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  Você já ouviu falar em Transtorno Dissociativo de Identidade? Ou talvez o termo "dupla personalidade" seja mais comum em sua mente. Bem, se você jogar isso na Wikipédia aparecerá:
  
  "É uma condição mental em que um único indivíduo demonstra características de duas ou mais personalidades ou identidades distintas, cada uma com sua maneira de perceber e interagir com o meio."
  
  Entretanto, isso é apenas baboseira não é? Errado.

Eu me chamo Elisa Ridley e irei contar a história de como eu fui assassinada.

|2 anos atrás|

   Você já sentiu uma necessidade grande de mandar todo mundo ir se foder e atirar em cada um? Eu sinto isso a cada vez que respiro. 
Eu nunca matei ninguém, fico imaginando como seria divertido ouvir os gritos de socorro implorando por vida enquanto eu arrancava seus membros internos e isso me causa uma enorme nostalgia.

  Eu odeio cada um que se move perto de mim, que encosta em mim, que se dirige a mim e as vezes até mesmo me toca. Gosto de ficar longe de tudo e isso não é ruim, pelo contrário. Ficar sozinha me ajuda a observar cada movimento de qualquer pessoa que eu queira sem que eles percebam. A sr. Luther por exemplo, todas as terças ela vai a lavanderia e as sextas ela lava o cabelo com shampoo de coco. Como eu sei disso? Porque eu já a vi tomando banho diversas vezes. Por que espiono minha vizinha tomando banho? Eu não sei, faço isso com todos.

    Ficar distante também ajuda a pensar, pensar em como os seres humanos são ridículos e desgraçados, o Jason Tuff que mora do outro lado da rua é um exemplo disso, ele diz amar a esposa que simplesmente o venera e o trata como um rei mas sempre que ela vira as costas ele transa com a babá dos filhos. Eu posso afirmar que ele faz isso, eu vi, eu o filmei, eu posso fazer a vida dele virar um inferno a qualquer momento mas eu não quero. Prefiro acabar com alguém diretamente, cortando a garganta com uma faca por exemplo.

- Você vai se atrasar para o trabalho. - Minha mãe falou aparecendo na porta do meu quarto.

   Sim, eu tenho 23 anos e moro com meus pais, com apenas minha mãe na verdade. Não faço a mínima de quem seja meu pai, minha mãe era uma prostituta na adolescência e não se importava muito em se prevenir. Na minha casa também vive o namorado dela, Steve, apenas mais um babaca que ela desfruta do que ele pode dar.

- Já estou pronta.

  Me observo no espelho. Meu cabelo estava mais longo do que eu gostaria, provavelmente corta-lo seria a primeira coisa que eu iria fazer depois de matar alguém, porque eu iria fazer isso. Fui até a sala e me deparei com Steve bebendo cerveja em plena 7hrs da manhã, ele seria um alvo fácil para um assassinato.

- Estou indo, até mais! - Grito para minha mãe que está na cozinha.

- Tenha um bom trabalho querida!

   Bom trabalho, era irônico ouvir isso. Ela não quer que eu tenha um bom trabalho, o que interessa a ela é apenas o dinheiro que recebo por servir comidas e bebidas para moribundos todos os dias. Estava frio na rua, os pássaros cantavam alegremente, malditos animais. Ir a pé era desconcertante, não pela distância, o trabalho não fica longe da minha casa, era por ter que acenar e sorrir para todos que eu encontrava na rua fingindo que me importava como eles estavam se sentindo. Eu compraria uma moto, caso não tivesse gastado todas as minhas economias com uma arma que consegui no mercado negro.

- Elisa! - Ted, o dono da lanchonete, gritou assim que passei pela porta.

- Ei Ted, como está? - Eu não ligava para como ele estava. - Teve uma boa noite? - Isso também não me interessava.

- Estou muito bem e a noite foi uma loucura, muitas mulheres, bebidas e tudo que se pode ter direito em um fim de semana. - Respondeu alegremente.

  Ted era um imbecil, um grande e gordo imbecil. Se eu contasse toda a as vezes que quis socar a cara dele o número já estaria passando de 1 bilhão. Enfiar uma faca em sua barriga seria incrivelmente adorável, mas teria que ser uma faca grande e afiada para conseguir ultrapassar toda a gordura acumulada.

- Vou ir vestir meu uniforme, com licença. - Sorri. Eu costumava fazer isso, com muita frequência inclusive. Mas era como se não fosse eu.

  Caminhei para o banheiro fedido e mal cuidado do estabelecimento e tratei de jogar minhas roupas para o lado logo. Eu estava magra, incrivelmente magra, não estava saudável. Quem liga para saúde quando se tem um plano de assassinato para ser planejado? Tudo tinha que ocorrer perfeitamente e nada poderia me atrapalhar.

  Vesti o uniforme mal desenhado e abri a porta com cuidado, algo estava errado. Estava silencioso demais e aquele lugar nunca ficava quieto. Ted guardava uma arma dentro de uma lata, andei até lá e a peguei. O idiota a guardava com balas, sua estupidez seria útil dessa vez.

- Por favor, não faça nada comigo. - Escutei a voz de Ted.

  Andei até a porta que dava na parte sociável da lanchonete e apontei a arma para a porta. Tinha alguém ali, eu não sentia medo. Rodei a maçaneta lentamente e ao abrir a porta avistei um homem apontando uma arma para Ted. Ao me ver a mira da arma mudou e agora ela estava em minha direção.

- Ridley sua idiota, saia daqui! - Ted gritou.

- Por que eu faria isso? - Perguntei encarando o homem com capuz.

- Se eu você você seguiria o conselho de seu amigo, angel.

- Você não me dá medo. Não faço idéia de quem seja.

- Eu sou o fogo, querida, e vou transformar tudo isso em um inferno.

- Você é o fogo? - Dei uma risada.

  Há momentos na vida que parecem ser feitos como um treinamento e naquele exato momento eu estava sendo testada, para o quê exatamente eu não sabia, mas tinha certeza de que não iria fazer o errado. 

- Sinto-lhe dizer, mas se você é o fogo... eu sou o diabo.

  E então eu puxei o gatilho e achei ter visto a bala rolando em câmera lenta, incrivelmente devagar em direção a cabeça do gordo que estava chorando.  E quando a bala voltou a sua velocidade normal, ela já se chocava na testa do moribundo cachaceiro.

Ted estava morto.

- Bem vindo ao verdadeiro inferno, querido.

Me Chame De HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora