A Ligação

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Ele era o azul ou o azul era ele? Ele vestia o azul ou o azul o vestia?

Mateo Dane, dono do azul.
Azul, dono do Mateo Dane.

Eu o conheço desde minha infância, éramos muito próximos, e eu digo bastante próximos. Entretanto, algo aconteceu.

Hoje, não sei se ele conseguiria me reconhecer, estamos praticamente com a vida feita, e muito diferentes.  Deve ser bom para ele não me reconhecer. Eu era a morena, e ele sempre foi o loiro, onde sua marca era o seu sorriso e sua cor azul. Há algum tempo, decidi dar uma bagunçada no meu visual e estou oficialmente loira. Confesso que não me arrependo, todos gostaram e chamo atenção por onde passo. Apesar disso, eu amava meus cabelos negros, combinavam com meus olhos azuis e minha boca marcante, dava um ótimo contraste. Até quando eu mordo meus lábios labirinto me olhando no espelho, sinto coisas. Por que algum homem não sentiria também, certo?

Bom, eu era o preto. Se quiser mais especificidade, a dona das rendas. Eu sou advogada, e como diz Jason, não querendo me esnobar, muito gostosa de boa. Jason McCall se tornou meu melhor amigo recentemente, ambos advogados. Mateo? Bom, é um empresário e um dos mais novos, e deve estar muito lindo, como sempre esteve. Eu sou a melhor advogada da cidade e ele, possui a melhor empresa. Eu não o vejo desde a adolescência, mas sei essas coisas, pois minha amiga Torvi, que trabalha com ele, mantém-me informada acerca de tudo o que acontece. O que ela não sabe, é que eu já o conhecia antes. Ela só pensa que tenho uma quedinha por ele, mas é muito mais que isso. Além do mais, ela não sabe meu verdadeiro nome, assim como Jason.

Eu estava no corredor do meu apartamento e estava pouco iluminado, visto que já estava bem tarde. Antes de adentrar ao meu apartamento, peguei meu telefone e resolvi ligar para Torvi. Ao entrar, percebi que a porta de correr que dava para a varanda, estava aberta e o azul do céu estrelado refletia minha mesa e eu conseguia sentir o frio, logo, lembrei-me do Mateo.

  - Torvi, como andam as coisas por aí? Se é que me entende.
  - Bom, as coisas não possuem pernas, mas Dane sim. - disse tirando sarro da minha cara.
  - Você se acha a engraçada, né?!
  - Desculpa, Scarlett. Só estou de muito bom humor hoje.
  - E sempre né.
  - Ele está no escritório resolvendo as papeladas que mandei entregar a ele. Tem trabalhado muito ultimamente.
  - Coitado, ele precisa de uma folga, não acha? Vamos sair! - diz Scarlett com um ar animante.
  - Tipo balada? Já está na hora de vir e o chamar.
  - Que? Claro que não, só o vi atravessando a rua uma única vez e foi quando esbarrei em você. Foi assim que nos conhecemos, lembra?
  - Como eu poderia esquecer? Toda apaixonada por ele, como se o conhecesse e fosse apaixonada a vida toda.
  - Torvi, o Sty chegou, preciso ir.
  - Já falou com ele?
  - O que?
  - Você esqueceu de novo? - disse Torvi indignada.
  - Ah, dessa vez falarei com ele, prometo.
  - Tudo bem, beijos.
  - Tchau.

Stilinski aka Sty aka Caído (de anjo caído), era um moreno muito atraente e brincalhão. Não era um dos mais fortes e malhados, entretanto sua personalidade o definia mais que sua aparência pudesse pensar em fazer isso. Sty é fotógrafo, o melhor que alguém poderia conhecer. Ele já havia conhecido Torvi na balada uma vez, e ela se encantou por ele de uma forma inexplicável. Todavia, ele não curte muito ruivas e sequer a notou. Ele mal sabe o que está perdendo.

  - Sty, o que acha da Torvi Fulley? - fui direta, pois sabia que querendo ou não, poderia dar errado eu tentando ser discreta, então fui sincera.
  - Torvi?
  - Sim, a ruiva da balada.
  - Ah, sua amiga. Bom, não faz o meu tipo para algo sério, eu enjoaria dela muito rápido, conheço-me bem, mas ficaria com ela só por ser mais uma, botar na listinha um +2. - disse com um sorriso malicioso.
  - Nossa, sincero demais, mas serve. Vou ligar para ela e sairemos para balada, porém em outra, já que não deixarei você escolher pelo péssimo gosto que você tem.
  - Tão boba que nem deve saber o caminho de uma.
  - Leva o Jason McCall.
  - O McCall? O que eu perdi por aqui?
  - Você não perdeu nada, só leva ele, caído.

E assim, foi-se uma semana e chegara a maravilhosa sexta-feira. Torvi estava animada, e eu pra ser sincera, também.

Do lado de fora da balada, encontravam-se algumas pessoas esperando para entrar, outras, como eu e meus amigos, estávamos na fila vip, prontinhos para curtir de vez o que estávamos esperando a semana toda.

  - Torvi, ele só quer ficar contigo, beleza? Não é para levar nada a sério.
  - Eu sei, ele é idiota, mas o quero.
  - Típica trouxa.
  - Trouxa? Olha só... - foi interrompida por Jason.
  - E aí, princesas.
  - Quem é esse? - indagou Fulley.
  - Jason McCall, meu cachorrinho. Stilinski está vindo aí atrás, fique com ele, depois nos encontramos. Vem, McCall.
  - Saiba que não sou o bichinho dela. - diz Jason para Fulley ironicamente.
  - Torvi? Vamos entrar. Preciso de uma ajudinha no banheiro. - diz Sty, sem nem antes regredir seus passos.

Então... já dá para imaginar o que aconteceu, certo? Torvi era uma danada.

***

Atrás da balada, havia um pequeno jardim, a luz do poste iluminava um balanço, e o cheiro do gramado verde penetrava e chegava à minha garganta. Encostei-me em uma mesa de madeira e em seguida, olhei para o Jason apreensiva.

  - E então, você conseguiu? - diz Scarlett.
  - Sim, está tudo pronto. - diz Jason McCall dando total certeza sobre o que dizia.
  - Quando poderei atuar?
  - O mais breve possível, Scarlett Cavanaugh. - diz Jason com um olhar instigante.

***

Três semanas depois.

Clipes e folhas jogadas. O escritório de Dane, era um ambiente muito agradável apesar de bagunçado de acordo com as descrições de Torvi. Havia ali muitos acessórios de cor azul marinho e quadros pretos. A sala possuía um clima frio e suportável. Não é a toa que Mateo não suportava terno, ele gostava de sentir o frio em sua pele.

  - Com licença, senhor Dane.
  - Pode entrar, Liza.
  - Tem um homem querendo falar com você e é com muita urgência. - diz Liza – a atendente de Mateo Dane.
  - Marque ele para outro dia, hoje estou muito ocupado, assim como estarei em todos os outros se não checar minha agenda. - diz brincando com Liz.
  - Mas Sr.Dane, creio eu que seja muito importante, está envolvendo a Justiça. - diz com tom de seriedade diferente de Dane.
  - Justiça? Do que está falando? Mande-o entrar e nos dê licença, obrigado.

Liz saiu de seu escritório e entrou um Oficial de Justiça com uma correspondência em suas mãos. Mateo Dane mudou completamente o seu semblante, e folgou sua gola percebendo as moléculas do seu corpo começando a se agitar.

  - Você? - diz o oficial surpreso ao ver Dane.
  - Ollie? O que está fazendo aqui?
  - Hoje, para você e para todos, sou o Oficial Oliver. - disse o corrigindo.
  - Com certeza você não é um dos melhores, você não merece estar aqui.
  - Não é questão de merecer, e sim, de favorecer. Estou onde estou, pois meus superiores são melhores que você. - disse Ollie arqueando as sobrancelhas ao revidar o comentário de Mateo.
  - Isso é fato, a diferença é que eles são corruptos para te colocarem em um patamar como este. Sabemos que você não seria capaz de passar sozinho em qualquer lugar que tentasse entrar.
  - Eu vim realizar o meu trabalho, então tome e lide com esta carta. Assine aqui, por favor. As responsabilidades são suas.

Terminando de assinar o documento, ele recebe sua intimação e pede para Ollie se retirar de sua sala, e Oliver sai rindo como criança. O que era um ambiente frio e agradável, torna-se quente e sufocante. Ao abrir a carta, a primeira coisa que veio em sua mente, foi ligar para sua secretária, Torvi.

  - Torvi, temos um problema. Minha empresa está sendo processada, e não tenho a mínima ideia do que fazer ou por onde começar. - diz Mateo confuso.
  - Calma, eu já sei com quem falar. - diz Torvi Fulley, parecendo ter uma grande e ótima ideia.
  - Com quem? - diz aliviando seu tom e curioso.
  - Já te ligo, irei resolver este problema em um minuto.

***

*Telefone toca*

  - Scar? Que tal mostrar quem és a quem tanto teme e mostrar seu valor atuando como a melhor advogada da cidade? Scarlett, eu tenho um caso para você, e digo mais, com a melhor empresa.

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