Introdução

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AmAr,

verbo

intrAnsitivo

mario de Andrade

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Mário de Andrade

AMAR, VERBO INTRANSITIVO

UM ROMANCE QUE RESISTE

Amar, verbo intransitivo, o primeiro romance de Mário de Andrade, publicado

em 1927 e re-fundido em 1944 para as Obras Completas, é ainda, infelizmente, pouco

procurado pelos leitores. Na década de 20 foi aplaudido com entusiasmo pela crítica

modernista e atacado pela vozes passadistas; na década de 40 teve seu valor reconhecido

pela nova geração de escritores. Foi traduzido para o inglês, deu ensejo ao belíssimo filme

de Eduardo Escorei, Lição de amor e vem sendo objeto de vários estudos universitários.

Hoje, apesar de consolidado o interesse pelo modernismo e apesar de Macunaíma ser do

conhecimento do grande público, este primeiro romance de Mário de Andrade permanece

quieto demais no plano das leituras brasileiras. As razões podem ser diversas e não cabe

aqui analisá-las. A verdade é que Macunaíma, projeto moderno e nacionalista levado a um

clímax de consciência estrutural e estilística, ultrapassou os limites do Brasil, universalizando-se enquanto representação do homem contemporâneo alienado, servindo ao sistema que reifica e mercantiliza a vida. Macunaíma tornou-se discussão atual que prende,

atrai. Porém, a preocupação com a nossa identidade — caráter nacional — o emprego da

fala brasileira por parte do narrador e das personagens, a movimentação intensa do foco

narrativo, bem como a denúncia firme — e artisticamente irrepreensível — da alienação

e da mentalidade colonizada, não são novidades na rapsódia de 1928. Tiveram início já

nos Contos de Belazarte e afirmaram-se como partes integrantes de um projeto ,estético

e ideológico claro em Amar, verbo intransitivo. Atingirão a estatura de obra-prima em

Macunaíma.

Quando do aparecimento do livro, Manuel Bandeira justificou o aspecto mais chocante para a época: "A linguagem do romance está toda errada. Errada no sentido portuga

da gramática que aprendemos em meninos. Do ponto de vista brasileiro, porém, ela é que

está certa, a de todos os outros livros é que está errada. Mário se impõe à sistematização

de nossos modismos." Radicalizações da amizade à parte, vê-se que o narrador tão brasileiro de Amar, verbo intransitivo é o legítimo antecessor do rapsodo de Macunaíma.

Narrador problemático, satiriza duramente ou esgrime com muita graça o humor; "fala"

e, "falando", cria refrãos que ratificam a personagem, como ocorrerá em Macunaíma. E

Amar, verbo intransitivoOnde histórias criam vida. Descubra agora