Desenho.

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Senti o mesmo chão, mas ele estava mais molhado e eu sentia gotas caindo sobre mim. Estava ainda mais frio. Olhei para os lados, não vendo nada além de escuridão. Dessa vez eu não via nem as árvores. Se é que eu estava numa floresta. Um trovão caiu, fazendo com que eu levasse um susto.

— SOCORRO! — gritei, me encolhendo de frio.

— Shii, você tá maluca? — a mesma voz da noite passada disse, só que estava mais distorcida, seca. E ele estava lá de novo. Senti seu dedo na minha boca para que eu ficasse quieta. Quem era ele?

— Quem é você? — eu disse, baixo, murmurando — Por que eu to aqui? Você quer me matar? — estremeci de frio.

— Você está com frio, Kate? — e então, vi seus olhos vermelhos na escuridão. Eles brilhavam tanto quanto a lua cheia na outra noite. Rastejei para trás.

— Quem é você? — eu disse assustada.

— Kate.

— Quem é você? — repeti ainda mais alto.

— Shiiiii — ele colocou de novo o dedo na minha boca.

— Seus olhos, eles estão brilhando. Meu deus! — disse assustada.

— Fique quieta — senti uma mão fria pegar em meu braço — Meu deus, você está congelando!

O ouvi rastejar para atrás de mim. Ele ia me matar? Senti seus braços, agora quentes, me envolverem

— Fica quietinha — ele sussurou. Me aninhei a ele. Eu não o conhecia, mas sentia que ele queria me proteger. Eu acho.

Acordei com o despertador tocando. Dessa vez eu não estava atrasada.

Aquela pessoa do sonho, aquele garoto, ele não era humano. Aqueles olhos vermelhos me davam medo e fazia meu coração acelerar. Era um olho animal, ou algo... Eu não sei explicar.

Não parecia um sonho. Parecia real. Como se eu tivesse passado a noite naquela floresta e acordasse na minha cama.

Sentei na cama do Shawn novamente, assim como ontem. Enquanto ele escrevia concentrado, comecei a desenhar numa página em branco aqueles olhos. Pintando de caneta vermelha a íres.

— O que é isso? — ele disse olhando pro meu desenho.

— Ah, nada — fechei o caderno rapidamente antes que ele pudesse olhar com mais detalhes. Eu não saberia explicar o sonho.

— Shawn — ele me olhou, sério — Você já teve um sonho tão real que parecia que realmente tinha acontecido?

— Sim — ele disse olhando para a tela.

Eu só queria conversar. Poder explanar para alguém o que eu sentia. Eu até tinha alguém, Gwen, mas algo me dizia que eu não devia confiar nela. Algo lá no meu coração dizia isso.

— Por que teu tio te chamou de Peter? — perguntei curiosa, mesmo sabendo que eu não teria resposta.

— Por que você é tão metida? — ele me encarou nos olhos. Aqueles olhos... Ele rapidamente desviou, não me olhando por muito tempo.

— Por que você é tão chato?

— Por que você é tão, mas tão insuportável?

— Por que você é tão bonito? — Shawn me olhou sério. Meu deus. Eu não disse isso. Eu não disse isso.

— O quê? — franziu a testa.

— Nada. Como tá o trabalho? — perguntei, mudando de assunto.

— Última linha.

— Que bom! — fui até ele e sentei ao seu lado. Então ele colocou um ponto final. E me entregou o notebook. Nossas pernas se encostaram. Senti que ele ficou incomodado e então se levantou, pegando o material e guardando na mochila. Comecei a ler. Estava perfeito.

— Passei a noite lendo sobre, mas não quis botar muito detalhe para ele não achar que eu estava copiando de algum lugar.

Assim que terminei fiquei impressionada. Espero que tiremos um A+, preciso dessa nota.

— Está perfeito, Shawn — sorri. Colocando o notebook de lado.

— Obrigado. Imprimo e levo amanhã, ok?

— Se não for incomodo — comecei a guardar as coisas dentro da bolsa.

— Posso ver? — ele disse, se referindo ao caderno de desenhos que eu sempre carregava comigo.

— Claro — o entreguei o caderno, com vergonha. Eu não sabia recusar. Ele começou a folhear — São apenas rabiscos.

— Você desenha bem — era a primeira vez que o Shawn me elogiava — O que é isso? — ele virou o caderno, mostrando uma floresta. A mesma do sonho.

— Sonho.

— Entendi — ele me entregou novamente — Acho melhor você ir.

Naquela noite, ao deitar na cama, desejei não acordar naquele lugar. Me virei horas e horas na cama, com medo de dormir.

Ao abrir os olhos, me deparei com os mesmos olhos.

— Calma, sou eu — ele me envolveu em seus braços quente. Havia parado de chover.

Com minhas mãos, passei a mão no seu rosto. Já não sentia mais medo daqueles olhos. Eles eram a única coisa que eu enxergava naquela escuridão.

— O que você está fazendo? — indagou ele enquanto minha mão passava por seu rosto, sentindo seus traços. Sua pele era macia, ele não tinha barba. Me surpreendi. Ele era como um humano.

— Sentindo seu rosto — ele sorriu, e eu soube disso pela sua respiração e pelo jeito que a expressão em seu rosto mudou. Meu toque sentiu isso — Por que você está cuidando de mim? Ou me protegendo? Eu não entendo...

— Você sabe que eu amo você — ele sorriu de novo.

— Mas eu nem te conheço.

— Conhece, Kate, claro que conhece — agora sua mão tocava as maças do meu rosto. Minha mãos foram para seus cabelos, eles eram levemente enrolados, eu acho.

— Por que seus olhos são vermelhos? — desci minha mãos pelos seus braços que me enrolavam, me mantendo aquecida.

— Para que você possa saber aonde estou.

— Mas são vermelhos...

— Um dia você descobre o por quê. Um dia.

— Por que eu não tenho medo de você?

— Por que você me ama, Kate, apenas não sabe disso ainda — de novo toquei seu rosto.

— Isso tudo é tão estranho... — murmurei. Seus braços me acolheram num forte abraço.

— Você é linda...

— Você também deve ser — sorri.

— Tenho certeza que você me acha bonito.

— Confiante. Como posso saber disso? — então ele ficou quieto. Sua mão fazia carinho no meu braço e sua pele emanava um calor muito forte.

Acordei. Dessa vez meu corpo não foi tomado por um desespero. E sim, por uma calmaria estranha.

Quem era ele? E por quê? Por que desses sonhos tão esquisitos e tão... Reais?

Lost In Dreams - Shawn Mendes - PT/BROnde histórias criam vida. Descubra agora