Minha infância...

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Quem viveu sua infância no final da década de 70 e de 80 sabe bem o que é liberdade.Liberdade de andar,correr,brincar nas rua até tarde(se bem que até tarde nessa época eram as dez ,onze horas da noite e olhe la )brincando de roda,pique-pega,pique-esconde,bandeirinha,os três marinheiros e por ai vai...

Enquanto as crianças corriam de um lado para o outro na rua,os adultos colocavam suas cadeiras na porta da rua e batiam papo.De vez em quando um deles gritava:

_Cuidado com essa brincadeira besta que ainda termina em choro!

E geralmente terminava mesmo.Um joelho esfolado fruto de um tapa nas costas dado pelo menino da ultima casa da rua que na hora do pique-pega ou do barra manteiga batia muito forte e na corrida desembalada a gente sempre capotava ou caia de quatro, as mãos raladas nos pedregulhos da rua(que eram todas de chão batido.Melhor que os asfaltos de hoje em dia) nunca doía o suficiente pra parar a brincadeira.E assim seguia ,as crianças maiores os mocinhos e as mocinhas em idade de namoro tinham umas brincadeiras mais "interessantes" aos nossos olhos de criança era "caí no poço","passar o anel"(sem trocadilho),"salada de fruta" e por ai vai...

Mas entre todas as brincadeiras havia uma que todos brincavam juntos:O pique-esconde.Mas era proibido brincar disso depois que escurecia.Você podia se esconder e nunca mais ninguém te achar.Então os pais a proibiam porque aquela vizinha da rua de tras contou pra vizinha da rua da frente que contou pra uma outra vizinha da nossa rua que uma menina ,sabe a menina que ninguém conhecia mas todo mundo sabia a historia? Então aquela menina que ninguém sabia quem era acabou ganhando um nome pra história ficar mais real e até virou parente de alguém e seu nome era Terezinha(Na minha cabeça de criança curiosa eu pensava que eles tinha colado o nome da cantiga de roda "Terezinha de Jesus" Alguém ai se lembra?)


CAUSO DA TEREZINHA

Terezinha era uma menina muito bonita,filha dos patrões da fazenda.

Gostava de brincar a noite com os filhos dos agregados da fazenda de seus pais,meninos e meninas que frequentavam a escola rural com ela.Terezinha contava dez anos de idade recém completados,tinha lindos e longos cabelos loiros com os da espiga de milho que ainda não granou completamente.

Todas as noites após a janta a meninada se reunia pra brincar no quintal sob a luz da lua cheia.Somente nas noites claras iluminada pela lua cheia era que eles podiam brincar até tarde.

Na fazenda tinha a vó Joaquina,que na verdade não era avó de ninguém mas era avó de todo mundo,velha sozinha e sem parentes ninguém sabia como ou quando ela chegara na fazenda só sabiam que já contava mais de cinquenta anos,era da época do avô do pai de Terezinha,ela já tinha bastante idade quando chegou então ninguém sabia exatamente qual a idade que ela tinha ao certo ,só sabiam que o que a vó Joaquina falasse ninguém era doido de duvidar.

Vó joaquina contava que há muitos anos atras existiu uma mulher que se apaixonou por um homem casado chamado Tadeu e acabou matando de forma traiçoeira esse homem ,que amava muito uma outra mulher e não quis nada com ela,o homem era casado com uma mulher chamada luzia muito boa e todos no vilarejo gostavam muito deles,a mulher quando viu o marido morto saiu desesperada e se jogou no rio que cortava o vilarejo e também morreu, só que afogada.
A rezadeira do local que também era mãe da mulher morta,amaldiçoou a assassina condenando ela a viver sem alma e sozinha para o resto da sua vida e que duraria dois mil e duzentos anos e que ela só poderia descansar a cada cem anos se encontrasse uma alma pura e intocada pra vagar pelo mundo por cinquenta anos e que nesse período ela descansaria e teria uma vida normal no corpo da alma que ela encontrou,mas que continuaria vagando em busca de um paradeiro e de um amor.Mas que la só poderia roubar o corpo em noite sem lua e a traição seria proibida , ela tinha que encontrar uma forma de avisar sua vitima.

Durante muitos anos vó Joaquina contava sempre a mesma história nas rodas de brincadeira na fazenda,e todos os meses de lua minguante avisava.

_Seus mininus,seus mininus,num brinca em noite escura que a muié sem alma vai robá a sua.

