Se o contexto histórico do surgimento e da formação da sociologia coincidiu
com um momento de grande expansão do capitalismo, infundindo otimismo em
diversos sociólogos com relação à civilização capitalista, os acontecimentos
históricos que permearam o seu desenvolvimento tornaram no mínimo
problemáticas as esperanças de democratização que vários sociólogos nutriam
com relação ao capitalismo. O desenvolvimento desta ciência tem como pano de
fundo a existência de uma burguesia que se distanciara de seu projeto de
igualdade e fraternidade, e que, crescentemente, se comportava no plano
político de forma menos liberal e mais conservadora, utilizando intensamente os
seus aparatos repressivos e ideológicos para assegurar a sua dominação.
O aparecimento das grandes empresas, monopolizando produtos e
mercados, a eclosão de guerras entre as grandes potências mundiais, a
intensificação da organização política do movimento operário e a realização de
revoluções socialistas em diversos países eram realidades históricas que
abalavam as crenças na perfeição da civilização capitalista. Estes mesmos fatos
evidenciavam também o caráter transitório e passageiro da própria sociedade
moldada pela burguesia.
A profunda crise em que mergulhou a civilização capitalista em nosso
tempo não poderia deixar de provocar sensíveis repercussões no pensamento
sociológico contemporâneo. O desmoronamento da civilização capitalista,
levado a cabo pelos diversos movimentos revolucionários e pela alternativa
socialista fez com que o conhecimento científico fosse submetido aos interesses
da ordem estabelecida. As ciências sociais, de modo geral, passaram a ser
utilizadas para produzir um conhecimento útil e necessário à dominação vigente.
A antropologia foi largamente utilizada para facilitar a administração de
populações colonizadas; a ciência econômica e a ciência política forneceram
com bastante freqüência seus conhecimentos para a elaboração de estratégias
de expansão econômica e militar das grandes potências capitalistas.
A sociologia também, em boa medida, passou a ser empregada como
técnica de manutenção das relações dominantes. As pesquisas de inúmeros
sociólogos foram incorporadas à cultura e à prática das grandes empresas, do Estado moderno, dos partidos políticos, à luta cotidiana pela preservação das
estruturas econômicas, políticas e culturais do capitalismo moderno. O sociólogo
de nosso tempo passou a desenvolver o seu trabalho, via de regra, em
complexas organizações privadas ou estatais que financiam suas atividades e
estabelecem os objetivos e as finalidades da produção do conhecimento