O Mistério de Derbyshire

Parte Única

Eu não podia estar mais irritada.

Aquele casarão velho rangia e estremecia com a tempestade horrenda lá fora. Estava me revirando na cama havia umas poucas horas. De jeito nenhum pregaria o olho naquela residência decrépita que caía aos pedaços a cada trovoada que soava na escuridão de Derbyshire.

As telhas chacoalhavam, as velas tremeluziam, e eu começava a me sentir num pesadelo. Sem dúvida alguma, poderia dar algumas das minhas melhores joias por uma passagem rápida até nossa amada - e seca - propriedade. Em vez disso, eu e Lyanna fomos obrigadas a parar numa mansão mais antiga que Deus sabe o que, nos abrigando sob a asa do Marquês de Kingston.

O pior era que nem tínhamos o conhecido ainda.

Os empregados foram diretos e sucintos sobre a preferência do patrão com o seu modo reservado de ser. Mas que tipo de anfitrião não recebia as próprias hóspedes, e sendo elas as irmãs do Visconde de Tamrynn Hall? Talvez ele fosse um velho babão, enrugado e mal humorado.

Com um suspiro, me ajeitei nos lençóis cheirando a naftalina, pelo que talvez fosse a décima quarta vez naquela noite.

Então passos pesados soaram no corredor, fazendo um arrepio correr pela minha espinha. Antes de vir para essa mansão lembrei que cinco anos atrás soube que o Marquês era suspeito de ter assassinado suas duas esposas, todas um ano após o casamento.

Naquele momento pensei sobre as acusações e sobre o desaparecimento muito suspeito de sua mãe, e o fato de seu pai nunca ter feito nada para achá-la. Então, ouvi uma porta sendo aberta entre rangidos, muito próxima a meu quarto. Por Deus, onde fui amarrar meu cabritinho?

Pancadas leves na porta do meu quarto, fizeram-me sobressaltar. Levei minha mão ao coração, ao mesmo tempo que escutei:

— Milady, o jantar será servido daqui a meia hora. — Era só o mordomo! Calma Laura se trata apenas do mordomo...

Massageei meu peito tentando acalmar meu coração.

— Ahn...obrigada. Logo iremos descer.

Escutei os passos dele se afastando pelo corredor.

— Quase tive um ataque cardíaco — disse entre risadas, tentando abafar o som com a mão.

— Você não ficou com medo, Lyanna?

Nesse momento, todos os fios de minha nuca se arrepiaram.

Lyanna não estava na cama.

Pensei em todo o trabalho que essa menina deu durante a viagem. Sempre tinha sido muito assanhada, e o nosso irmão ainda tinha contratado aquele cocheiro escocês com cara de mal caráter.

— Sabia que daria problemas, aposto que foi espiar o que ele está fazendo — disse em voz alta.

Saí para procura-la, e quando me vi em um enorme corredor lembrei que não sabia onde o cocheiro poderia estar.

Antes que me decidisse aonde ir, vi Lyanna vir correndo em minha direção mais branca que um fantasma, a vela que eu usava para iluminar o corredor não permitia que eu enxergasse muito bem, mas ainda assim pude ver que sua camisola e sua capa estavam com manchas vermelhas por toda parte. Por um momento pensei que aquela fosse uma assombração e que Lyanna estaria morta em algum lugar.

— Laura! — a assombração gritou e se atirou em meus braços, fazendo-me perceber que era minha irmã em carne e osso. — Foi horrível! Bem que o cocheiro disse que essa casa era mal assombrada. Vamos embora, por favor, eu não quero ficar aqui.