Capítulo 2

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A sala onde me encontrava era uma típica sala de hospital, paredes brancas com uma faixa cinzenta, um piso vanílico em tons de branco, tinha 3 camas para além da minha, iguais, com lençóis brancos, estas tinham um estrado, pelo que eu observava, de ferro. Eu estava na cama mais próxima à janela, a visão que eu tinha do exterior era a de um parque de estacionamento, provavelmente do hospital e à frente deste, via um edifício que se ligava ao sítio em que eu estava instalada, um prolongamento do hospital, presumi.

Ao início a minha visão estava desfocada, provavelmente um efeito secundário dos medicamentos que me estavam a ser injetados pelos tubos, mas, apesar disso, os meus olhos não paravam de percorrer a sala, a analisar tudo que se encontrava em meu redor. Finalmente os meus olhos, após a minha visão estar a 100%, fixaram-se na porta, à espera que alguém aparecesse e me viesse explicar a minha situação. Pouco tempo depois, apareceu um enfermeiro, para me vir verificar. Eu olhei-o e disse:

-Podia-me explicar o que se passa?

Ele olhou para mim com uns olhos esbugalhados apercebendo-se que eu estava acordada, a sua reação foi sair a correr da sala e, algum tempo depois voltou acompanhado de uma médica.

-Peço imensa desculpa pela reação do Carl, ainda é novo nisto -disse referindo-se ao enfermeiro, este limitou-se a fazer um sorriso tímido e a corar- é que sabe, a sua situação é bastante estranha, não era suposto acordar tão cedo, dada a quantidade de anestesia que lhe demos na operação.

-Desculpe? Fui operada?

-Sim, foi. Tivemos que lhe operar devido à rotura de ligamentos na sua mão direita, achamos que pode ter sido causada por um movimento repetitivo em conjunto com a sua subnutrição e exaustão.

-Movimento repetitivo? Do género bater numa parede de punhos cerrados?

-Sim.

-Quem é que me trouxe?

-Um detetive... se bem me lembro chamava-se Nick...mas deve estar quase a chegar.

-Obrigada pela informação.

Só depois desta conversa é que tentei mexer a minha mão direita e me apercebi de como estava magoada. Enquanto que estava à espera do Nick fui outra vez puxada pelos meus pensamentos.

Afinal, se bem me lembro, quando fugi, havia câmaras a filmar a minha fuga, ou seja, quem me prendera já sabia da minha fuga ... ou tinha alguém para me substituir ou então está à minha procura, e... prefiro que me prendam a mim do que a outra pessoa... a minha vida já foi estragada...

- NÃO ESTRAGUEM A DE MAIS NINGUÉM! – gritei, desesperada, com lágrimas a escorrer pela minha face.

Reparei nesse momento que o Nick estava parado à porta a observar-me atentamente, quando ele percebeu que eu tinha reparado na sua presença, dirigiu-se, calado, para a minha cama onde se sentou, ainda calado. Instalou-se um silêncio entre nós, eu baixei a minha cara para que ele não visse as lágrimas que ainda escorriam quentes na minha face. Foi ele quem quebrou o silêncio.

-Como estás? - disse com um olhar compreensivo e carinhoso.

-Confusa, dorida, contente, enraivecida, triste... enfim, numa maré de emoções...

-Pois já percebi- disse pegando na minha cara e levantando-a- não precisas de esconder as lágrimas de mim.- afirmou limpando as lágrimas que ainda me escorregavam na cara- Depois de te ter resgatado daquele sítio ficámos ligados por isso quem quer que te vá fazer mal vai querer fazer mal a mim...

-Então, a minha existência meteu-te em perigo... merda! -disse percebendo que o meu pedido de não estragarem a vida a mais ninguém fora em vão.

-Calma, descansa. O sitio em que tu estavas aprisionada, já não existe ... explodiu depois de eu te ter metido no carro mas, apesar disso, a polícia está a tentar reunir provas, agora deixo-te, descansa.

-Antes de te ires embora posso perguntar-te uma coisa?

-Diz.

- A doutora mencionou-te como Nick, detetive... mas como? Pareces ter a minha idade.

-Não pareço, tenho. A minha idade é igual à tua mais um ano. Sou apenas sobredotado.

-Boa. Um sobredotado e uma burra... vai ser lindo- disse com um sorriso brincalhão, ficando mais animada e esquecendo-me da minha situação.

Enquanto eu falava ele levantou-se e dirigiu-se para a porta, quando lá chegou, olhou para trás e devolveu-me o sorriso. Depois, desapareceu da minha visão, o que me levou a conscientizar que a pequena animação que, naquele momento, já estava a morrer, era apenas resultado da minha ingenuidade e do típico pensamento, "vai ficar tudo bem". Isso nunca iria acontecer pois, as memórias daquela situação horrível iriam-me sempre acompanhar, para além de que, a partir do momento que fugi ou, talvez antes, estava em perigo perpétuo de voltar para um sitio em que me encontrava presa.

Destinada para morrerWhere stories live. Discover now