Sete anos atrás
As pessoas sussurravam ao redor dela. A olhavam. Faziam cara de dó. Fingiam dor. Fingiam sentimentos que ela sabia não serem reais. Tudo o que ela queria era gritar e mandar todos embora. Eles não tinham que estar ali. Não, eles tinham que estar lá. O resto era resto. Ninguém era mais importante. O bolo estava esquecido na geladeira, as velas ainda espetadas e que nunca seriam acesas. Ela havia sentido vontade de vomitar naquela manhã quando o vira ali na prateleira. As lembranças a atingindo como um soco no estômago, e ela já estava mais do que acostumada a sentir esses, mas nunca daquela forma.
A vontade de vomitar estava ali ainda, mas agora tinha o acréscimo do cheiro das inúmeras tigelas de comida que haviam trazido para ela. Em momentos como aquele, ela tinha a vontade de ser mais engajada em causas sociais, muitas pessoas certamente ficariam bem felizes de receber aquela comida toda.
Para seu alívio, uma face familiar e que realmente importava surgiu e ela suspirou, se levantando da cadeira em que estava acomodada desde que tudo começou e se aproximou da pessoa, que olhava cada canto da sala, provavelmente a procura dela, já que pareceu mais aliviada ao vê-la chegando.
- Hill – cumprimentou, sorrindo fracamente para a mulher.
- Dixon – a morena devolveu, gastando cinco segundos para fazer uma expressão que dizia o quanto ela sentia pela perda da mulher a sua frente.
- Algum contato para distribuir toda essa comida?
- Posso conseguir alguns – disse Hill, analisando a pilha enorme de tigelas que a moça havia recebido. – De onde surgiu tanta gente?
- Não faço ideia, mas a maioria parece conhecer os dois. – A mulher deu de ombros. – Além da comida... Eu preciso de outro favor.
- Eu vim prestar meus respeitos, não te servir – a morena disse, fazendo a outra sorrir com mais sinceridade.
- Eu também te amo, Maria – disse a moça. – Mas dê um jeito de mandar essas pessoas embora, por favor. Eu não quero ficar aqui por mais cinco segundos.
- Dessa vez é de graça – disse Maria, tentando fingir uma seriedade que não enganava a outra. – Vai, eu cuido daqui.
- Muito obrigada.
A mulher sorriu, abraçando rapidamente a outra, e então saiu calmamente do local, pegando sua bolsa e casaco, além da chave do carro que costumava ser de seu pai. Era fim de tarde, o sol começava a abaixar no céu, dando ao azul intenso uma cor alaranjada. Havia algumas nuvens aqui e ali, além da brisa fria que soprava e fez com que ela se encolhesse contra o casaco que havia acabado de vestir. Antes de entrar no carro, parado na entrada de carros da casa, ela parou e encarou o que antes costumava chamar de lar. Um aperto surgiu em sua garganta e seus olhos arderam levemente, fazendo-a respirar fundo. Não cederia agora. Não ali. Rapidamente, ela entrou no carro e saiu, dirigindo pelas horas seguintes sem parar até chegar ao seu destino.
A casa acesa lhe deu uma sensação de volta ao lar. Fazia alguns meses que não pisava ali. O gramado ao redor e a floresta que contornava o terreno lhe dava a sensação de proteção que ela estava buscando quando saiu horas antes. Ao sair do carro, o céu estrelado e limpo a cumprimentou, junto com a brisa fria que ela recebeu de braços abertos, finalmente sentindo que agora estava liberada para sentir tudo o que vinha suprimindo até então. As lágrimas rolaram livremente antes que ela percebesse, encostada contra a lateral do carro, afundando o rosto nas mãos e se permitindo colocar para fora antes mesmo que chegasse à porta da casa.
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Cap's Psychologist
ActionComo qualquer cara que viveu durante a guerra e ficou congelado por 70 anos, Steve Rogers tem seus demônios e precisa enfrentá-los, para isso ele recorre a psicólogos e terapeutas. Mas como lidar quando sua psicóloga também tem seus demônios para en...