Capítulo 11

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A lua brilhava alta no céu, os gatos do clã da madeira já tinham voltado para suas respectivas tocas, enquanto Balançar de penas e Ossos grandes -os dois mais novos guerreiros do clã- mantiam-se atentos enquanto vigiavam a entrada do acampamento.

Sons fracos de garrinhas raspando em madeira podiam ser ouvidos vagamente, vindo da toca dos anciãos. Era Filhote de geada...ainda acordada e disposta. A filhote atacava as paredes da toca sem dó alguma, visualizando um inimigo nas raízes enormes e fixas da árvore. -"Tome isso! E isso!!!"- Ela murmurava enquanto rasgava a raiz de forma impressionantemente eficiente. Suas garras e dentes ainda eram pequenos, mas não tanto assim. Ela e sua irmã tinham cinco luas, e assim que o sol nascesse novamente, estariam prontas para se tornarem aprendizes.

Os anciãos dormiam pesadamente em suas camas de musgo, então nem sequer notaram a filhote danificando as paredes da toca. Mesmo se notassem, não iriam ligar...aquela era uma árvore quase centenária, e por sinal, extremamente resistente. Não era como se uma filhote pudesse derrubar algo enorme como aquilo.

-"Morra!!!!"- Filhote de geada miou um pouco alto, finalizando seu combo imaginário com um forte golpe no "pescoço" de seu alvo. Ela arfou satisfeita, sacudindo a cabeça e se esticando rapidamente. Estava com fome, e sem sono algum. A filhote respirou fundo, dando alguns passos rápidos para fora da toca dos anciãos. A grama baixa que cobria toda a terra no acampamento espetava as almofadinhas de Geada de leve, à mantendo acordada com a fraca sensação de dor que sentia enquanto andava. Seus frios olhos azulados varreram todo o local, sem ver ninguém acordado ao redor. A única coisa que lhe deixava ciente de que não estava sozinha eram os roncos baixos dos gatos já adormecidos, tanto os guerreiros quanto os anciãos. -"....deve ser tarde..."- Ela olhou ao redor durante alguns segundos, desviando seu olhar para o céu, podendo ver a lua alta, pálida e pequena. -"Muito tarde..."- a gatinha falou baixo para si mesma, pensando no quê poderia fazer até pegar no sono. Como não conhecia muita coisa fora do acampamento, gastou alguns longos minutos, tentando se lembrar de quais lugares já tinha ido ou pelo menos, visto. -"A toca dos guerreiros, o berçário, toca dos curandeiros...tudo dentro do acampamento..."- Geada miou para si, abaixando as orelhas pensativa.

Ela rapidamente desviou seu olhar para os arbustos de hera que circundavam o acampamento do clã, agora, recordando de um caminho que tomou à poucos dias atrás, para ir à um lugar longe da toca dos anciãos do clã da madeira, fora até mesmo do próprio território do clã. A filhote torceu a cara, um pouco receiosa sobre a escolha que acabou de fazer. Era errado, e Estrela de Âmbar já tinha lhe dado uma lição de moral da última vez que saiu do acampamento, mas era a única coisa que não mataria Filhote de geada de tédio, e, talvez pudesse render algo para o próprio clã da madeira. -"Só mais essa vez não vai fazer mal..."- Ela pensa, se convencendo a levantar e caminhar rápida e silenciosamente até os arbustos de hera. A gatinha se abaixou devagar, rastejando para fora do acampamento com cuidado enquanto passava por entre os espinhos e galhos disfarçados pelas folhas esverdeadas nas moitas. Em pouco tempo, ela já estava correndo por entre as árvores, indo rumo ao campo das rochas negras.

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-"Pra onde estamos indo pai?"- Filhote de cinzas, uma gatinha acizentada e felpudinha perguntou ao guerreiro na sua frente, um gato robusto de pelos longos e cor de pedra, com olhos vermelhos cintilantes. -"Já te disse Cinza, indo treinar."- Lua sangrenta respondeu sem encarar a gatinha, aparentava estar com pressa demais para parar e olhar a filha nos olhos enquanto falava. -"Treinar? Agora? Não é melhor...*bocejo* fazermos isso amanhã?..."- Outro filhote disse, ao lado de Filhote de cinzas. Era Filhote de Carvão, um gatinho cor de grafite, com patas e cauda negras como o céu da meia noite. Seus pequenos olhos verde-claro quase se fechavam de sono à cada passo que o mesmo dava seguindo o guerreiro. -"Se eu digo que iremos treinar de noite, simplesmente me obedeçam e não me questionem. Sabem como esse treinamento especial é importante para seu futuro como guerreiros, e, pelo menos eu não deixarei isso de lado."- O gato cinza listrado miou, acelerando o passo à medida que falavam. 

