de quem deseja vomitar. Ela realmente estava tão mal com a minha presença? Quase me dava pena. Eu dissequase, só pra ressaltar.
- Nossa, cara – falei, erguendo uma sobrancelha – Isso soou muito gay.
- É que hoje minha homossexualidade tá aflorada – Bruno gemeu, passando os braços ao redor de meu pescoço e deitando sua cabeça em meu ombro. Era em situações como essa que eu confirmava minha teoria de queBruno fazia o tipo passivo.
- Argh, sai daqui, sua bicha – grunhi, segurando seus pulsos e tentando tirá-lo de cima de mim, fazendo-o rir – Vai agarrar sua namoradinha, vai.
De repente o clima ficou tenso. Bruno parou de rir e me olhou com certa censura, e Luisa, que finalmente havia chegado ao sofá, parou de pé na nossa frente e me encarou por poucos segundos, com o olhar magoado.
- Que é? Só porque eu falei no diminutivo? – perguntei, levemente sarcástico, me aproveitando daquela tensão para atingi-la ainda mais - A menina mal saiu das fraldas e você quer que eu a chame de que? Namoradona?
- Troye – Bruno falou, com um tom de voz grave e repreensivo – Hoje não, por favor.
Revirei os olhos, voltando-os para a TV, mas infelizmente o corpo de Luisa me impedia de ver boa parte da tela. Ela me estendeu uma garrafa de cerveja e eu apenas a arranquei de sua mão sem nem agradecer, e logo ela se sentou na outra ponta do sofá, rapidamente sendo envolvida por um dos braços de Bruno. Que bosta, com tantos lugares mais interessantes para ficar, eles realmente pretendiam sentar justo do meu lado?
- Eu acho que vou me deitar um pouco – ouviLuisa dizer baixinho, e sua voz mais fina que o habitual me causou uma pontada de remorso que eu logo destruí – Estou cansada, dormi mal na noite passada.
Chupa, Oliveira . Ninguém manda fazer uma festa numa sexta-feira de provas escolares, seu imbecil.
- Tem certeza de que é só isso, amor? – Bruno murmurou, encurvando-se sobre ela, e meu estômago revirou mais rápido ainda de ciúmes – Está sentindo mais alguma coisa?
- Eu estou bem, juro – ela respondeu, carinhosa – Só preciso descansar um pouco. Enquanto isso, aproveite sua festa.
- Como, se você não vai estar aqui pra aproveitar comigo? – ele perguntou, e a força em meus punhos aumentou tanto que minhas pequenas unhas ameaçaram cortar a pele das palmas de minhas mãos – Mas tudo bem, vá se deitar um pouco na minha cama. Quero que você fique bem para podermos aproveitar quando estivermos sozinhos.
Respirei lenta e profundamente, tentando não deixar o grito de ódio em minha garganta escapar, e me levantei devagar para não deixar meus instintos prevalecerem e me jogar sobreBruno, pronto para torturá-lo até a morte. Caminhei até o banheiro, já com uma certa pressa, e me tranquei lá, sentindo meu estômago embrulhado.
Eles iam passar a noite juntos. Que maravilha. Quer dizer que eu não teria nem a mínima oportunidade de levá-la para casa (a minha, claro), e que ele a teria toda para si, de unhas vermelhas e com aqueles saltos malditos. Parecia que meu cérebro estava inflando a cada vez que esses fatos ecoavam em minha mente, e estava perigosamente perto de explodir com violência.
Joguei um pouco de água no rosto, respirando fundo, e senti um ódio que não parecia caber dentro de mim se espalhar por todas as minhas células. Por que as coisas tinham que ser assim? Por que eu não podia simplesmente ser o que Bruno era para ela? Por que eu não podia ser o dono da cama onde ela dormia por algumas noites, o namorado que podia explorar aquele corpo sem limites?
Encarei com veemência meu reflexo no espelho, e esperei até que meu rosto se tornasse um pouco menos assassino. Sem sucesso nenhum, apenas fiz uma de minhas especialidades: fingi. Um sorrisinho cordial surgiu em meus lábios com certo esforço, e apesar de meus olhos em brasa, concluí que estava apresentável novamente. As pessoas teriam que se conformar com minha sutil cara de psicopata.
