IX- Frente fria

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Dylan entendeu o que eu quis dizer com isso, dei de ombros não por não saber da resposta, mas sim por querer responde-la uma outra hora, eu sabia que ele não estava completamente feliz, é muito doloroso perder um ente muito querido, ainda mais quando fazemos da nossa felicidade a felicidade dessa pessoa, mas eu sabia que ele havia se permitido suportar isso, se permitido aguentar essa dor, depois de ter lido sua pergunta e dado de ombros, ficamos nos olhando e tentado entender o porquê criamos ódio um do outro, ódio esse que agora não era mais visível, surpreendentemente desapareceu, como se nunca existisse, como se nunca tivesse saído da minha boca uma palavra idiota

Estava ficando cada vez mais frio, certamente a frente fria que os jornalistas se referiam estava chegando, as pontas dos meus dedos já não eram mais sentidas, haviam adormecido por culpa do gelo, e era difícil sentir as coisas nessas condições, Darwin não estava agasalhado adequadamente, eu sabia que estava mais frio agora do que antes, e ele não suportaria muito tempo exposto aqui, e nem eu, uma névoa branca se estendia escondendo de nos a ampla visão do ambiente, não conseguimos ver claramente a estrada de neve, tínhamos que ir pra casa o quando antes ou congelariamos aqui e acabaríamos morrendo

Escrevi o seguinte, sem me preocupar com a caligrafia já que tinha pressa pra chegar em casa onde era mais seguro, e mais quente, assim podíamos nos aquecer

vamos pra Minha
casa, quero lhe
Agradecer

Depois de ler ele escreve devagar, e eu não consigo esconder minha preocupação com a nevasca

A que você estar
Me agradecendo?

Estava com muito frio e não pude esconder que estava começando a tremer, enquanto ele aquecia suas mãos com seu halito quente, eu tentava me manter mais forte o possível

A você ter salvo
Minha vida no
Acidente
Por você estar lá
quando precisei
E por estar aqui

Ps. Não negue por favor

Percebi sua expressão surpresa, certamente ele não fazia idéia de que eu já sabia que tinha sido ele a avisar a emergência, se não tivesse ninguém no exato momento, eu poderia ter morrido

Ele assentiu com a cabeça e nos ficamos de pé, a caminhada de volta parecia ter sido mais longa, e foi difícil andar as cegas na nevasca, o silêncio foi nossa amiga naquele momento

***
Girei a chave na porta do meu apartamento, e rezei, na verdade, implorei e torci pra que o local estivesse intacto, esperando que meu gato não tivesse colocado a casa de pernas por ar, Dylan estava bem atrás de mim, pude ouvir o bater de seu pé ao chão, mas não era de impaciência, e sim de nervosismo, tenho certeza disso, pois ele nunca mostrou ser impaciente

O que eu não entendi foi o motivo do seu nervosismo

Abrir a porta de madeira a minha frente, bem devagar, temendo estar tudo batucada, mas surpreendente tudo estava em seu devido lugar, nada estava fora de ordem, e felizmente meu gato se encontrava dormindo no mesmo lugar em que eu o deixei, na cama, Dylan entrou em seguida e pude velo percorrer seus olhos em cada cômodo da casa, as janelas, minha cama, uma mini cozinha que tinha vista pro quarto e meu vilão, seus olhos curiosos guardavam cada detalhe na mente, para que não pudesse esquecer caso não voltasse mais aqui

Sem que eu fizesse qualquer tipo de gesto ou coisa do tipo, pra que ele sentasse, se moveu rapidamente e deitou na minha cama, cruza os braços atrás da cabeça e fechou os olhos, certamente estava se sentindo em casa, mas eu não o trouxe aqui pra dormir, depositei minhas chaves em cima da cômoda entre a porta e a cama, e o acertei um travesseiro no rosto, o engracado foi ver ele pular da cama assustado, se perguntando o que aconteceu, não contive minha gargalhada, aquela cena me encheu de alegria

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