A Rapariga De Negro

Capítulo 1

Eu acredito que nasci do acaso. 

No momento em que os meus pais me conceberam, eles não pensavam nas reais consequências daquele ato. 

Regidos por sentimentos temporários como a atração e a paixão, entregaram-se um ao outro como qualquer casal.  Meses mais tarde, perceberam de que aquele ato sem prevenção, tinha sido um erro. 

O meu pai e a minha mãe que tanto se amavam ao início, começaram a discutir e a brigar sobre a decisão de me terem ou não. Ambos tinham 22 anos naquela altura e sonhavam em concretizar vários projetos antes de serem pais. 

As minhas avós iam todos os domingos à missa e rezavam em nome de Deus para Ele as guiar no caminho da "Luz". Ao saberem da  notícia da gravidez da minha mãe rejeitaram-na e pediram-lhe para que ela tirasse esse "monstro" dentro do seu corpo.
Parece que até mesmo as pessoas mais religiosas pecam a qualquer altura da sua vida.

De acordo com a religião católica, existem 10 mandamentos que nunca, em qualquer circunstância, deveremos ignorar ou rejeitar.  A quinta regra afirma que "Não devemos matar nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo".
Quem ignorar ou rejeitar qualquer uma das dez leis, tem um lugar reservado no Inferno junto ao Diabo. 

Coitada da minha avó Ana que deve estar a dar voltas ao túmulo por ter tomado aquela decisão horrível enquanto estava viva!

Após a rejeição dos meus parentes mais velhos, a minha mãe e o meu pai lutaram para manter o fruto do seu "amor" vivo.
Para isso, mudaram para a grande cidade de Atlanta nos Estados Unidos da América e deixaram a cidade onde cresceram, se conheceram e onde viveram um grande romance cercado por opiniões negativas.

No final dos 9 meses de gestação, a minha mãe deu "à luz", uma menina morena de olhos azuis. Foi um momento de felicidade para aquela pequena família.

Contudo, com o passar do tempo, as discussões e as brigas começaram a aumentar significativamente naquela casa. Talvez devido ao meu choro constante, talvez pelos vícios do meu pai ou talvez os dois.

O sentimento de paixão que ambos nutriam foi desaparecendo e quando eu tinha apenas sete anos, o meu pai decidiu deixar-me e à minha mãe para trás. 

Hoje em dia, ao observar as relações entre marido/esposa ou entre namorados, eu percebo de que o amor não é nada mais que uma ilusão. Uma fantasia criada para nos distrairmos dos nossos problemas. 

Eu acredito que há exceções, claro, mas geralmente, as relações são temporárias.
Quando pensamos que temos uma relação com estabilidade baseada em sentimentos passageiros como a paixão e a atração, tendemos a querer oficializar perante todas as pessoas e queremos ter descendência.
Porém, nem todos os casais estão preparados para tal encargo. Ser pai ou mãe é um pouco mais complicado e complexo do que pensamos. 

Ter um filho requer responsabilidade, dedicação e envolve um fator extra: o amor genuíno.

Existem muitos casais que enfrentaram o mesmo que a minha mãe e o meu pai e obtiveram o mesmo resultado: o divórcio ou o abandono. 

O problema é de que muitos casais não percebem de que isso acaba sempre por ter consequências para o membro mais novo da família. 

Pelo menos, para mim teve. Eu chamo-me Maia de La Vila e eu sou filha de um fracassado namoro entre jovens.