2 - A barraca

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Terminei de me vestir - com muita dificuldade, aliás - não era fácil se vestir dentro de uma barraca de solteiro minúscula. Mas passou, estava vestida e isso que importava.

Abri a barraca esticando minha perna esquerda e enfiando meu pé na minha havaiana suja de barro e depois fiz o mesmo gesto com a outra. Livre estava da sauna barracática. Oi? Barracática, essa palavra era correta? Não sabia.

Sorri de mim mesma.

Lá fora se encontrava mais fresco.

Me sentei em um banco de tábua que era sustentado por três tijolos de cada lado. Isso foi ideia do Yan, até bem eficiente já que as cadeiras de plástico não acomodavam a todos.

Eu estava em um acampamento com o vizinho que morava na frente da minha casa e que era amigo do meu pai, junto com o vizinho estava sua família: esposa, filho, e o sobrinho, também o amigo chato do filho do vizinho amigo do meu pai, Pedro Victor, que o apelidei de Monte-de-ossos, bom, ele não era tão magro, mas achava engraçado chamá-lo assim. ELE ERA MUITO CHATO e ainda se achava como se fosse as botas que Judas perdeu ou o rei da cocada estragada. Nós dois não nos dávamos bem - na verdade, ainda discutimos muito, mesmo depois de tudo que passamos juntos - isso, meu amigo, era uma longa história que definitivamente não estou a fim de contar detalhadamente por agora, mais na frente você entenderá tudo que Pedro Victor e eu passamos juntos.

Há sete meses nos conhecíamos, estudávamos na mesma escola e turma do 3º ano do ensino médio. Se fosse só o fato de estudarmos juntos a única coisa que fazíamos com que estivéssemos perto um do outro, seria menos embaraçoso. Porém...
Eu e Victor estávamos mais atrelados um ao outro quanto gostaríamos.
Nos primeiros dias que se encontramos foi terrível e nem se fale com os meses que seguiram, contudo, uns acontecimentos nos uniram e meio que tínhamos uma leve linha transparente que segurava ligando um ao outro - uma leve linha, não, vários contratos e... Melhor não falar sobre isso agora.

Pode ter certeza de que os bate bocas e o tanto que eu me irritar com ele nem se comparava com alguns meses atrás.

Aprendi que o Pedro Victor era bipolar e ainda mais quando ficava perto de mim, o humor dele jaz sempre se alterando do nada, mas eu tentava lidar com isso numa "boa". Lá no fundo, pressentia que um dia calharíamos a não atirar palavras grosseiras um com o outro. Teve umas semanas que passamos sem discutir, foram dias diferentes e que eu queria excluir da minha mente. Sério. Você logo saberá, não tem como eu evitar o inevitável.

Eu não entendia presentemente como o Yan que era LEGALZINHO tinha amizade com o Monte-de-ossos.

- Achei que você tinha morrido enquanto estava na barraca.

Fiz careta ao perceber que ele estava abrindo os braços como se estivesse cogitando me abraçar. Nem que a vaca possa latir permitiria isso.

- Nem ouse! - falei exasperada.

Ele andou mais rápido, subindo para onde eu permanecia e depois começou a correr com um sorriso travesso no rosto.

Yan estava todo molhado e sujo de areia. Eu tinha acabado de tomar banho e vestir uma roupa limpinha com tanta dificuldade por ser dentro da barraca. Só de lembrar que teria que dormir nela, que era pequena e faria muito calor: iria cozinhar lá dentro naquela noite.

Havia chegado de manhãzinha no rio, para acampar (meu empresário estava puto de raiva comigo) e para melhorar tudo, papai trouxera a barraca errada para mim.

Yan estava a poucos segundos de mim.

Corri e...

Por que?

Por que tinha um imã para desastre?

Fechei meus olhos e tentei não entrar em pânico. Minhas costas ardiam e alguma coisa dentro da minha barraca estragou com o impacto do meu peso.

Imprevisivelmente - A Grande Perda (Em breve)Onde histórias criam vida. Descubra agora