A sorveteria que Ashley escolheu era bem aconchegante, decorada em tons claros e pastéis, com várias mesas espalhadas pelo local, um balcão com bancos giratórios e estofo bege e um grande cardápio atrás, várias pessoas conversando e atendentes rodando pelo lugar. Optamos por uma mesa mais ao fundo para conversarmos mais à vontade. Ficamos um tempo olhando o cardápio até que decidimos pegar um açaí com confete e nutella, para ela, e um milk-shake de torta alemã com cobertura de chocolate, para mim. Enquanto ela falava com a atendente eu respirei fundo, tentando me calmar.
Cheira a flor. Inspirei.
Assopra a vela. Expirei.
Cheira a flor. Inspirei.
Assopra a vela. Expirei.
Sim, sei que é meio infantil, mas me ajuda bastante. Repeti esse processo mais umas seis vezes até me acalmar o bastante para agir normalmente nesse encontro.
Assim que a atendente saiu para fazer os sorvetes um silêncio se instalou entre nós e, como sou um desastre para iniciar uma conversa, acabo por ficar olhando para os guardanapos na mesa. Sinceramente, acho que eu deveria fazer algum curso para saber como puxar assunto, será que existe? Seria interessante e de muito ajuda, até porque, se for para mim começar a conversa, pode acreditar que começarei com "como foi seu dia?", "você já comeu batata?", "você acredita em unicórnios?" ou "eu quero ter um cachorro chamado Boris, e você?".
- Char? Tudo bem? - Ashley estralou os dedos em frente ao meu rosto me despertando dos pensamentos.
- Oi, sim, eu só me distraí, desculpa - Falei desviando o olhar.
- Tudo bem, no que pensava? - Perguntou apoiando os cotovelos na mesa e o queixo nas mãos.
- Nada demais, o de sempre - Respondi.
- E no que você sempre pensa? - Perguntou divertida.
- No porque o violinista não foi ao concerto? - Respondi segurando o riso.
- Não sei, porque ele não foi? - Ela perguntou não entendendo.
- Por que ele não estava quebrado - Respondi e comecei a gargalhar.
- Ai meu deus - Ashley riu comigo. - Eu tenho uma também. O Robin vivia enchendo o saco do irmão, até que este contou tudo para a mãe, qual o nome de filme?
- Hum... Morte da Sacola? - Falei a primeira coisa que veio a minha cabeça.
- O que? Não! É Bate mãe e Robin - Falou e riu alto.
- Espera, o que? Bate mãe e Robin... Batman e Robin, ai meu deus! - Bati a mão na testa e comecei a rir bastante.
- Eu tenho mais uma: porque a galinha entrou na igreja? - Perguntei ainda rindo.
- Para ver a missa do Galo - Falou revirando os olhos e rindo.
Nossos sorvetes logo chegaram e fomos parando de rir aos poucos. Tomei um pouco do meu milk-shake e fiquei encarando ela discretamente, mas acho que não funcionou muito, pois ela logo percebeu meu olhar sobre ela e sorriu.
- Quer um pouco? - Perguntou apontando para o seu pote de açaí.
- O que? Não, obrigado - Falo corando.
- Não gosta de açaí? - Falou meio chocado e fez uma careta engraçada, o que fez eu rir um pouco antes de falar.
- Não. Sim. Quero dizer, eu nunca comi açaí - Falei me atrapalhando um pouco.
- A, é verdade, eu tinha esquecido. Quer um pouco do meu para experimentar? - Perguntou já pegando um pouco na colher.
- Hum, pode ser - Falei sem ter certeza. Ela levou a colher até a minha boca e eu, quase desmaiando de nervosismo e felicidade, comi. Na hora que engoli senti um gosto ruim e tossi, tomando um pouco do milk-shake para tirar o sabor da minha boca.
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Hurt Heart
Short StoryCharlie O'Neil é só mais uma pessoa entre as milhares de sua cidade, só mais uma cabeça entre as várias de sua escola. Tem amigos como a maioria, estuda para entrar em uma boa faculdade, vai a festas, assiste a filmes, come besteiras. Ou seja, é ape...