Adjetivo substantivo masculino, que ou o que instiga; incitador, açulador, estimulador. "Ele é o líder do grupo, instigador do motim". Que excita, desperta, estimula; instigante. "Mistério instigante". O que provoca; danador, provocador... "Anstifter"
-Ser um Anstifter não é algo fácil, muito menos belo, é como jogar xadrez sem ao menos conhecer as peças do seu oponente, a cada movimento uma casa se clareia, e outras cinco escurecem... Controle social não é uma ciência exata, mas pode ser estudada, analisada e colocada em prática como uma fórmula matemática, porém, é um sistema complexo, muitas incógnitas se você quer saber, eu movimento o peão para o outro lado do tabuleiro e não tenho mais controle sobre ele, veja... Uma torre, um bispo, um cavalo ou uma dama?
A mão do velho volta da caixa que estava aos pés da mesa, segurando uma peça, uma dama negra é colocada no lugar onde o peão, que era branco, estava.
-Por essa você não esperava - A risada sádica acompanhada do estalar da mão esquerda.
-E assim, a peça que eu protegi, levei rodada após rodada pra coloca-la do outro lado, movendo uma casa por vez e até sacrificando outras peças valiosas por ela, simplesmente se virou contra mim - Uma tosse seca e demorada - Me desculpe, preciso parar de fumar, onde eu estava?
-Sua peça se voltou contra você no seu jogo maluco... - Disse o homem que, sentado na cadeira a frente, se escondia pela ofuscante luz que iluminava o jogo do Anstifter.
-Sim... sim, bem lembrado, gosto de você rapaz, me faz lembrar o começo da minha profissão, bem, e agora... o que eu faço?
A cara do senhor se fechou enquanto encarava o tabuleiro, ele tentava passar uma expressão pensativa, que era sempre quebrada por rápidos olhares, os quais pareciam buscar alguma resposta da figura que falava pouco.
-Eureka! - Exclamou o senhor, com uma feição de quase deboche e um ânimo não esperado para situação um tanto tensa que se passava ali - Você sabia que um pensador antigo, um doido, gritou isso ao ver água derramando de uma banheira? - O velho não aguardava uma resposta, simplesmente continuou - De fato uma descoberta óbvia, não é mesmo?
Agora parecia esperar por algo, aquela alegria anterior foi trocada por um olhar fitante, mais conveniente com a situação, sua face ficou totalmente desprovida de emoção, qualquer tipo, seja boa ou ruim, não se soube o q aconteceria nesse momento.
-Não é óbvio? - Disse o idoso com total melancolia em sua fala.
O homem, que antes estava sentado, se debruçou sobre a mesa, apoiando seus braços na borda e revelando sua face na luz que incidia, um distintivo, que ficava pendurado em seu pescoço, se chocou contra a mesa de metal, fazendo um agudo barulho, seu olhar era de desconfiança, e sua boca se abriu para questionar.
-O que é obv... - Foi interrompido.
Os olhos, agora fechados, do Anstifter passavam um tom de serenidade, como se estive relaxando, até mesmo aproveitando o momento, o cheiro da pólvora, e a sensação do sangue que escorria pelo seu rosto seriam horrorizantes para qualquer outro. O corpo tinha caído acima do tabuleiro, estragando o jogo que já durava horas, a única peça de pé era a dama negra, justamente ela e logo a frente do buraco feito na testa do oficial.
A cadeira foi afastada da mesa dando espaço para que pudesse se levantar, a pistola, com o cano ainda quente, foi guardada no coldre, preso a sua perna, os olhos se abriam com cuidado, não queria que sangue entrasse neles, enfim, procurou o canto da sala e rapidamente se dirigiu a ele, com a mesma mão que disparou segurou na alça de um galão vermelho, cheio com cerca de cinco litros de gasolina, e circundou a sala, enquanto entornava o líquido por onde passou, agora já sem combustível e a passos curtos, caminhou, até o centro da sala.
Na mesa iluminada, aproveitou para encostar o recipiente, e fazer uma ultima checagem no corpo, procurando por algum papel importante ou algo que poderia mostrar o envolvimento dele com aquele cadáver, não achou nada, suas mãos acariciam sua cabeça, passando entre seus poucos cabelos e enfim, com seu indicador, aponta para a dama ainda de pé... Um movimento ríspido, derrubando-a com um só toque, uma situação que aparenta ser engraçada.
-Eliminar... Não era óbvio pra você?
Com sua fala, atina que já é hora de partir, e em três passos chega a porta da sala, era a única e dali já conseguia escutar as ondas quebrando nos rochedos, novamente, uma tosse repentina, sinal para buscar em seu casaco o pacote de cigarros que sempre levava consigo, e o isqueiro, para poder dar continuidade ao seu péssimo habito.
Tragou três vezes, e praticamente chegou na metade, abrindo a porta buscou o pier, onde estava atracado o barco que usaria para a fuga do local, não era uma praia movimentada, mas não queria deixar rastros para ser eventualmente seguido, com seu caminho traçado, olhou para o meio cigarro que segurava entre os dedos - Preciso parar de fumar - arremessando-o em direção a sala, o que gerou a fagulha inicial do incêndio que levaria consigo provas que ninguém nunca mais ouviria.
YOU ARE READING
N/A
Historical FictionAté onde um homem é capaz de ir para manter o q é chamado de ético e moral?