Capítulo 2 - Trabalho em Dupla

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17 de setembro de 2012, segunda-feira

Eleanor sentia um arrepio percorrer a espinha todas as vezes em que os professores anunciavam que os trabalhos do dia seriam em dupla. Não achava a proposta de todo ruim, só acreditava que seria muito mais proveitoso se eles, os alunos, pudessem escolher com quem iriam fazer a tarefa. Não era o caso. O colégio Lady Margareth School acreditava que seus estudantes seriam contratados por grandes empresas, no futuro, e por isso estavam ali para treiná-los para aquela realidade.

Em uma empresa o funcionário não escolhe quem vai ser seu colega nas atividades. Não seria ali que escolheriam, então.

A garota Langlie acreditava que aquilo era mais prejudicial para o aprendizado do que o contrário. Eles eram alunos, não funcionários. Tinham que viver experiências de alunos. Desenvolver o espírito de equipe possibilitando que os adolescentes pudessem organizar seus próprios times parecia muito mais produtivo — fazer trabalhos na companhia do amigo era muito mais legal do que com aquele zé que senta do outro lado da sala, e que você nem presta atenção na existência.

Porque, sim, também tinha essa. Não bastava tirarem a autonomia dos alunos em escolher a própria dupla, os professores também organizavam as listas de uma forma que fazia os colegas trabalharem com quem não tinham muita proximidade, tudo visando a interação entre cada um. Um saco, era a opinião de Eleanor. Um grande e belo saco.Sabia que não ficaria com Linus, muito menos com Neil — até incluiria Alexia nessa lista, mas por incrível que pareça, tinham sido unidas pelos professores em anos anteriores. A despeito do carinho que já nutriam uma pela outra, descobriram naquele dia que não funcionavam juntas em trabalhos em dupla. A amizade quase acabou.

Pelo menos o dever daquela manhã era da disciplina de Inglês. Eleanor não era a favor de fazer trabalhos sozinha e permitir que a dupla levasse nota às suas custas — Sebastien Prier sabia disso muito bem. Ele jamais esqueceria o zero em História, já que Ellie tirou seu nome do relatório alegando falta de contribuição do colega —, mas naquele dia, se fosse obrigada a compartilhar conhecimento com alguém lento — ou burro — demais, ela estava disposta a fazer tudo por conta própria e dar a nota máxima pra quem quer que fosse, de lambuja. Era sua matéria preferida, ela estava até que bem humorada e, principalmente, queria se ver livre daquilo logo.

Não soube ao certo o que pensar quando viu seu nome ser escrito ao lado do de Lincoln Herman, no quadro negro. Olhou discretamente para o lado, encontrando a silhueta alta e magricela sentada há duas cadeiras de distância. De perfil e com o queixo apoiado na palma da mão, Herman parecia tão empolgado quanto ela e o restante da sala inteira.

Ele era bom. Não que Eleanor tivesse acesso ao seu histórico, nunca teve, mas os professores também tinham o péssimo hábito de organizar a entrega dos testes por ordem de nota: as primeiras folhas entregues eram as de quem tinham tirado as notas mais baixas, enquantos os últimos representavam os donos das maiores pontuações — uma brincadeira com o ditado "os últimos serão os primeiros". Ela, Linus e Lincoln costumavam ser os últimos, na maioria das vezes.

Nunca tinha nem escutado a voz de Herman, porém.

Tudo bem, "nunca" é uma palavra um tanto forte e até errada. Volta e meia eram os primeiros a chegar na sala de aula, de manhã, soltando um "bom dia" um para o outro quando o humor era bom o suficiente para desejar algo do tipo a alguém com quem não tinha o hábito de bater papo — ou seja, pouquíssimas vezes. Não pertenciam ao mesmo círculo de amizades apesar de ficarem separados apenas por duas carteiras durante as aulas, quase todos os dias. Tudo o que sabia sobre o garoto era nome, sobrenome e que suas notas deveriam ser tão altas quanto as dela, informações colhidas ao longo dos quase dois anos sendo colegas de classe.

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⏰ Última atualização: Apr 05, 2018 ⏰

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