Voltando a Terezinha e seus amigos.
Acontece que como toda criança de dez anos,eles gostavam de desafiar os mais velhos.
E fingiam esquecer as recomendações
Pra fazer o que queriam sem tomar bronca do pai e da mãe.
Muito bem. Assim fizeram.
Era noite de lua cheia.
O povo todo reunido no quintal festejando as três fogueiras.
Santo Antônio.
São João e São Pedro.
Eu já falei que essa noite em especial era uma noite fria do mês de junho?
Não?
Pois é ,era.
Como era costume naquela época,comemoravam as três festas católicas do mês junino.
E na fazenda Véia,como era conhecida a fazenda dos pais de Terezinha,que tinha esse nome por se tratar de uma fazenda bem antiga,cuja a sede era um casarão construído ainda na época da escravidão. "Períudo miserarvi" como dizia vó Joaquina.

Então naquela noite,estavam comemorando as três fogueiras,tinha o mastro dos três santos levantado no meio do quintal,bem perto do pau de cebo, que o avô de Terezinha mandava levantar todos os anos. Lá na ponta tinha um prêmio em dinheiro.
O pau de cebo era um tronco de aroeira bem auto, bem polido( até mesmo pelo constante uso no decorrer dos anos,ninguém sabe dizer quando a árvore daquele tronco foi cortada,mas já fazia muitos anos. Você sabia que aroeira é uma madeira muito forte? De acordo com os antigos pra cortar ela tinha chamar o nome da pelada. Nome esse que não posso falar aqui, se não atrai coisa ruim.
Mas essa é outra estória e eu te conto depois)
Então. Além do pau de cebo,tinha as comidas.
Vixe Maria. Nunca vi tanta comilança.
Tinha tudo quanto e tipo de comida da roça.
Você já comeu batata doce assada na fogueira? Mandioca com carne no espeto?
Não? Então você não sabe o que o bom.
Os doces? Só de mamão tinha uns quatro tipo. Marmelada,goiabada,e os pé de moleque? Só de lembrar da água na boca.
Os bolo então?
O melhor na minha opinião era o mané pelado. Nunca entendi esse nome, mas que era gostoso ah! Isso era. Então o nome deixa de ser importante né?
As bebidas então?
O mais gostoso e que a meninada gostava de beber quado o pai e mãe não estava vendo ,era o quentão...
Naquela noite ,acho que a molecada tinha bebido um pouco do quentão que fervia na fornalha la de dentro, porque resolveram desobedecer e foram brincar de pique-esconde no escuro.

Zé pretim. Que era preto só no nome.
Naquela época não tinha esse negócio de apelidar as pessoas pela cor da pele e sim ,ele era chamado assim por causa dos pés.
Vivia com os pé preto de barro, não usava sapato,de certo pq não tinha.
Então Zé pretim ,perdeu no par ou ímpar e era quem começaria a procurar os outros.
A Terezinha estava linda naquela noite.
Ela já era muito linda mas naquela noite estava mais ainda.
Terezinha levou Zé pretim pela mão até o mastro de São Pedro e mandou que ele ficasse de costas com os olhos fechados e contasse até vinte.
Ele obedeceu. E a última coisa que ouviu de Terezinha foi
_ Olha lá em Zé pretim. Não vai virar pra ficar espiando a gente se escondê hein?
_Oxe! Eu não façu issu não.sô homi onestu.
_Se fizé não vai valê aí ocê vai tê que contà até mil.
Ela falou e saiu em disparada rumo a moita de bananeira que fica nos fundos do quintal.
E ninguém nunca mais viu Terezinha.
Antes do Zé terminar de contar, dona Zita viu a meninada correndo pra se esconder e deu o alarme.
_podi parar!!! A noite tá escura e fria. Os bichu tão tudo atento pra pegar ocêis.
Só via menino batendo o pé,fazendo bico ,reclamando, mas obedecendo e voltando pro lado da fogueira. Todos menos Terezinha.
E o tempo passou ,até que deram por falta de Terezinha,mas aí já se tinha passado uns bons minutos.
Então começou a gritaria,um chama daqui,outro chama dali e nada de Terezinha aparecer. E reviraram tudo. Tudo reviraram.Mas nada da menina aparecer.
Dona Clarice,mãe de Terezinha garrou foi a desmaiar,e aí juntou a mulherada pra cuidar dela o botava um trem no nariz dela a coitada acordava e desmaiava novamente.
Mandaram o bentinho correr na cidade pra chamar o delegado.

OS MEDOS DE MINHA INFÂNCIA.Where stories live. Discover now