Capítulo 1

42 4 0
                                    



E ali estava eu à porta de um bar, era muito conhecido devido aos seus cocktails, olhei para o bar, estava quase vazio, a minha atenção prendeu-se na mesa do canto, escondida e com apenas duas cadeiras, entrei e sentei-me, a luz do bar era fraca e pouco lúcida. Pedi um o que degustei com prazer, quando olhei para a frente vi um homem bonito e com corpo delineado, sentou-se na minha mesa e estranhamente eu não disse nada, fiquei especada.

Ele começou a falar comigo e ofereceu-me uma bebida, eu aceitei e, após alguns copos, pensava eu, não me lembrava de nada estava completamente bêbeda tudo o que fizera desde então, para mim, até hoje tem sido mistério.

Após ter acordado dei por mim numa divisão com paredes de ferro, o que fizera eu? Decidi manter a calma, algo que, confessando-vos, foi muito difícil, levando a que, após apenas alguns minutos, começasse a gritar e a bater nas paredes. Magoei-me nos punhos de tanto bater e depressa fiz feridas nestes, eu não me fartei de gritar, o que foi estranho, mas acho que houve uma grande descarga de adrenalina no meu corpo que me permitiu gritar sem cansar. Observei bem o sitio reparei num tubo que saía do teto...que faria ele? Eis que descobri. Servia para me fornecer comida.

Rapidamente os minutos passaram, minutos passaram a ser horas e já que mais nada tinha para fazer começou-me a ocorrer recordações do meu horrível passado. Fui transportada para a maré dos meus pensamentos que me levou há 3 anos antes deste acontecimento, tinha eu 15 anos, acabara de me mudar para o meu terceiro orfanato, já não havia em mim esperança para ser adotada devido à minha idade e ao meu percurso. Depressa fiz amizades com quem não devia entrando na minha vida uma imensidão de problemas. Comecei a vestir-me de forma provocadora, a usar maquilhagem a namorar com este e com aquele, até que um dia após ter escapado do orfanato, fui apanhada de surpresa e fui violada! Pois bem não é que naquela altura me tenha importado pois já estava numa fase em que nada me importava... A verdade é que eu sabia que o que fazia era errado mas, mesmo assim fazia-o, era como se fosse a minha revolta contra o mundo, contra a minha vida mas no final do "jogo" quem sofria era eu, mas apesar disto eu sentia-me bem em revoltar-me, em usar aquelas roupas berrantes que chamavam atenções indesejadas, porque fazia sentir-me que tinha atenção que afinal não era ninguém que... estava a conseguir fazer aquilo que o meu destino não queria, ter alguém que se importasse comigo. Infelizmente só percebi muito depois que na verdade ninguém se importava comigo, só me queriam despir o mais depressa possível e "saltar para cima de mim".

Voltei a mim depois desta grande reflecção, olhei em meu redor e chorei, estava sozinha, aquilo que mais temia, mas, afinal, sempre o estivera, sem me aperceber, ou talvez ate me apercebia, só não queria acreditar.

Depois de uma semana, acho eu, pois a minha noção do tempo não é muito fidedigna, eu continuava nesta prisão onde me era enviado todos os dias comida por um tubo. Gritava por ajuda todos os dias, mas ninguém parecia ouvir. Eu já estava a cuspir sangue, a minha garganta já não aguentava ...eu toda já não aguentava. Passei de calma para um estado de pânico e sobrevivência para o meu final estado de desespero...

Então decido fazer algo diferente, bato na parede com toda a minha força três vezes, mais não consigo, pois as minhas mãos já me doem, olho para estas, com lágrimas a escorrer-me pela face e assusto-me por ver o estado em que se encontravam, estavam todas gretadas e encrostadas e, uma delas, parecia que tinha sido submetida a garrote pois já parecia não ter vida, até que, finalmente, parece haver sinal de vida, ouvi vozes do outro lado, já sem força eu gritei, mas simplesmente ignoraram-me... porque será que me estão a fazer isto, estava desesperada não sabia o que fazer, vejo o tubo a mexer-se, mas desta vez avisto comida de jeito aquela que se pode realmente chamar comida. Era uma coisa que já não comia há algum tempo, uma pizza de espinafres. Ai cheira tão bem..., mas será que me estão a tentar envenenar? Ao menos se é isso que me estão a tentar fazer esta tortura acabará e eu poderei finalmente me transformar em pó para sempre. - Pensei

Rapidamente me atirei à pizza como se já não comesse há dias o que em parte era verdade. Apercebo-me então que a pizza tinha um papel que dizia "a password para saíres daí é 45X8". Fiquei desorientada, mas onde raio é que ia meter aquela password?

Para mim aquilo eram só paredes não via orifício nenhum onde pudesse clicar, quadros onde pudesse ver por trás, nem sequer um tapete para desviar se por acaso tivesse havido eu já teria tentado desviar, clicar ou verificar por trás, mas... será que há mais alguma função depositada naquele tubo-refleti. Então gritei para o tubo "45X8" o tubo ficou ensanguentado com o sangue que a minha boca lentamente cuspia, mas, funcionara a porta que antes eu não identificara abriu-se e esperava-me o homem que me engatou naquela noite.

-Depressa não temos muito tempo! - Diz-me

- Mas...

-Agora não há tempo para perguntas simplesmente segue-me.- disse fazendo sinal para eu me calar.

Então assim o fiz segui-o até um local «seguro». O que para mim era uma palavra que parecia ter deixado de ter significado... «seguro» ... já alguma vez alguém pensou que a segurança podia ser uma mera ilusão do tempo? Afinal vamos todos morrer, todos estamos em perigo a partir do momento que saímos do confortável e sangrento ventre da mãe, esse sim é um local seguro porque mesmo que morramos ou percamos a vida isso não nos importa, pois, o nosso coração mal bate a nossa alma ainda não é nossa... afinal de contas toda a nossa vida é uma ilusão, uma mera distração do simples facto que a partir do momento que nascemos podemos morrer- pensei.

Posso admitir que o caminho não foi propriamente fácil para uma pessoa toda magoada e de rastos mas, acho que eu faria de tudo para deixar aquele sítio no passado e bem longe de mim. Não havia guardas, não havia gente ou animais, aliás até se poderia duvidar se lá existia qualquer tipo de vida... aqueles corredores imensos não eram muito diferentes daquela sala onde eu tinha estado, tudo de metal .... Só havia uma pequena diferença, existiam câmaras, por isso quem quer que me tenha enjaulado já devia saber e, não parecia ter qualquer intenção de contrariar a minha fuga ... como se fosse parte do "jogo" que eu entrara inconscientemente. Estava-me a custar fugir dali, por poder fazer parte do plano, mas não aguentava lá ficar era demasiado horrível, enquanto corria, a ser puxada por aquele homem, uma lágrima escorreu-me pela cara, esta representava a minha raiva pelas pessoas que me estavam a fazer sentir coisas contraditórias sobre aquela fuga, afinal não devia estar feliz por fugir? Ou se calhar a fuga era errada... Que grande confusão estava a decorrer na minha cabeça.... Após esta correria já estávamos fora daquele edifício, perto do carro do homem. Quem o via de fora parecia um edifício completamente normal, no meio do nada, ninguém imaginaria o que se tinha passado lá dentro. Respirei fundo e recuperei parcialmente daquilo que tinha acabado de acontecer. As palavras saíram de rompante da minha boca.

- Mas quem és tu? -disse eu ofegante, cuspindo-lhe sangue para a cara

-Nick. Não me reconheces?

Apaguei-me completamente após ouvir estas palavras e rapidamente a minha mente começou a divagar, levou-me a uma sala escura com apenas uma janela e quatro paredes, sem mais nada, a única luz que havia nesta provinha da rua, aquela luz laranja que à noite estamos habituados a ver. Estava um bebé abandonado na sala, enrolado num cobertor e um casal, provavelmente os pais, estava a fechar a porta. Podia ser um cenário de pessoas muito pobres que não tinham dinheiro para comprar um berço, mas não era! A minha visão seguiu os pais que se apressaram a pegar nas malas que tinham ali perto, eu não lhes conseguia ver a cara só reparava na sua estatura e na sua pressa a sair de casa, estavam a descer tão rapidamente as escadas, e o bebé, pequeno a dormir em paz, ficara para trás. Observei-os a saírem de casa e a minha atenção voltou para o bebé, subi as escadas e entrei no quarto dele, aproximei-me e vi a cara dele, alias, dela! Isto era a história de um abandono, do meu abandono!

Talvez esta história seja verdade, talvez tenha só sido um pesadelo mas de facto, perturbou-me.Acordei toda suada numa cama de hospital, ligada a tubos e a mais tubos, posso vos dizer que não era uma sensação propriamente agradável. E aqui estava eu, sozinha, como é que tal era possível num hospital cheio de gente....

Destinada para morrerWhere stories live. Discover now