O FILHO PERDIDO

27 5 2
                                    


No oriente distante, dois jovens cresciam.

Ao lado do pai, trabalhavam e serviam.

O genitor amoroso, justo e dedicado

Dirigia a família no seio unificado.


Mas, a juventude, impetuosa e aventureira,

Seduzindo o mais moço soprou-lhe um gracejo:

- Vem viver no mundo, além dessa fronteira.

Que é a vida, se perdendo tanto ensejo?


O senhor suportou a dispensa entristecida.

Da herdade, sobrou-lhe apenas a metade.

Do coração, a saudade pranteava compungida.


O mais moço tomou a liberdade por nova companheira

E sozinho consumiu o produto da comunhão.

Na nova terra, dissoluto, em distração rotineira

Sem perceber, desfez em si o valor da união.


Foi então que a privação sobreveio

E sua alegria parou de sorrir.

A liberdade perdeu o tom interesseiro

Ensinado pela fome, entendeu o que é servir.


Oferecendo os braços fortes, encontrou a caridade

Nos animais, por mão amiga, a por de lado a leviandade.

Nos suínos a família, na alfarroba o vexame.

Pôs-se, então, a pensar...

Na carência, em sincero exame

Começou a se transformar.


Reviu no lar, no país de suas lembranças,

Servidores valiosos, pai, irmão

Corações carregados de bonanças.


Caindo em si, o moço esperançoso

Alvitrou no sobrenome,

Animado e pressuroso,

Solução pra sua fome.


Reconhecidamente, em erro, superando inibições

Volveu para a casa paterna.

Desejava unicamente uma vida subalterna

Como escravo de sua própria desdita.


Na simples fazenda, o tempo correu célere.

A rotina quase monótona

Foi quebrada por uma visão do céu.

Que a emoção, em lágrimas, turvava como um véu.


Fitando o filho perdido

O nobre ancião abraçou-se a sua criança.

Coração bondoso,

Enternecido e saudoso

Fez-se apenas amor concedido

Mostrando a verdadeira herança.


Recompondo-se da inesperada recepção

O mais moço disse humilde e respeitoso:

- Serei aqui o filho inditoso.

Desonrei o céu ao fugir de ti

Fui ingrato a Deus, mas ainda quero te servir.


Mas o genitor, sem nada considerar

Impediu o menino de se ajoelhar.


Recebeu-o em igualdade de sentimento

Desfazendo ensombrado pensamento.

Pôs-lhe na posição de filho querido

Celebrou a hora ao sabor de inocente cevado:

O morto voltava à vida

O perdido havia sido encontrado.


O mais velho, porém, quando da festa se aproximou

Instou um dos servos sobre o que era aquilo:

- É seu pai feliz, porque hoje se completou.

E o coração inquieto, agora bate tranquilo.


O primogênito, por ciúme, indignou-se.

Queria a consideração diária e o louvor

Em troca do esforço devotado ao seu pai e senhor.


Mas, o homem, sábio e inteligente,

Confortou seu companheiro:

- Meu filho, este campo e os frutos também são teus.

Afasta a mágoa, não alimente

Em ti, senão o amor que vem de Deus...

A Poesia e o EvangelhoWhere stories live. Discover now