(Fábio)
Deixo a Maria dormindo e vou pra sala. Alguém bate na porta e eu já sei quem é. Só o Tomaz não toca a campainha quando vem me ver.
_Entra._Digo assim que o vejo parado e com as mãos nos bolsos._Qual é a bronca dessa vez?
_O pai da Leslie foi preso._Ele diz entrando._Ela está lá com a Bianca. Resolvi deixá-las à vontade. Só não trouxe a Júlia porque ela estava dormindo.
_Nossa..._Sento no sofá atordoado._Ela deve estar desolada. Eu quero vê-la.
_Aquieta teu fogo, parceiro. A tua mulher é a Maria, não a Leslie. Você só está se machucando com isso, Fábio. Você está se sentindo preso por causa do bebê? Acha que vale a pena? A Maria é muito legal, mas não é ela que você ama.
Depois que ele fala, um estrondo é ouvido e eu vejo tudo lentamente. Maria rola escada à baixo batendo violentamente no chão. Corro desesperado até ela que está desmaiada. Sangue sai pelo seu nariz e testa. Automaticamente lágrimas inundam meus olhos.
_Droga!_Tomaz pragueja atrás de mim._Acho que ela ouviu.
_Chama uma ambulância. Eu não posso tocá-la ou posso piorar sua situação.
Tomaz liga pra uma ambulância por enquanto que seguro sua cabeça chamando pelo seu nome incansáveis vezes. Alguns pingos de lágrimas minhas caem em seu rosto. Se ela perder o bebê eu não vou conseguir me perdoar.
_Estão vindo._Ele volta e se abaixa perto de mim._Ela tem sangue entre as pernas, Fábio. Merda!
Eu sento no chão e choro que nem uma criança desolada. Estou arrasado. Dói muito. Ela só pode ter perdido... Meu Deus, eu não vou me perdoar por fazê-la passar por isso!
Os socorristas aparecem e a levam em uma maca com todos os cuidados possíveis. Dei todas as informações que tinha e eles a levaram. Tomaz avisa a Bianca que estamos indo pro hospital no meu carro. Tomaz está dirigindo porque nesse momento eu esqueci como faz isso. Chegamos rapidamente e eu praticamente pulei do carro em movimento. Levaram-na para uma sala onde eu não podia seguir. Tomaz teve que me segurar pra eu não invadir o lugar._Foi culpa minha, me perdoa._Tomaz me abraça._Ela deve ter me ouvido.
_Você não teve culpa, você não mentiu em nada que disse. Não vamos focar em achar culpados, vamos pensar que ela vai ficar bem e sair daqui com meu filho na barriga.
Tive que preencher uns documentos por enquanto que Tomaz foi estacionar o carro dignamente. O mesmo acabou parando na frente do hospital e não no estacionamento. Mandei uma mensagem pro pai da Maria, não tive coragem de ligar. Apenas disse que ela caiu e eu estava com ela no hospital. O velho é muito doente, problemas respiratórios. Pedi pro mesmo ficar tranquilo que tudo vai se resolver. Estou crendo nisso também.
_A Bianca está cuidando da Júlia por isso não pode vir aqui._Tomaz me entrega um copo com água._Alguma notícia?
_O médico até agora não apareceu. Eu não sei mais o que fazer, Tom._Bebo um pouco de água._Só acontece coisas ruins na minha vida.
_Não seja pessimista!_Ele toca no meu ombro._Isso são acontecimentos da vida. Acontece com as melhores e piores pessoas. É algo geral, entende? Passei por muita coisa também, amigo. E hoje sou o cara mais feliz do mundo. Isso agora é passageiro, acredite.
Assinto e termino de beber a água. Minutos depois o doutor aparece explicando que a Maria teve algumas escoriações e as mesmas já foram tratadas. Houve uma pequena hemorragia e eles estão fazendo todos os exames pra saberem do bebê. Prometeu voltar com respostas.
_Pensamento positivo, Fábio._Meu amigo massagea meus ombros me dando apoio.
Recebo uma ligação do pai da Maria e conto as partes que ele deve saber. Não quero ser causador de mais desgraças. O mesmo fica muito assustado, mas eu o tranquilizo. Foi logo perguntando do neto, o que me fez quase chorar de aflição, e eu respondi que nada sabia ainda. O que era verdade. Fiquei sentado com as mãos no meu rosto, pensativo. Tomaz estava ao meu lado, em silêncio.
_Sr. Aquino?_Ouço o médico chamar e então levanto de prontidão._Depois de fazermos os exames, declaramos com total certeza que não há mais vida dentro do útero da sua mulher. Com a queda veio uma hemorragia e consequentemente o feto não resistiu.
_Não..._Coloco minhas mãos no rosto._Não tem mais bebê? É isso? Não vou ser pai? Eu perdi meu filho pra sempre?
Tomaz me abraça e o médico avisa que precisa de autorização pra fazer uma curetagem. Assinei totalmente transtornado e então ele foi embora desejando melhoras. Chorei. Chorei muito. Chorei até sentir meu nariz entupir. Eu sabia que todos ali me olhavam, mas eu não me importava. Meu filho morreu. Uma parte muito grande de mim morreu.
_Eu sei que está doendo, Fábio. Eu também perdi a Nathalie, lembra? Não há nada que preencha isso, mas não adianta ficar assim, cara._Ele sussurra._Você vai ter várias oportunidades de tentar fazer outros filhos. Não desanima, Fábio.
Eu não conseguia falar nada. Nada. Foi quando uma mão desconhecida pousou no meu ombro. Um gesto de afago e eu ergo a cabeça. Na verdade essa mão não é nada desconhecida.
_Você?_Sussurro sentindo meus olhos inundarem novamente.
_Sim, eu._Ela se abaixa e toca no meu rosto._Você precisa comer alguma coisa. Vem comigo.
Olho rapidamente pro Tomaz e ele assente como se dissesse que fez isso porque queria me ver bem. Foi ele que chamou-a. Ela me puxa até o refeitório do hospital. Olho por uma janela e percebo que está bastante escuro. Olho pro relógio do meu pulso e percebo que já são 20hrs. Já sentados na mesa, encaro seus olhos avermelhados.
_Você chorou..._Sussurro._Não gosto de saber que chorou.
_Olha pra você, Fábio. Está destruído e ainda se preocupa comigo._Ela toca na minha mão._Mas quem vai cuidar de você sou eu. Suco ou café?
Ela é incrível. Sei que a Maria está internada, provavelmente passando por procedimentos médicos dolorosos e mesmo assim eu estou encantado por vê-la aqui, por mim. Eu mereço? Sei que não. Jamais mereceria.
***
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Recomeçando - Duologia Recomeço
RomanceLivro 2❤ Depois de mais de um ano desde o último encontro com Fábio, Leslie volta ao Brasil. Ela sabia que iria encontrá-lo, afinal, ele é o padrinho da pequena Júlia. E ela, a madrinha. Sabia que não estava preparada pra vê-lo novamente, sentia med...