Eu, Wattpad

Pela Estrada A Fora Eu Vou Bem Sozinha

Jaque me emprestou um par de sandálias de um material muito parecido com madeira. As tiras têm pequenos diamantes cravejados que parecem até acender quando os pés se movimentam. Os sapatinhos de Alice estavam me dando bolhas e inchando meus pés. É um alívio Jaque e eu usarmos o mesmo número de sapatos, pois eu estava prestes a começar a andar descalça por aqui.

Wattie precisou voltar até a outra categoria e tentar mexer na cabeça de Edward e Jacob para esquecerem o que falei. Acredito que a parte mais difícil seja apenas encontrá-los. Ofereci minha ajuda, mas ela disse que já fiz bagunça demais. É claro que chegando lá eu saberia aonde estariam a essa altura. Jacob na reserva indígena e Edward provavelmente caçando ou em sua casa. Por não me levar, eu não disse uma palavra do que sabia. Eu sou daquelas pessoas que amam ver alguém se lascando por não querer me ouvir. Wattie me fez prometer ficar com a Jaque e não fazer nenhuma besteira. E aqui estou eu: sentada no chão de madeira da cozinha folheando um livro de receitas escritas pela própria Jaque.

Ao meu lado havia uma pequena caixinha de som vermelha conectada a um carregador na tomada perto do chão. Olhei para o pendrive conectado na entrada e fiquei curiosa em saber que tipo de músicas Jaque escuta. Liguei o aparelho e dei play. Tocava "Polarize" do twenty one pilots. Além dos pés também temos o mesmo gosto musical. A julgar pelo estilo, achei que ela curtia músicas clássicas e instrumentais. Acredito que em algum lugar fora daqui, se nos encontrássemos, poderíamos até ser grandes amigas.

Volto minha atenção para o livro de receitas, mas um par de sapatilhas azul-petróleo desliza entre a foto polaroide de uma torta e seu modo de preparo. Olho para cima e é Jaque. Ela me convida para levar guloseimas até sua avó e conversarmos melhor. Acredito que tenha reparado o quanto fiquei mais distante e calada ao saber que ela também é uma Visitante.

Depois de calçar as sapatilhas eu mexo os pés para lá e para cá admirando-as. Dou alguns passos em círculos e me surpreende como os calçados são confortáveis, parecem até se ajustarem nos meus pés. Jaque me olha e ri.

— Nunca viu sapatilhas? — Ela diz andando até a caixinha de som e a desligando. — Essas comprei em um brechó na França.

Ela caminha até a mesa de vidro e coloca a cesta de piquenique sobre ela. Logo ofereço ajuda para arrumarmos juntas a cesta com tudo que levará. Ela aceita. Colocamos todos os sanduíches da mesa e a torta de morango que ela fazia quando cheguei. Da geladeira ela tira dois vidros de geleias caseiras de uva e morango. Também colocamos cookies de um adorável pote de urso em cima da geladeira. Uma garrafa de suco natural de limão e laranja e algumas maçãs frescas que colheu pela manhã.

— Não acha que vai ficar muito pesada? — Digo colocando a última maçã e roubando um cookie.

— Não. — Ela sorri. — Não tem nem a metade do que costumo levar. Misturei um feitiço de expansão com outro para deixá-la sempre leve. Posso fazer a mudança da casa inteira só com ela.

Desço as escadas e Jaque vem logo atrás. Olho para os raios solares entre os galhos e folhas. É engraçado como o tempo parece passar tão devagar nas histórias. Quando me viro Jaque está amarrando os cordões do capuz, mas não o coloca na cabeça.

— Achei que não o usasse mais. — Comento.

— Ah, e não uso. Só quando vou ver minha avó. Ela o ama.

As copas das árvores parecem brilhar sob o sol. Passarinhos cantam, alguns passam por nós. Um vento gostoso faz cócegas no meu rosto e aceno para fadinhas que voam para lá e para cá em um divertido pega-pega.

— Está aqui faz cinco anos mesmo? — Pergunto.

Ela demora para responder como se pensasse na resposta e depois de olhar para o chão gramado diz: