Déjà vécu

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PAÍS DO VENTO, SUNAGAKURE, ÁREA SABAKU – DIA 1 – 03:49.


A madrugada seguia fria e seca, as nuvens de areia deixavam a vista da janela embaçada a ponto de não entrar luz alguma da lua e as rajadas de vento bloqueavam qualquer som que vinha do lado de fora. Este cenário pode parecer ruim, porém, graças a estes fatores não havia ninguém fora de suas camas, excerto dois irmãos.

Kankuro ainda estava observando a criança em sua frente: pequena, aparentemente frágil e com os olhos brilhando enquanto encarava-o, ainda esperando as suas perguntas serem respondidas. Não era exatamente assim que Kankuro se lembrava de Gaara quando criança, ainda mais por estar sem o kanji gravado na testa... Mas era ele! Só não parecia perigoso e nem tinha aquela vontade assassina que chegava a ser sentida de longe. Aliás, graças ao ninja idiota número um de Konoha, Gaara não era assim há anos.

O ruivo se mantinha escondido em parte atrás da porta. Ele estava curioso, não se lembrava ao certo do que havia acontecido, mas sabia que aquele era seu quarto, aquelas roupas que ele vestia eram suas, que aquele era seu irmão e a moça loira que foi tão amável com ele era sua irmã, se sentia até mesmo confortável com isso, mesmo não entendendo como.

"Que criancinha fofa, mas o que eu faço com ele? Será que se eu deixar quieto e fingir que não vi nada, ele volta ao normal? ". Inconscientemente, ele se abaixa e continua com seus pensamentos: "Eu não me lembro dele desse jeito... O que mesmo aconteceu para ele deixar de ser assim? Só me lembro de não querer ficar perto, acho que meu pai nem deixava que brincássemos juntos...".

— Diz... — Gaara prolonga um pouco mais o som do "i" enquanto fala — Como ficaram grandes?

— O que? — o mais velho solta uma risada — Foi você quem ficou pequeno, irmãozinho...

Kankuro estava tentando ser o mais simples e direto na explicação, mesmo sabendo que sempre deixaria uma brecha ou outra para o irmão fazer mais perguntas. Apesar de querer que tudo volte logo ao normal, ele não queria pressiona-lo a lembrar de algo, deixaria tudo seguir no tempo que Gaara se sentisse confortável.

O olhar do pequeno parecia triste agora. Mesmo sendo uma criança, ele entendia que no mundo dos adultos, crescer significa somente uma coisa:

— Não vão mais brincar comigo?

— Brincar de esculturas de areia? — ele acaba sorrindo, começando a se lembrar um pouco do passado — Eu e a Temari somos muito ocupados e não brincamos mais. Você também é ocupado, acho que mais do que nós dois.

É difícil entender como eles estavam mantendo tanta tranquilidade e naturalidade com essa situação. Por um lado, Kankuro sentia que o mínimo a fazer por ter deixado algo assim acontecer com seu irmão era cuidar dele mais do que nunca, porque agora ele era uma criança "indefesa". Por outro lado, Gaara não se lembrava de nada recente, ou melhor, da última década, mas de algum modo ele sabia que podia confiar nos irmãos ainda que estivessem diferentes.

O problema é que a qualquer momento aquela criança poderia ficar com medo já que as pessoas e os lugares estavam diferentes, ou até lembrar de algo doloroso de sua infância conturbada e se descontrolar. Acima de tudo, o mais problemático é que o culpado e o motivo por isso ainda eram desconhecidos.

— Yashamaru ainda vai demorar para voltar? — ele ainda não tinha realmente entendido que o tempo passou para todos e não para si mesmo.

— Ele vai demorar, mas eu e a Temari vamos tomar conta de você, jaan. — Kankuro já estava decidido a manter, mesmo usando de pequenas mentiras, essa tranquilidade que havia entre eles. Falar sobre o tio só faria Gaara sofrer em vão.

Gaara ChibiOnde histórias criam vida. Descubra agora