Capítulo 3

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Caro Fred,

Hoje eu visitei a Toca. À princípio, quando avisei mamãe que iria, imaginei que seria apenas outro dia comum em que eu apareceria pela lareira entre as chamas de flu e perguntaria a ela se tudo estava indo bem. Aquele bem que a gente diz para que as pessoas não perguntem muito, sabe? Pois é. Mas eis que as coisas foram bem diferentes.

Logo que cheguei pude ver que Ron e Gui já estavam por lá, o que me soou um tanto estranho, já que o Roniquinho aparece tanto quanto eu. Então chegaram Harry, Gina e Hermione. Fiquei feliz ao ver a casa cheia como nos velhos tempos, quando passávamos as férias juntos e logo depois mamãe gritava aos céus para que arrumássemos nossos malões para voltarmos a Hogwarts. Que saudades.

Nós almoçamos juntos. Rimos tanto das histórias de Ron sobre viagens que ele tem feito como correspondente de quadribol quanto das de Harry sobre acontecimentos em seu departamento no Ministério da Magia. Acredita que ele e Malfoy são colegas de departamento, Fred? Isso é totalmente insano! Quase me engasguei com meu copo de abóbora espumante quando ele me contou. Parece que sua "experiência" próximo de comensais tem algo a ver com isso.

A tarde teria sido perfeita, não fosse por um detalhe: a sua ausência. Mesmo entre nossos risos havia um peso imenso, peso esse que se tornava visível através da cadeira vazia ao meu lado, que é onde você normalmente teria se sentado. Durante as conversas que se correram ao longo da tarde, muitas vezes eu me peguei virando para o lado e comentando com o vazio sobre qualquer coisa engraçada que fosse. Senti sua falta.

Mamãe viu todas as vezes que fiz isso e me olhou com um brilho triste. Me senti a pior pessoa do mundo quando a encontrei chorando num canto da casa horas depois. Por mais que ela diga que se alegre com as minhas visitas, sei o quanto é difícil para ela – aliás, para todos – estarem diante de mim. Deve ser horrível olhar para George sem que Fred esteja ao seu lado, não é? Eu sofreria muito mais se andasse vendo meu reflexo.

De todo modo, vamos mudar de assunto um pouco. Lembrei-me de algo realmente maravilhoso que ainda não contei. Fleur está redondamente linda. Por mais que ainda esteja no início da gravidez, já está com ares de mãe e isso me deixa feliz de verdade. De todas as pessoas que eu conheço, a quem eu desejaria mais felicidade do que a nova família do meu irmão? Enquanto a olhava sentada no sofá tendo Gui a acariciar sua barriga, que já está começando a ficar notável, me lembrei de muitas coisas, como o dia em que mamãe nos contou que estava grávida de uma garotinha. Lembra disso? Nós nem sabíamos o que eram garotinhas, porque vivíamos entre garotos que se sujavam no imenso quintal caçando gnomos ou voando em suas vassouras. Lembrei também como Gina costumava andar com seu pufoso no colo dia e noite, do modo como corria quando Harry vinha visitar Rony e de quando a pegávamos escrevendo em seu diário. Também sinto falta da criança que Gina foi um dia.

Ao mesmo tempo em que tudo isso surgia na minha mente, Hermione se aproximara de mim em silêncio. Era uma das únicas pessoas – na verdade, a única mesmo – com quem eu me sentia à vontade. Hermione não sente o peso da sua falta ser duplicado ao me ver, como os outros. 

Eis que depois dessa aproximação toda eu me peguei a observando melhor. Me sinto mal ao dizer isso; afinal, ela sempre foi a amiga dos nossos irmãos mais novos, uma "zona proibida". Porém, não posso mentir, a garota é fantástica. Já não vejo nela a grifinória sabe-tudo de anos atrás, mas sim uma mulher maravilhosa. Acho que devo estar ficando maluco, não é? Quero dizer, não que ela não o seja, porque ela é... Mas Hermione é como uma irmã. Eu não deveria vê-la assim.

Eu queria poder falar sobre isso com alguém para que pudesse me entender melhor. Ron me daria uma lição de moral imensa. Gina arquitetaria planos mirabolantes. Harry não consegue entender nem a si mesmo. Não me sinto a vontade falando sobre algo assim com Gui. Mamãe faria um típico escândalo, o que faria todos ouvirem. Papai simplesmente me incentivaria, ao invés de me fazer entender o que está ocorrendo comigo. É, acho que estou numa situação difícil.

Não mais difícil do que o que aconteceu depois da minha aproximação com Hermione. É, eu a beijei. Não um beijo com necessidade de contato físico, saciação de desejo, mas um beijo de quem quer transmitir a confusão em si através dos lábios. Foi engraçado. Digo, em um momento nós estávamos conversando baixinho sentados no antigo balanço da Gina no extremo do quintal e no outro eu já não estava mais prestando atenção nas palavras dela, porque estudava com dedicação cada linha do seu rosto. Então me pareceu óbvio que eu devia beijá-la e eu o fiz sem nem mesmo pensar.

Será que eu estou apaixonado, Fred? Permaneci deitado no sofá por horas a pensar sobre como ela rira ao terminar nosso beijo, como se aquilo tivesse sido alegre para ela como havia sido para mim. Me condenei por não ter quebrado o silêncio que se formara depois, mesmo que eu simplesmente tivesse dito qualquer bobagem. Porém, eu estava ocupado demais analisando o gosto da boca dela na minha para soltar qualquer piada estúpida.

Bom, acho que você já deve estar cansado de tudo isso, não é? Pra encerrar eu confesso a você: Acho que estou apaixonado pela sabe-tudo Granger.

Do seu irmão que anda debilmente risonho,

George

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⏰ Última atualização: Apr 04, 2018 ⏰

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