Capítulo II

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Pandemonium


No momento em que pousou os olhos no avaliador do governo, um homem delgado, sentado na frente da turma, ostentando um bigode louro hirsuto e um terno verde fluorescente com a insígnia Beta na gravata, Amber Kreyzer pressentiu que teria um ataque de pânico e estremeceu dos pés à cabeça. A pílula de Min-D subitamente ardeu através do tecido da calça, pesando como chumbo em seu bolso. Metade dos alunos ainda não haviam entrado.

          Ele andou até sua classe movendo uma perna depois da outra, exibindo movimentos desarticulados e irregulares, dignos dos robôs da primeira geração, que batiam contra as paredes e continuavam indo em frente.

          Assim que se sentou, pressionou o dedo no leitor da classe e ela iluminou-se, exibindo seu nome no topo do visor, e, embaixo, diversos cadernos digitais, cada um com o nome de uma matéria. No canto inferior direito, uma estrela dourada piscava, com uma contagem regressiva seguindo curso: 22:33. 22:32. 22:31... Era quanto tempo faltava para o exame ser iniciado.

          No quadro eletrônico atrás do Avaliador, lia-se a frase "Regulamento e Condições estão na pasta Aval0412".

          Amber olhou ao redor, e logo seu olhar encontrou o de Donnie. Ele estava duas mesas à esquerda dele, encostado na parede, sorrindo.

          Ele está confiante pra caramba, pensou Amber. Por algum motivo, isso o perturbou.

          Donnie se levantou e foi até ele, sentando-se na classe ainda não ocupada às suas costas. Então se inclinou para frente e sussurrou para Amber:

          — Quando faltar 10 minutos, me siga.

          Amber assentiu.

          Donnie voltou calmamente para sua classe, deu a volta em duas garotas que se paparicavam com beijinhos e esparramou-se em sua cadeira.

          Eles aguardaram.

          Quando o contador marcou 10 minutos, após um curto intervalo entre um e o outro, ambos se levantaram e saíram da sala. Donnie aparentemente calmo. Amber com coceiras pelo corpo todo. Talvez tenha sido só em sua cabeça, mas ele notou o olhar que o Avaliador pousou sobre ele antes de passar pela porta. Um olhar repleto de suspeita e hostilidade.

          Alguns rapazes lavavam as mãos na pia no momento em que os dois entraram no banheiro. Ignorando-os, Donnie entrou em um dos reservados, e Amber tratou de se enfiar no outro ao lado. Após alguns segundos, todos saíram e eles ficaram sozinhos. Depois de dar duas pancadinhas na divisória, o amigo lhe estendeu pela fresta de baixo uma pequena garrafa de água pela metade. Amber pegou-a rapidamente. A água estava um tanto quente, mas mal chegou a notar. Deslizou a mão para dentro do bolso e, com dedos torpes, encontrou a pílula, puxando-a para fora. Segurando-a contra a luz, ela realmente cintilava como um diamante. Do que será que ela é feita?, perguntou-se. Mas isso pouco importava. Seu coração agora se arremessava violentamente contra as costelas. Nas mãos, testa, costas, peito; o suor frio agora escorria por todos os poros de seu corpo.

          Eu realmente vou fazer isso? Tomar essa droga que já destruiu tantos? Será que sequer tenho alguma escolha? Talvez eu devesse jogá-la no vaso e puxar a descarga. Donnie não desconfiaria, eu acho. Mas amanhã, quando nossas notas forem liberadas, ele vai saber... A não ser que eu consiga alcançar à média, mas isso é impossível. Na primeira vez que realizei a AGDC, consegui 55 pontos, depois 49, então 44, e na última, apenas 41... Com 39 ou menos, serei levado à Área Épsilon, e com menos de 29, pra Zeta... Uniformes cinzas, longe de todos, sendo chamado de debiloide, me tornando cada vez mais estúpido, até parar de me importar e me tornar o primo de um vegetal. Meu deus, meu deus.

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