Saí do banheiro, após mais alguns segundos de exercícios respiratórios, e voltei a me sentar no sofá, onde agora só havia Bruno. Alguém havia mudado de canal, e um noticiário entediante passava na TV. Fingi prestar atenção no que o repórter dizia, e logo senti os olhos ressentidos de Bruno sobre mim devido à minha grosseria de alguns minutos atrás. É claro que o ignorei totalmente, e ele não levou muito mais que três segundos para deduzir isso; como se lesse meus pensamentos, simplesmente levantou-se do sofá e foi conversar com alguns amigos. Dali a cinco minutos ele já teria se esquecido de meu pequeno deslize, se eu o conhecia bem.
Uma meia hora se passou, preenchida por conversas rápidas e entediantes com alguns velhos conhecidos da faculdade. Quando já estava começando a ficar impaciente com aquele bando de gente que não tinha mais nada para fazer a não ser comer, beber e fazer barulho (fora o fator atrapalhando minhas possibilidades de invadir o quarto do Bruno e seqüestrar Luisa sem ser percebido) e estava considerando radicalmente a hipótese de ir para casa, recebi uma notícia um tanto quanto animadora.
- Ei, sivan – Michael, um colega nosso da faculdade, chamou, quando finalmente tomei coragem de me levantar do sofá para pegar mais uma cerveja – Todo mundo tá indo jogar sinuca lá no salão de jogos. Quer vir com a gente?
- Defina todo mundo – pedi, fingindo que a possibilidade de esvaziar o apartamento não estava tão distante da realidade para não parecer empolgado demais com aquela informação.
- Todo mundo, literalmente – ele riu em resposta, bêbado – Sabe como é, acabou a cerveja. A gente precisa de alguma outra distração.
- Hm, sei – menti diante de suas afirmações sem nexo, forçando um sorrisinho compreensivo quando na verdade eu queria gargalhar e mandar todos irem à merda do salão de jogos o mais rápido possível – Acho que eu não vou não, cara. Minha cabeça tá explodindo, eu não tô muito legal, é melhor eu ir embora.
- Ih, tá perdendo o jeito, é? – Michael debochou, me dando uma cotovelada fraca – Você costumava ser o rei dos porres, Troye.
Perdendo o jeito? Eu acho que não. Pergunte pra sua mãe, ela saberá te responder melhor do que eu.
- Pois é – respondi simplesmente, ignorando toda a náusea que o bafo de álcool daquele idiota estava me causando – Eu devo estar ficando velho.
Michael deu uma risadinha alienada, e eu me aproveitei de sua falta de atenção para escapar daquela conversa estúpida e pensar com clareza e rapidez no que ia fazer. Se todos iriam ao salão de jogos, era pouco provável que Luisa quisesse acompanhá-los. E já que o aniversariante era Bruno, não havia muitas chances de que ele ficasse com ela ao invés de passar algumas horas com os amigos. Ou seja, eu teria pelo menos algum tempo a sós para resolver minhas pendências.
É claro, havia riscos, e não eram poucos. Mas pra quem estava prestes a desistir de tudo, eu havia sido mais do que abençoado com um pouco de sorte, e estava mais do que disposto a me arriscar.
Caminhei em direção ao hall de entrada do apartamento, onde os poucos convidados já se aglomeravam, e ao mesmo tempo, encontreiBruno voltando do corredor. Provavelmente, tinha ido avisar Luisa que estaria fora por algum tempo, mas logo voltaria. Pode deixar, eu cuido dela, pensei em dizer, mas obviamente ignorei tal impulso.
- Oliveira , eu acho que já vou pra casa – falei, forjando um cansaço que se opunha totalmente ao meu estado de humor – Acho que exagerei na bebida.
- Tudo bem, cara, pelo menos você veio e aproveitou um pouquinho – ele concordou, pondo uma mão em meu ombro e me olhando com leve preocupação – Tem certeza de que não precisa de uma carona?
