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- Que merda você fez?!

   Covarde. Era isso que o bandido com a arma apontada para mim era. As mãos do idiota estavam tremendo e se eu pudesse ver o seu rosto tenho certeza que o desespero estaria estampado lá.

- Qual a razão de tamanho desespero? Fui eu quem apertei o gatilho.

   Observei o corpo do Ted estirado no chão. O sangue já tomava parte do chão da lanchonete e seus olhos estavam arregalados, maldito, não me pagou o salário do último mês.

- Mas que porra você é? Não está nem um pouco arrependida pelo que fez? - O homem perguntou em um tom acusatório.

- Claro que estou. Não está vendo o meu olhar de desespero e arrependimento? - Respondi com um sorriso.

- A polícia vai achar que fui eu que fiz isso, tenho que dar o fora aqui. - O criminoso se virou para a porta de saída apressadamente.

- Aonde pensa que vai? - Perguntei apontando a arma para suas costas. - Acho que você ainda não entendeu as coisas como são.

  Eu poderia dizer que aquele tinha sido o melhor momento da minha vida mas eu estaria mentindo, até porque nunca tive um momento que eu pudesse denominar como feliz. O que é a felicidade? Ainda não consegui descobrir.

- Vou te explicar para que você não se perca. Mas antes, vire-se e tire o capuz. - O homem se virou lentamente e arrancou o capuz deixando os fios loiros, que batiam no ombro, a mostra.

- Se não percebeu, eu também estou armado.

- A diferença é que você não tem coragem de atirar em mim, já eu... bem, acho que já deu para perceber do que sou capaz. - Destravei a arma e o homem jogou a dele no chão. Eu não havia pedido para ele fazer isso. Covarde ao quadrado.

   Quando eu era criança eu tinha bonecas. As vezes eu gostava de brincar com elas mas havia momentos em que eu arrancava as suas cabeças e cortava seus braços e pernas a fora. Eu cresci assim, fazendo coisas opostas, mudando minhas opiniões constantemente, tendo diversas formas de pensar e agir. Sempre me imaginei com dois subconscientes, e um deles estava em uma bolha. Mas bolhas são frágeis e não duram para sempre e, nesse momento, a minha bolha havia acabado de estourar.

- Eu vejo em seu rosto que você é apenas mais um bandidinho de merda que assalta estabelecimentos de babacas mas dessa vez você não vai levar apenas grana para casa.

- O que quer dizer com isso? - Me perguntou com sua voz rouca.

- Que eu vou com você, querido, e se não quiser ficar com uma bala na cabeça é melhor seguir o que eu digo.

- Você está louca?!

- Eu acabei de atirar na cabeça do meu chefe, me defina como quiser. Agora vamos, esse cheiro de sangue está me causando enjoos.

O rapaz me olhou como se eu fosse a pessoa mais nojenta do mundo. Não entendi muito bem, era ele quem tirava das pessoas o que elas tinham dado duro para conseguir, não eu. A única coisa que fiz foi acabar com a vida de um idiota, estou poupando o mundo de ter que conviver com ele.

- Você só pode estar de brincadeira. - O homem deixou o seu sorriso alinhando a mostra mas assim que percebeu que eu não compartilhava de tal ato, fechou a cara e me encarou.

- Alguém deve ter escutado o barulho do disparo e chamado a polícia, é melhor darmos no pé logo antes que seja tarde. - Chutei a arma que estava no chão para longe e me aproximei dele que, por sua vez, deu um passo para trás.

- Eu não pretendo te levar para lugar algum, e se você  quiser enfiar uma bala em minha cabeça é melhor que faça logo.

  Naquele momento eu percebi que não estava completamente certa. Ele não era tão covarde quanto imaginei, mas isso não o fazia menos idiota. Ele estava apenas me testando, afinal de contas poderia ser que eu estivesse blefando não é? Errado.

- Eu sou uma fodida desgraçada que faz coisas que nunca, nunca mesmo, deveria fazer. E para fazer essas coisas eu penso muito antes, penso se meus atos vão me beneficiar ou não mas as vezes apenas alguns segundos bastam para que eu saiba o que é errado ou não. E sabe de uma coisa? Matar você agora seria muito errado pois necessito de você vivo mesmo sem saber quem você é, então é melhor colaborar comigo, dar meia volta e me levar até o seu maldito ninho de rato sem reclamar.

  A postura dele mudou e após me encarar por alguns segundos, abriu a porta da lanchonete e esperou que eu passasse. Escondi a arma dentro da minha calça e percebi que tinha algumas pessoas passando ali e nos olhando. Parei bruscamente e me virei para o assaltante que estava com seu capuz novamente.

- Segure no meu braço e não me solte.

Sem entender o porquê, o homem apertou meu braço com uma força desnecessária e comecei a gritar enquanto me debatia. Uma vontade louca de sorrir tomava conta de mim enquanto eu era arrastada as pressas para uma moto que estava atrás da lanchonete.

  Ele colocou um capacete e subimos na moto que foi colocada em movimento em seguida. Os pedestres não eram problema em um momento de desespero -da parte dele no caso- ou eles saíam da frente, ou eram arrastados para longe. Entramos em um bairro afastado da pequena cidade e a moto parou frente a um beco fedorento que possuía algumas casas nada agradáveis. Desci da moto e observei o local, parece que os assaltos feito pelo homem não foram o bastante para ele subir na vida.

- Entre, rápido! - Gritou após descer da moto e se dirigir para uma porta.

Ao entrar na casa o meu ponto de vista não melhorou, ao contrário, ficava cada vez pior. Seu quarto, cozinha e sala ficavam em apenas um cômodo e a bagunça era presente. Avistei uma TV e corri para liga-la e colocar no noticiário torcendo para ver o que eu queria.

"-...Acabou de ser encontrado um corpo do dono de uma pequena lanchonete no centro. Testemunhas disseram ver um homem com capuz arrastar uma mulher que vestia o uniforme do trabalho e foi identificada como Elisa Ridley. A polícia encontrou uma arma e estão mandando para a perícia  para recolher as digitais. Infelizmente o estabelecimento não possuía câmeras e agora a polícia iniciou a investigação para o assassinato de Ted Feldman e o sequestro de Elisa Ridley..."

   Sorri como uma criança quando vê doce, sorri como uma louca, sorri como nunca tinha feito antes. Dessa vez era real, não era um sorriso forçado, era totalmente voluntário. Meu plano tinha dado certo e agora eu estava livre para fazer tudo que sempre planejei. Pelo menos era o que eu achava.

  Escutei o barulho de uma arma sendo destravada e senti o cano na minha cabeça. Meu sorriso se desfez instantaneamente e o calor da pele masculina do assaltante chegou próximo do meu pescoço.

- Você não devia ter vindo aqui, querida.

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⏰ Última atualização: Mar 21, 2018 ⏰

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