Capítulo 3

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No dia seguinte à chegada do Conselheiro, a vida de Ana já tinha voltado à monotonia de sempre. Um pouco antes do almoço, no entanto, veio uma novidade: em vez de passarem o dia todo vendo e discutindo as teleaulas, a turma sairia à tarde para uma visita.

O assunto em si não era nem um pouco interessante: eles desceriam dezenas de andares até a base do Complexo e conheceriam as instalações onde era processado o extrato da Vitória-régia azul. Nada daquilo era novidade para Ana, e nem deveria ser para os outros alunos se eles não passassem a maior parte do tempo jogando entre si durante as aulas. Na verdade, o que a animava era a possibilidade de explorar novos ambientes, áreas em que ela nunca poderia circular sem autorização.

Não fazia tanto tempo que ela e o pai tinham se mudado para aquele Complexo, mas às vezes ela sentia como se já conhecesse as áreas comuns como a palma de sua mão. Chegava a ter inveja do menino novo, Jonas, para quem tudo ainda era novidade. Dentro de alguns meses ele se sentiria tão engaiolado quanto ela.

Naquele dia os meninos tinham tirado o dia para atazanar o novo aluno, e ela estava estranhando o fato de não ter Diogo fazendo piadinhas sobre ela a cada meia hora.

Depois de almoçar, a turma seguiu o instrutor até o saguão de elevadores, onde esperaram um que tivesse espaço suficiente para todos. Alguns minutos depois, os vinte alunos começaram a descida para a base da torre a uma velocidade vertiginosa.

Lotado, o elevador desceu sem fazer paradas. Ana sentiu um frio na barriga quando começaram a desacelerar, e ficou ainda mais excitada depois que a porta se abriu.

Percorreram um corredor largo e movimentado, passando por uma multidão de pessoas usando jalecos brancos que nem os notaram.

O instrutor já tinha desistido de fazer Diogo e os outros pararem de implicar com Jonas, e agora se preocupava apenas em evitar que todos se dispersassem. Ana era uma das que ia à frente, junto com o instrutor e com Filipe.

O corredor era ladeado por painéis de vidro que deixavam visíveis os laboratórios do outro lado. Em alguns deles havia várias pessoas concentradas em seus microscópios ou nos gráficos dos computadores, e em outros havia apenas um funcionário solitário fazendo apontamentos enquanto milhares de pílulas passavam por esteiras.

A turma finalmente chegou a uma sala de recepção, e o instrutor informou que um funcionário do laboratório viria guiá-los. Ele também pediu que se comportassem, mas ninguém permaneceu sentado depois que a recepcionista disse que havia suco e biscoitos à vontade.

Ana foi a única que não foi para cima da comida, e Filipe logo foi se sentar com ela depois de lhe trazer um copo de suco. Os dois ficaram por um tempo observando a bagunça em silêncio.

Além deles, o único aluno quieto era Jonas, que comia longe dos outros. Estava em pé, perto de uma das pontas da mesa, aproveitando aquele momento de sossego. Os outros meninos certamente se lembrariam dele quando acabasse a comida.

No meio da confusão, uma jarra de suco foi ao chão, e todos se afastaram da mesa. Não havia nem sinal do instrutor, mas a recepcionista disse que não havia problema e que logo alguém da limpeza apareceria. Antes disso, no entanto, Diogo disse em voz alta para que todos ouvissem:

– Não precisa chamar ninguém. O Jonas aqui vai dar um jeito, não é, Jonas? Quem disse que não valia a pena trazer um dos ajustados com a gente?

Os outros garotos morreram de rir, e Ana ficou irritada ao ver que Filipe precisou se segurar.

– Será que seu primo conseguiria ser mais idiota se quisesse?

– É só uma brincadeira – ele tentou disfarçar. – Pode ver que o cara novo nem ligou.

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⏰ Last updated: Mar 15, 2018 ⏰

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