Apresentações

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Clair

O seu coração batia demasiado alto no peito. Clair, ainda com os olhos postos no chão, levantou-os de soslaio para Rupert. Este não parecia reparar em si. Na verdade Rupert já não reparava em si havia já algum tempo. Mas Clair não podia culpá-lo se ela própria não reparava nele. De facto, aquele relacionamento já nem era reparado ou reconhecido por ninguém.E que moral podia Clair ter, organizadora de grandes eventos, casamentos de sonho, realizadora e incentivadora do amor, quando ela própria, vivia um amor de fachada.

Para ela chegava! Estava farta de viver na solidão dentro de um relacionamento. Por isso, quando subiram as escadas exteriores do apartamento de Rupert e este se inclinou para lhe dar um beijo de despedida, Clair virou-lhe a cara. Fechou os olhos, tendo plena noção do que fizera e sem querer enfrentar a fera.

- Não sei se reparaste, Rupert, – Disse, abrindo os olhos para o encarar. – que não nos falamos o jantar inteiro.

- E? – Questionou ele, cruzando os braços e levantando o sobrolho.

- Na verdade, penso que hoje falaste mais com o teu telefone do que comigo.

- Clair, eu não tenho culpa que eu tenha um trabalho a sério! – Atacou.

Clair respirou fundo, engolindo em seco para que a raiva não tomasse conta de si.

- Eu tenho um trabalho a sério. – Respondeu. – Aliás, eu levo o meu trabalho tão a sério, que penso que o nosso trabalho aqui acabou. Lido diariamente com casais apaixonados, Rupert, e sei perfeitamente que nenhum de nós se ama neste momento.

Ele cravou-lhe os olhos firmes nos seus, emanando uma mistura de desprezo e ódio, mas a sua feição ficou a mesma durante alguns segundos, talvez pensando no que lhe haveria de dizer.

Clair percebeu apenaspelos seus olhos que aquela não era uma expressão de tristeza, aquela não era uma postura de alguém arrependido, pronto para virar este mundo e o outro numa tentativa de reatar uma relação. Não, Rupert estava apenas a tentar encontrar na sua cabeça uma forma de sair por cima da situação. Ela conhecia-o demasiado bem, afinal já haviam passado cinco longos e arrastados anos de namoro. Conhecia-lhe todas as expressões e todas manhas, sabia que estava com ela porque ela ficava bem ao seu lado nos longos jantares da empresa. Clair sabia o que dizer, como dizer, sabia relacionar-se. Sabia vestir-se e arranjar-se. E durante uns tempos Clair tinha gostado e até desfrutado de todo o glamour que Rupert trazia para a sua vida. Mas efetivamente isso não chegava para manter um romance. Efetivamente a ausência de toque, o silêncio das palavras não proferidas e todas as longas noites sozinha, porque Rupert ficara a trabalhar até tarde ou por outro motivo qualquer que ele arranjava, não estavam a chegar para Clair.

- Está bem! – Acabou por proferir, virando-se para entrar no apartamento e fechar-lhe a porta na cara.

Respirou fundo encarando a porta fechada, um pouco estupefacta. Não sabia ao certo como reagir. Não sabia se havia de respirar fundo de alivio, se havia de chorar pela efetiva solidão que a havia abraçado naquele momento. Agora sim, estava sozinha. Agora sim, não tinha ninguém para lhe dar um beijo de boa noite. Agora sim, não tinha com quem ir jantar a uma sexta à noite. Agora sim, não tinha namorado. Nem noivo. Nem casamento de sonho.

Achou que podia deixar-se tomar pelas duas emoções e, ao descer os três degraus que subira e começando a caminhar pela noite dentro, deixou-se respirar fundo de alivio, e permitiu que as lágrimas que lhe pesavam na garganta saíssem, sem medo de sujar a maquilhagem. Afinal, a noite não deixava que o seu rosto se visse tão claramente.

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