Filhote de cinzas suspirou, cansada e sem disposição para treinar. Já faziam duas luas desde que Lua sangrenta começou à levar ela e seu irmão para sessões extras de revisão sobre ataques, defesa, e muitos, MUITOS truques para vencer uma batalha mais rápido. De início, pareceu super empolgante e divertido, mas depois da terceira sessão, Cinza já não via mais motivos para continuar aquele treinamento pesado...e, se iriam treinar, não havia necessidade de cruzarem o território do clã para praticarem. -"...pai?"- Filhote de cinzas miou baixinho. -"Hum?"- Lua sangrenta respondeu sem desviar o olhar da estrada. -"Uh...eu só estava, pensando...ahm, sobre esse treinamento...eu só não acho que"- "Que não deveriam treinar porque são filhotes?"- Lua Sangrenta lançou com hostilidade, mantendo o ritmo constante enquanto caminhava. -"Não...não exatamente...é que, só não acho que é preciso caminharmos tanto pra aprendermos alguns ataques novos"- A filhote finaliza tentando manter seu tom de voz o mais calmo o possível.

Filhote de Carvão ficou calado, esperando uma reação agressiva do pai. O guerreiro parou de andar, o quê fez o pequeno filhote macho alimentar mais ainda seu pensamento. Filhote de cinzas engoliu em seco quando Lua sangrenta se agachou na frente dela, encarando seus olhos idênticos aos dele. -"Cinza, você entende que o quê vocês estão aprendendo não poderia ser ensinado por nenhum guerreiro, vivo, entende?"- Ele perguntou forçando uma voz carismática, juntamente à um sorriso falso. -"E-entendo..."- A gatinha miou, quase caindo no chão de medo. O gato mais velho se vira novamente de costas para os filhotes, continuando à andar, um pouco mais rápido dessa vez. Filhote de Carvão e Filhote de cinzas aumentaram a velocidade para não acabarem se afastando do pai, já que estavam tão longe do acampamento.

-"Chegamos...já sabem o quê fazer, ambos de vocês"- O guerreiro freiou bruscamente, entrando em uma toca de texugo abandonada rapidamente, sendo imitado pelos dois gatinhos atrás dele, arfando cansados de tanta correria.

-"Lua! Como vai velho amigo? E os filhotes? Amanhã é cerimônia deles, fiquei sabendo, já aprenderam bastante com a gente né? Né?"- Um gato de cor branca e preta miou para Lua Sangrenta. Algo era estranho nele, sua pele era um pouco transparente, e os olhos negros com pupilas brilhantes e douradas. -"Pare de tagarelar tanto Quartzo...vim apenas por um motivo, e não é conversa."- Em seguida, o guerreiro cinza quente encarou seus filhotes, fazendo um sinal de cabeça que, aparentemente, fora um comando. Ambos os gatinhos obedeceram, caminhando pela caverna e chamando pelos nomes de mais gatos. Lua sangrenta foi para o lado oposto aos filhotes, conversando com Quartzo. 

-"Crianças! Como vão? Andaram praticando bastante?"- Uma gata esbelta de pelagem negra como carvão disse; se aproximando dos dois filhotes. Ambos estavam cansados, bocejando de minuto em minuto. -"Hã?...ah, estamos bem Garra da noite...só um pouco cansados"- Filhote de Carvão mia, quase fechando os olhos sonolento. Filhote de cinzas deixou sua cabeça cair um pouco, mas logo à levantou. "Só mais hoje...amanhã você conseguirá um mentor de verdade e não vai mais precisar vir pra cá"- a gatinha mia, se forçando à se manter acordada. Garra da noite ronronou, caminhando em passos lentos, porém animados pela caverna. A toca era muito maior do quê aparentava ser por fora, e vários gatos caberiam lá se precisassem se abrigar. À medida que adentravam o lugar, mais gatos translúcidos eles podiam ver; alguns cheios de cicatrizes e feridas, alguns velhos, alguns novos, quase da idade dos próprios filhotes. Mas uma coisa todos eles tinham em comum, nenhum deles estava vivo...a vaga transparência de seus corpos entregava isso...

Filhote de cinzas andava meio cabisbaixa; só esperando que sua sessão de treinamento com Pena de garça -Um gato branco e esbelto, amigo de Garra da noite e mentor da aprendiz- acabasse logo, tudo o quê a mesma mais queria agora era uma noite de sono, sem interrupções do pai, nem de mais ninguém.

Garra da noite guiou os dois para um pequeno túnel, deixando Filhote de cinzas com seu mentor e se afastando dos dois para poder treinar Filhote de carvão. O gato branco já esperava pela menor, e quando a mesma chegou, a sessão de treinamento começou...sem cumprimentos, sem cerimônia, apenas o de sempre...o guerreiro lhe mostrava posições e golpes, e a mesma repetia, os praticando no próprio fantasma de Pena de garça. Filhote de cinzas dava o seu melhor, bocejando uma vez ou outra, com um único pensamento em sua cabeça. "Só mais essa noite..."

O Destino Dos 6 (Gatos guerreiros)Onde histórias criam vida. Descubra agora