Amor Proibido

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Baía de São Francisco, 1945.

*Detento Mil e Onze*

Era mais um daqueles dias quentes de verão que faziam toda a ilha fervilhar. O sol castigava nossa pele e mesmo assim cada um de nós trabalhávamos arduamente sem reclamar,  pois até mesmo o sol escaldante era uma opção mais razoável, se levássemos em conta que a outra opção era ficar naquela maldita cela que mais parecia uma ratoeira.

Hoje completam três anos que fui transferido para a Prisão Federal de Alcatraz, meu péssimo comportamento na prisão anterior foi meu passaporte para esse inferno na terra. Essa maldita prisão impenetrável em meio a uma ilha na Baía de São Francisco, muitos a chamam de A Rocha, outros de a Ilha do Diabo.  Nos Estados Unidos se você infringe a lei vai para prisão, mas se você quebra as regras da prisão, seu destino é Alcatraz.

Esse é o destino final de criminosos como eu. Todos que aqui foram “melhores” na arte do crime. Gangsteres, mafiosos, traficantes e assassinos são alguns dos adjetivos que compõe nossa extensa ficha criminal.  

 Hoje meu lar é uma construção de mais de sete mil metros quadrados de tijolos. Um local frio, escuro e fantasmagórico envolto em uma névoa sombria na maior parte do ano. Um lugar realmente horrível de se viver. Ninguém é enviado para esta prisão com o intuito de ser ressocializado, o único objetivo aqui é punir os piores criminosos.

Alcatraz foi criada 1934 em uma época em que a criminalidade no país alcançava níveis catastróficos, sua criação buscou devolver o prestigio a justiça americana que estava um pouco desgastada naquele período. A máfia era invencível, os mafiosos eram admirados como astros de cinema e jamais eram devidamente penalizados. As outras prisões sequer conseguiam conter esses criminosos, eles sempre acabavam fugindo desses lugares, um exemplo disso foi a fuga do casal de bandidos conhecidos como Bonnie e Clyde.  Pouco antes de inaugurar Alcatraz, o índice de homicídio nos Estados Unidos havia aumentado cerca de quase mil por cento. Resumindo, Alcatraz foi uma resposta do “Tio Sam” para os famosos criminosos do submundo.

Nesses três anos em que aqui estou eu vivenciei muita coisa, muitas delas terríveis, quase morri diversas vezes, mas agora procuro não me envolver em  confusão. O péssimo homem que fui está aos poucos sendo domado e o pior de tudo é que o responsável por isso é aquele maldito pirralho do outro lado da cerca.

- Me diz senhor Mil e Onze... por que você não gosta de cachorros? A Mikasa disse que você não gosta porque é um idiota, mas eu acho que é porque você tem medo. – Com certeza pior que as paredes de Alcatraz é a língua afiada desse pirralho, filho do diretor da prisão.

Eren Jaeger é um garoto de 12 anos que insiste em ficar próximo as cercas que dividem o campo onde trabalhamos com a área de lazer dos civis. Alguns prisioneiros de Alcatraz trabalham no campo que fica próximo a área de lazer dos moradores da ilha. As famílias dos guardas, assim como eles, também vivem em Alcatraz. A justificativa para isso é que seria muito caro para o governo pagar para que os guardas fossem e voltassem de São Francisco, por isso cerca de trezentos civis residem por aqui. Eren é filho do diretor e devido a isso acredito que os guardas não se incomodam tanto com o fato dele ficar o tempo todo falando comigo.

No início eu o ignorava, mas depois se tornou impossível, respondendo ou não ele não parava de falar. Essa “amizade” começou no dia em que devolvi a bola dele que caiu onde eu estava trabalhando, mas eu mentiria para mim mesmo se dissesse que não gosto de ouvir suas histórias. Ele me chama de Mil e Onze porque aqui somos conhecidos apenas por números, uma das coisas que perdemos nesse lugar além da liberdade é o direito a um nome. Aqui o pior dos criminosos perde seu nome e ganha um número. Aqui não temos direito a identidade.

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