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Escutei um barulho familiar, mas ele parecia estar distante, quanto mais tempo passava mais alto e próximo ia ficando. Merda. Era meu despertador. Por favor que eu não esteja muito atrasada, por favor.

- Droga. - Bufei quando percebi já estar meia hora atrasada pra faculdade. Dei um pulo da cama e saí correndo pra tomar o banho mais rápido que pude, nem vi direito que roupa eu estava colocando, só coloquei a primeira calça jeans que me apareceu e alguma regata e calcei meus sapatos, peguei minha bolsa e as chaves do carro e saí correndo quase rolando escada abaixo. Enquanto isso, minha mãe tomava café da manhã tranquila e despreocupada na cozinha.

- Obrigada por não me acordar, mãe. É muito bom poder contar com sua ajuda. - Gritei passando pela porta sem nem parar pra pegar uma fruta ou esperar pela resposta de minha mãe.

Perdi a conta de quantas vezes agradeci à Deus por ele ser maravilhoso e me ajudar com trânsito que estava mais calmo por conta do horário. Da minha casa para a faculdade era um caminho consideravelmente longo, dependendo do dia levava quase quarenta minutos.

Finalmente avistei a entrada do estacionamento. Obrigada meu bom senhor. A missão agora seria achar uma vaga, já que a grande maioria dos alunos já havia chegado, mas me tranquilizei ao ver que eu não estava tão ferrada assim pois algumas pessoas andavam apressadas por lá. Finalmente achei uma bendita vaga, isso estava bom demais pra ser verdade, quando estava a uma boa distância dela percebi que não fui a única que queria aquela vaga e que estava tão desesperada para ir pra aula. Um carro preto e lustroso, de vidros escuros que não me permitiam ver quem era o ou a motorista também estava indo em direção a minha vaga, não pensei duas vezes antes de pisar um pouco mais no acelerador e fazer o carro ir mais rápido, mas a pessoa do outro carro pareceu ter a mesma ideia que eu pois percebi o outro carro aumentar sua velocidade também, e quase me desesperei pois meu carro não era tão veloz e novo quanto o outro e isso já era uma desvantagem bem grande pra mim.

Quando já estava quase conseguindo, olhei o retrovisor por dois segundos e quando senti um impacto vindo da parte dianteira do carro, e, por pouco, não dei de cara no volante. Desliguei o carro na mesma hora e respirei fundo enquanto tirava um cinto, assim que sai do carro e vi o estrago minha paciência foi pro ralo.

- POR ACASO VOCÊ NÃO OLHA POR ONDE ANDA NÃO, IDIOTA? - gritei pro carro em minha frente sem nem ver quem estava dentro, até que escutei um barulho da porta sendo aberta. oh ou. Foi nesse momento em que, literalmente, o ar escapou dos meus pulmões. Um garoto de pele não muito clara, acho que poderia chamá-lo de moreno, com um topete bagunçado e com uma mecha loira desgastada que lhe caia bem até demais. Ele usava um óculos escuro que não me permitia ver seus olhos mas pelo seu maxilar travado percebi que ele estrava tão estressado quanto eu.

- Você bate meu carro e o idiota sou eu, tem certeza? - ele deu um sorrisinho irônico e colocou as mãos nos bolsos do seu casaco.

- Sim, você é o idiota, viu muito bem que eu já estava de olho nessa vaga e decidiu roubar ela de mim e agora além de atrasada meu carro vai precisar ir pro concerto. - bufei irritada.

- Concerto? Essa lata velha? Você devia mandar pro ferro velho, isso sim. - Seu sorriso sínico aumentou. - E além do mais, você não é a única atrasada, a vaga não é exclusiva sua e não é só seu carrinho que vai precisar de concertos.

- Tá, tanto faz, eu só quero ir logo pra aula, ficar aqui discutindo não vai me levar pra lugar nenhum, fica com a porcaria da vaga e soca ela bem no meio d... - Estava tão nervosa que precisei fechar os olhos para respirar fundo e quando os abri percebi que ele tinha tirado seu óculos e o pendurado na gola de sua camisa e eu pude finalmente ver seus olhos e, uau, pela distância eu não poderia afirmar com certeza, mas pareciam ser um castanho admirável. - E..eu só preciso ir embora. Tchau.

- Não mesmo, você bate meu carro, faz eu me atrasar mais ainda, me chama de idiota, vai me fazer gastar um dinheirão pra concertar meu carro novo pra virar as costas pra mim e ir embora? - Ele perguntou incrédulo

- Exatamente, pelo visto esse seu topete oxigenado não te deixou tão burro quanto eu pensei que fosse, parabéns, agora tchau. - Me virei pra ir embora mas logo escutei passos apressados e, então, alguém segurou meu braço e me faz parar. Ele. Me virei devagar e olhando pra sua mão que segurava firme em meu braço, quando ele finalmente o soltou dirigi meu olhar ao seu rosto e posso dizer que aquele foi um dos maiores erros que cometi.

Ele tinha sobrancelhas grossas e destacadas naturalmente, cílios de dar inveja a qualquer garota que só deixavam seu olhar mais marcante, sem citar os lindos olhos castanhos, um nariz estupidamente perfeito e afilado, lábios maravilhosamente desenhados e uma barba por fazer. Personificação do pecado.

- Vocês não pode simplesmente ir embora como se nada tivesse acontecido, preciso lembrar que bateu meu carro?

- Ok, então vamos ser civilizados e resolver o problema, pode ficar com a vaga e se quiser ainda pode me dar a despesa do concerto da seu carrinho. Satisfeito?

- Acho que nem a despesa do concerto do seu próprio carro vai conseguir pagar. - Ele deu uma risadinha enquanto olhava meu carro. - Que tal se eu cuidar do meu e você cuidar do seu? E a propósito, pode ficar com a vaga. - Ele piscou em minha direção com um sorrisinho cafajeste no rosto e caminhou de volta pro seu carro estupido.

É Veronica, hoje pelo visto vai ser um dia daqueles. Pensei comigo mesma.

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   Logo que saí da faculdade fui direto pro meu carro, mas pra minha sorte ele não queria ligar de jeito nenhum. Droga, droga, mil vezes droga. Aquele idiota topetudo conseguiu acabar com o motor do meu carro ou qualquer coisa que seja importante pra fazer ele sair do lugar. Olhei meu relógio e precisava estar no meu trabalho em uma hora e vinte minutos e só pra chegar em minha casa eram quase quarenta minutos por causa da porcaria do trânsito. Vasculhei o estacionamento com os olhos e na mesma hora algo chamou minha atenção. Não muito longe da minha vaga, um carro reluzente demais chamava atenção, mas não só por ser um modelo caro e sim pela batida na sua parte dianteira.

Bingo.

A Piece of HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora