Capítulo 1: Fundados no Ódio

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Os homens que construíram Noterska, fundaram-na no medo, no ódio e na prepotência. Seu povo derivou de si seus vícios e olhares afundados do mundo, são beligerantes e mentalmente fracos, incapazes de pensar por si sós. Sua fundação se dá com o nascimento dos irmãos Asht e Atonium, filhos de um mesmo pai, embora suas mães sejam pessoas de mundos completamente desconexos: pelo que reza a lenda, Asht é filho de Lanos'salvo, o Deus-Sol, com uma mulher desconhecida, seguindo o rito, uma deusa desconhecida, Atonium era filho também de Lanos'salvo, mas com outra mulher, uma deusa conhecida: Agariopa'pola, a Deusa da Fertilidade. Ainda dentro da lenda, descrita por Kolvo Aberizickov em 1778, Lanos'salvo teria conhecido a deusa mãe de Asht durante um voo rasante na beira de um rio que passa por entre as planícies divinas, ali a deusa estaria desnuda, aguardando para que a deusa-mãe levasse-a consigo para o Oeste em suas pregações habituais. Quando revirou sua observação do ambiente por poucos minutos, acordara com uma águia por cima dela, ela Lanos'salvo penetrando-a e injetando seu líquido semeador de divindade, a deusa gritou, mas era incapaz de desfazer tamanha crueldade que Lanos'salvo havia feito a ela: fecundara-a um filho, um homem-deus, ali estaria fadado a nascer Asht. Então, pouco tempo depois, ainda nas mesmas planícies, apenas mais ao Sul, se encontrara com Agariopa'pola e beijou-a de forma incessante, despiram-se logo abaixo de um grande salgueiro e copularam, seu filho nasceria 9 meses depois, era Atonium, que fugira para as terras mortais quando descobrira que era bastardo, haja visto que Lanos'salvo era casado com Pulitana, uma deusa caída ao mundo dos mortais por ordem da Deusa-mãe, por sua insolência ao contrariar as palavras da grande-mãe-de-todos.

Reza junto à lenda que os dois se encontraram durante a queda ao mundo mortal, estariam caindo pelas nuvens quando encontraram-se na queda e reconheceram-se logo no exato momento, eram quase que idênticos, os genes de Lanos'salvos eram muito fortes para que impedissem de ambos se reconhecerem, a lenda diz da seguinte forma:

"[...] os irmãos resolutos em queda se entreolharam com ódio e perceberam sua semelhança na aparência e nas ações, como também nas vestes de alto luxo, com suores da insolência de seu pai: preparando seus bastardos para o abate. A queda os uniu quando perceberam que eram homens imortais, eram deuses-homens e que seus poderes haveriam de ser retirados de sua carne ao tocarem o solo, mas seriam imortais [...] tocaram-se e sentiram uma atração carnal irresistível, eram como um casal separado há eras, mas também não eram, aos costumes da época, uma relação entre dois homens era inadmissível e punível com a morte, os deuses expulsariam dos céus todos que tivessem gostos subversivos e os tornaria caídos nas montanhas [...]".

Os deuses eram apaixonados, eles não poderiam suportar tamanha paixão, se deitavam juntos diariamente e tratavam-se entre homens fortes e soldados. Fundaram uma cidade no puro ódio que tinham de seus pais, por terem intencionados de enviá-los ao abate (ação realizada pelos deuses quando tinham filhos bastardos, para que evitassem a cólera de seus esposas), deram o nome de ambos, por serem um declarado casal de reis: Ashtlat. Os deuses se tornaram enfurecidos, não suportariam tamanha afronta: homens-deuses andando entre mortais, apaixonados e se deitando juntos, debochando dos deuses primeiros nomeando a cidade com seus próprios nomes. Agariopa'pola enviara uma dúzia de omonteks (soldados da deusa-mãe, imortais) para que fizessem com que as "aberrações" sofressem como nunca haviam experimentado antes. Reverberou-se de longe o que era exalado pela mãe odiosa, os soldados levaram anos em sua peregrinação até a cidade, os homens-deuses estavam em uma jornada ao Oriente, ouvindo histórias sobre montanhas muito altas e impérios tão vastos que seriam incapazes de percorrer sua totalidade durante a vida. Os soldados chegaram até a cidade e não encontraram os reis, pois então incendiaram toda recém-fundada cidade, matando milhares de pessoas e destruindo silos, armazéns e violentando mulheres e crianças, sem misericórdia e sem emoção, assim agiam os soldados da Deusa-mãe, eles não tinham almas, apenas seguiam ordens.

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