Capítulo 6-NO BANHEIRO DA ESCOLA

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Às vezes me pego ainda hoje, aos 36 anos, ao lado do meu marido, me lembrando das circunstâncias que me levaram a me encontrar no banheiro da minha escola. 

Diante de lembranças dolorosas de tudo o que passei, antes de me encontrar, chego a agradecer a Deus por ter colocado um anjo libertador na minha vida bem naquele dia 17 de abril de 2000...a data que eu considero a verdadeira data do meu nascimento.

Naquela época, eu e minha família morávamos num interior bravo e não tínhamos acesso à internet, sinal de celular, TV paga e, como a comunidade era pequena, havia apenas uma escola na região que atendia a todos os alunos.

Devido a isso, logo cedo,  já perceberam que o meu apelido de Zezinho (José Carlos) não combinava mais com o tamanho do meu pênis.

Minha mãe até que tentou esconder, me aconselhando a ser discreto, porque eu estava virando homenzinho e não deveria expor minhas partes íntimas na frente dos outros. Mas eu achava que era apenas mais um conselho de mãe, como outros tantos, como sempre escovar os dentes depois das refeições ou lavar as mãos antes de comer.

Mas, apesar de eu realmente me esforçar para seguir mais aquele conselho de minha mãe (eu era um garoto tímido e comportado, acreditem), não teve jeito: estava louco para fazer xixi e negligenciei a presença de outros dois colegas ali dentro.

_Ei! Gente! Olhem isso! O Zezinho já tem piroca de homem feito! Olhem que tamanho!_denunciou Amaro gritando.

Eu juro que nunca entendi como, da noite para o dia, eu virei o Zezão e, como todos tínhamos de 10 a 13 anos, o apelido logo pegou, o que me levou a ficar mais arredio e começar a reparar mais nos pênis de meus colegas, para ver a que se devia tamanha discriminação.

Logo me vi em maus lençóis quando chegou aos ouvidos dos meus pais que eu mudara de apelido. Logo depois,  contaram para as minhas tias, que blasfemaram tão alto que as minhas primas ouviram, a ponto de passarem por mim como se eu tivesse uma doença contagiosa e sussurrarem assustadas e ao mesmo tempo inojadas:

_Credo! Até parece pau de cavalo!

Naquele momento eu já percebia que nunca conseguiria me mostrar para alguma garota.

Minha alma encolheu mais um pouco e minha mãe, seguida do meu pai, tias, primas me olharam como se eu tivesse nascido com o sinal de Caim na testa: um proscrito que viera ao mundo amaldiçoar o restante da família.

O bullying na escola me levou, um ano depois de descoberto o meu "defeito", a me rebelar contra a escola, contra os meus colegas e, mesmo debaixo de surras dos meus pais, abandonei os estudos sem concluir o ensino fundamental.

Pra mim, era como se, de repente, meu pênis tivesse resolvido se rebelar e fazer justamente o contrário do que eu queria e começou a crescer e a engrossar cada vez mais.

Aos 20 anos, ali naquele fim de mundo, eu ainda era virgem, andava separado dos outros, sob a alcunha de um verdadeiro jumento, um aleijão, uma aberração da natureza!

Me proibi de ter sonhos com as meninas (minha tia, escandalosa e beata, me flagrara urinando no banheiro e não poupou gritar horrorizada: "Sagrado Coração de Jesus! Se for pegar alguma menina, vai arrebentar ela toda!")e já me considerava um cara assexuado para o resto da vida.

Porém, como chegasse uma fábrica de biscoitos para a cidade e como a situação financeira de minha família fosse de mal a pior, com a morte do meu pai (uma cobra picara o velho e ele já chegara morto ao hospital), não teve jeito: o dono disse que poderia me dar um cargo lá, mas eu teria que ter feito o ensino médio completo. Felizmente,  como viu que eu estava muito necessitado e não houvesse outro candidato à vaga, decidiu fazer um acordo comigo: eu voltaria a estudar (ele prometeu vigiar a minha assiduidade) e eu iria ficando na vaga.

O CHAMADO DO ARCO-ÍRIS-Contos eróticos para gays e lésbicas-Armando Scoth LeeOnde histórias criam vida. Descubra agora