"Hoje era o primeiro dia do primeiro ano na Escola Primária. Eu estava muito nervosa e não queria sair da cama. A minha mãe bateu várias vezes à porta do meu quarto.
Contudo, eu não fazia barulho e nem me mexia com a esperança de que ela se esquecesse de me levar para a escola.
-MAIA MARIA! LEVANTA-TE IMEDIATAMENTE!
Ouvi-a gritar. Agora ela tinha-me assustado!
Engoli em seco e sentei-me na cama. Poucos minutos depois, vi a porta a abrir-se e esperei o pior. Esperei que a minha mãe entrasse no meu quarto parecendo um monstro de sete cabeças.
No entanto, vi apenas o rosto sereno e tranquilo do meu pai. Ele entrou, fechou a porta e caminhou na minha direção, sentando-se ao meu lado.
-Maia. – Disse ele pondo um braço em volta dos meus ombros. – O que se passa?
Olhei para os seus olhos e disse-lhe o que mais me assombrava:
-Eu tenho medo de que as outras crianças não gostem de mim e de que eu fique sozinha.
Ele apenas sorriu e disse:
-Minha querida Maia, isso era impossível. Toda a gente te adora. É impossível não gostar de ti. E não te preocupes, tu nunca ficarás sozinha. Eu vou estar sempre contigo.
Sorri com o seu comentário.
-Eu adoro-te pai.
Disse abraçando-o.
-Eu também te adoro minha abelha."
Sorrio com a memória. Naquela manhã, eu estava muito assustada pela opinião que as outras crianças teriam de mim e hoje, eu vejo de que isso não é importante.
O que foi realmente importante naquele momento foi o facto de o meu pai estar lá para me ajudar e para me fazer sentir melhor com a simples frase: "Eu adoro-te minha abelha".
Ele chamava-me "abelha" por causa do meu nome. Creio que o fascínio dos meus pais pelos desenhos animados foi a principal razão para a escolha deste nome. E sinceramente eu não me importo pois eu adoro a "Abelha Maia"!
O pensamento de que nunca mais vou ouvir aquela alcunha da sua boca faz-me sofrer ainda mais.
Eu não acredito que ele me deixou aqui. Eu pensava que ele iria estar sempre presente quando eu precisasse de ajuda ou me sentisse mal. No entanto aqui estou eu, sozinha no escuro e no chão do meu quarto.
Enquanto me lembrava de todos os momentos ao seu lado, o meu choro silencioso continuava.
Eu sabia de que eu não tinha a culpa da sua ida.
No entanto, eu culpava uma pessoa. Eu culpava a minha mãe pelo facto de ela o obrigar a dormir no sofá da sala, por gritar com ele e por o chatear tanto ao ponto de ele deixar de forma definitiva as nossas vidas.
Sim. Neste momento, eu odeio a minha mãe. Não acredito que estou a dizer isto mas é a verdade. Ela fez com que o meu pai se fosse embora e mentiu-me, criando falsas esperanças.
Ao pensar nisto, senti raiva. Parecia que todos estes últimos anos de pequenas alegrias em família tinham passado a correr. Parecia até que tudo tinha sido uma fantasia minha. Uma fantasia maravilhosa poderia eu dizer! Mas tudo foi em vão. O tempo passa e mesmo que eu queira regressar para ao colo dos meus pais, eu sei de que nunca o poderei voltar a fazer.
Eu sei de que nunca mais vou voltar a ter a minha família junta. Eu só queria saber o porquê de isto estar a acontecer! Queria saber o porquê de isto ser assim.
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A Rapariga De Negro
General FictionAo longo da vida, Maia percebe de que nem tudo é como ela quer. E de que às vezes, as circunstâncias da vida tira-nos as pessoas de quem nós mais gostamos.