Flávio passou a mão enorme novamente na minha bunda, enquanto eu me preparava para vestir as roupas. Fez menção de espalmar, ao que eu a segurei antes que ele tocasse a minha nádega.
_Pele branca é ruim por isso._reclamou.
_Meu marido nos mata._sussurrei de mansinho.
Ele tombou a cabeça de lado e fez um semblante contrariado.
Tinha a pegada forte, mas já aprendera onde pegar para não deixar marcas, mas às vezes se distraía.
Tentei pegar a minha calcinha, que fora parar debaixo da cama, mas ele foi mais rápido, a pegou e cheirou novamente.
Fiz um gesto de "me devolve logo" e ele foi obediente.
_Não acho justo deixar você levar a minha cueca e não poder levar a sua calcinha, anjo.
_Calcinhas desse tipo custam caro, você nem imagina!
Peguei a cueca dele...branca, como eu exigira...vesti nele novamente, ajeitei com força moldando o pau, bolas e uma puxadinha mais forte e ousada para quase fazer a parte de trás sumir entre as nádegas.
_Assim vai virar impressão digital do meu rabo, sua louca._reclamou.
Retirei a cueca novamente, a título de não perder o restinho de porra ou o cheiro de macho dele.
O garanhão sorriu se sentindo valorizado.
Ajeitei as minhas roupas em frente ao espelho, enquanto ele me assistia ainda largado na cama, satisfeito com sua amante fogosa.
_Você acabou comigo._disse, como sabia que ele gostava de ouvir.
_Você também não me deixou nada, sua danada. Se a minha esposa quiser cumprir a obrigação hoje, estarei em apuros, pode acreditar.
Ri pelo espelho e lhe mandei um último beijinho.
_Espere uns quinze minutos antes de sair. É melhor se prevenir._avisei.
Desci no elevador agradecendo a Deus por estar sozinha.
O cheiro dele me provocava náuseas, o gosto dele me dava enjoo e meus seios, o meu sexo e o meu ânus ainda doíam das mãos dele, da boca e do sexo que entrara duro e exigente, quase arrebentando a camisinha.
Que nojo daquele cheiro de macho em mim!
Eu fizera a minha parte.
Esperava que Bernardo tivesse feito a dele.
O táxi cruzou a cidade naquela noite quente e úmida.
Sentimentos antagônicos me invadiam: o alívio de me afastar do Flávio e o desejo de me encontrar com Bernardo.
Respondi o cumprimento do porteiro de plantão imaginando se ele me trataria tão bem se soubesse o que eu acabara de fazer.
Entrei no nosso apartamento contrariada: Bernardo ainda não havia voltado.
Fui direto para o banheiro. Queria retirar o cheiro daquele homem do meu corpo e da minha memória.
Havia colocado Adele para tocar baixinho e me sentara ainda vestida só com o meu roupão, quando ouvi a chave girar na porta.
Não interrompi a sua marcha decidida até o banheiro, pois ele parecia ter pressa de se lavar também.
Nitidamente, estava mais contrariado do que eu. Ouvi ele abrir a água até o fim, num jorro forte parecendo uma cachoeira e imaginei que demoraria a se lavar.
Preparei algo para nós dois bebermos, afinal, estávamos casados há seis anos e já nos conhecíamos bem.
Ele sabia que o quê eu fizera fora difícil...eu sabia que o quê ele fizera fora difícil.
_Sua amiga hoje estava insaciável._ele foi logo avisando enquanto pegava o copo que eu lhe oferecia.
_Seu amigo não estava diferente._retruquei.
Nos sentamos um de frente o outro no sofá da sala.
Eu alta, linda...ele alto, lindo...por que não podíamos ter quem desejávamos?
Adele ainda cantava baixinho ao fundo.
Entreguei para ele a pequena embalagem. Ele se adiantou e a pegou.
Abriu, pegou a cueca branca e levou ao nariz, aspirando longa e profundamente.
_Menina boazinha..._disse sorrindo pra mim com o olhar cúmplice.
Ele estendeu-me também o meu presente.
_Garotinho esperto..._retribui no mesmo tom.
A calcinha era rosa e trazia o cheiro da minha amiga de infância, Helena, supostamente fiel e honesta, que nunca imaginara a paixão que eu nutria por ela, excedendo toda e qualquer amizade juvenil.
A situação de Bernardo não era diferente: apaixonara-se pelo amigo de serviço, casado e com um filho.
Ele continuava a cheirar a cueca do amigo Flávio, revirando os olhos.
Não me importei quando ele me viu imitando o seu ato.
Às vezes me pegava imaginando se os casais convencionais poderiam alegar que tinham uma relação mais honesta e sólida do que a nossa.
Rimos cúmplices um para o outro.
Enquanto eu comprara a calcinha para ele levar de presente para ela, alguns dias atrás, ele me mandara presentear o meu suposto amante com um perfume que ele adorava e que eu pedia para ele usar hoje.
Ficamos por um longo tempo na sala apreciando os nossos presentes.
No fundo, tínhamos a relação perfeita: ambos já sabíamos que éramos homossexuais antes de nos casarmos e ambos nos aceitávamos naquela condição de pessoas obrigadas pela sociedade, família, empregos e religião a passarmos a visão de um casamento apaixonado, tradicional e sólido.
Se o nosso segredo fosse revelado, ambos teríamos muito a perder: ele, o futuro posto de dono na empresa em que trabalhava, que era do pai. Eu perderia o respeito dos meus alunos numa universidade católica e ainda o amor dos meus pais e irmãos conservadores.
Eu não queria perder o emprego e a família...ele não queria perder o futuro promissor.
O fato de perdermos Flávio e Helena, nossos melhores amigos, também pesava muito.
Num mundo que nos obrigava a seguir regras que não nos satisfaziam, não nos considerávamos prisioneiros um do outro dentro daquelas quatro paredes.
Ali nos despíamos de toda falsidade externa, de todo medo da homofobia, dos preconceitos e discriminação por poucas horas do dia. Ali podíamos inverter os papéis de macho e de fêmea sem medo de acusações.
Tudo funcionava bem ali dentro: ele me trazia a presença impossível da outra...eu lhe trazia a presença também impossível do outro.
Helena parecia que nunca se despiria perto de mim a fim de que eu não precisasse tê-la apenas em uma calcinha.
Flávio também dava indícios de que, caso algum dia se livrasse do matrimônio, procuraria alguém do sexo oposto e não daria uma chance ao amigo.
_Descreva com detalhes como ela se comportou com você hoje, meu querido._pedi ao meu marido que teria tanto a perder, se assumindo publicamente.
Ele afagou o fundo da cueca que segurava languidamente com a pontinha da língua, pois sabia que deveria apreciar a umidade com cautela para que durasse mais.
_Não antes de me descrever o que aquele urso lindo fez com você hoje, minha cara. Ah! Restrinja seu relato apenas às manobras anais que ele lhe fez, claro.
Eu ri com amargura imaginando se ele estaria tão traumatizado com seios e vaginas, quanto eu estava com pênis e bolas.
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O CHAMADO DO ARCO-ÍRIS-Contos eróticos para gays e lésbicas-Armando Scoth Lee
Short StoryA gente até que tenta se adequar aos padrões vigentes para não criar atritos dentro da família...a gente tenta se apaixonar por alguém do sexo oposto e até constituir uma família tradicional com papai, mamãe e filhos...a gente tenta não chocar os re...