Eu disse que ele logo esqueceria o momento tenso com Luisa, não disse? E é exatamente nessas horas que eu me sinto um merda, sabe.Bruno podia ser extremamente bacana quando queria, tipo agora. Pena que ele também sabia ser muito irritante, tipo quando resolveu ficar com a Gomes. Eu jamais conseguiria definir como me sentia ao lado dele, o conflito entre seus dois lados era gritante demais.
- Relaxa, curte sua festa – sorri, retribuindo a mão em meu ombro – E valeu por ter me chamado, eu precisava dar uma relaxada mesmo.
O que foi que você disse? Que eu sou um puta falso e mentiroso? É, eu sei. Me desculpe por isso, minhas habilidades teatrais afloram naturalmente quando o assunto é Luisa Gomes.
- Ah, imagina, sivan – Bruno disse, me dando um abraço rápido – Vamos juntos então? Vou levar a cambada pra jogar sinuca.
- Claro – assenti, e o observei caminhar por entre os amigos até a porta do apartamento e abri-la, deixando que todos saíssem.
Seguimos o fluxo calmamente, e eu tentei disfarçar a ansiedade formigando em minhas pernas e mãos, fazendo-as vacilarem e tremerem de leve. Como eu imaginei, ele apenas fechou a porta, deixando a chave para o lado de dentro, provavelmente para Luisa trancá-la logo em seguida. Bruno deve ter imaginado (e com razão, por inúmeros motivos) que não seria bom deixá-la trancada, ou então que seria apropriado deixá-la com a chave caso mudasse de idéia e quisesse se unir a ele e aos outros convidados. Posso confessar que gostei de saber que ela não tinha uma cópia da chave do apartamento dele? Definitivamente, seria uma das medidas que eu já teria tomado se estivesse com ela há alguns meses.
- Pelo visto teremos que fazer duas viagens –Bruno observou, ao ver toda aquela gente esperando por um único elevador, e eu acordei de meus pensamentos agitados – Acho melhor você descer pela escada, sivan.
- Relaxa, eu já ia fazer isso mesmo – sorri, e com um breve aceno, me despedi dele, já que mais ninguém ali estava suficientemente sóbrio para notar meu gesto. Desci tranquilamente o primeiro lance de degraus, sentindo meu coração bater tão forte a ponto de doer, e assim que sumi de vista, parei e esperei, imóvel, até que todos tivessem subido para o salão de jogos e o andar estivesse finalmente deserto. Assim que ouvi o sutil ruído das portas do elevador em movimento e o silêncio predominou, respirei fundo, só então notando que havia praticamente parado de respirar durante aqueles minutos de espera.
Me esgueirei até poder ver o hall, e de fato, não havia mais ninguém. É agora, disse para mim mesmo em pensamento, e enchi meus pulmões de ar, pronto para executar meu plano. Subi os degraus rapidamente e logo cheguei à porta pela qual havia acabado de sair. Girei a maçaneta devagar para não fazer nenhum barulho, e assim que entrei no apartamento, tranquei-me silenciosamente. O fato de não correr o risco de ser pego no flagra fez um certo alívio percorrer meu corpo, e um sorriso tenso se alojou em meu rosto. Eu estava cada vez mais perto de conseguir o que tanto almejava.
Caminhei determinadamente até o quarto deBruno, cuja porta estava entreaberta, porém não consegui ver nada. O silêncio predominava no apartamento, mas meu coração batia tão forte que eu cogitei a hipótese de meus batimentos terem sido ouvidos a quilômetros de distância. Parei à porta, sentindo o nervosismo me dominar, e lentamente entrei no quarto, deparando-me com a silhueta de Luisa sentada na ponta mais distante da cama, de costas para mim. Fiquei um tanto surpreso por não encontrá-la deitada, mas antes que eu pudesse sequer tentar me recuperar, ela virou um pouco a cabeça, como se tivesse sentido minha presença, e me desarmou completamente.
- Você veio mesmo... Exatamente como eu imaginei.
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Biology
RandomOBS NÃO É DA NOSSA AUTORIA Biology* | finalizada Descrição: Você nunca pensou que teria uma relação tão física com um professor de biologia. Muito menos com dois.Gênero: RomanceClassificação: 18 anos (cenas de sexo) OBS NÃO É DA NOSSA AUTORIA