Único

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A linha do horizonte estava visível, mas os enormes picos escondiam as praias gélidas e pedregosas que atrás estavam escondidas. As elevações de rochas ásperas e irregulares estavam cobertas por um manto branco e macio. O frio era impiedoso durante os anos. Este era um dos motivos pelos quais aquelas terras não eram habitadas. A solidão, a escassez e os perigos escondidos, no entanto, não a assustavam. Pelo contrário, era o lugar ideal. Para que se preocupar com os alimentos? Tinha poder sobre as outras terras. Em poucos meses o estoque iria chegar. Para que se preocupar com os perigos? Ela era a líder. Para que se preocupar com a solidão? Era seu conforto.Para que se preocupar se iria para o inferno? Já estava nele.

Só faltam alguns detalhes..., ela pensou com os olhos fixos para a tempestade que começava afora da fortaleza. A porta do cômodos e abriu com um rangido e a corrente de ar que entrou, tremeu a chamadas velas espalhadas pelo quarto real.

-Majestade?- o garoto magro e baixo, com o rosto sujo e mãos machucadas disse, reverenciando a mulher de negro.- Já está a sua espera, o Capitão Dourado.

Ela deixou uma risada escapar pelos lábios carnudos. O nome era patético.

-Diga que estou a caminho.- sua voz era baixa e mansa, quase dócil. O oposto de sua alma.

Por mais que o garoto tivesse sido cuidadoso ao fechar a porta, a mesma não deixou de ser barulhenta. Com o coração na garganta, o garoto se afastou às pressas pelo corredor antes que ela o chamasse de volta, mas ela não o fez. Estava de bom humor. Havia conseguido. Tinha o casal em suas mãos. A pantera surgiu da escuridão, compassos silenciosos e as garras guardadas. Encostou o focinho na mão pálida e ossuda da dona e ronronou de olhos fechados.

-Chegou a hora, querida.- seus olhos faiscavam de triunfo e seu sorriso de lobo parecia ansioso para provar do sangue das suas presas.

*

-Perdoe-me pela demora, senhor William.- disse para o homem gordo e careca enquanto atravessava o salão em direção ao trono, acompanhada do animal.

-Não se preocupe, majestade. Conheço uma mulher.- respondeu, sorrindo com seus dentes amarelados, roupas de pele e as mãos no cinto que parecia prestes a explodir.

-Estou surpresa.- ela disse, ao sentar-se com uma sobrancelha levantada e o sarcasmo banhado na língua.

Com o orgulho ferido, o gordo limpou a garganta e assobiou. De uma porta lateral, quatro homens robustos de feições duras e barbudos saíram, cada dupla arrastando um corpo. Ele era alto, forte, com apele queimada do sol e cabelos louros escuros. Ela era alta, com cabelos castanhos avermelhados, pálida e com formas avantajadas. Os capatazes jogaram os corpos como sacos de batatas. O som dos dois chocando contra o chão liso do salão cinzento, veio como um sussurro. A mulher de negro sorriu com os olhos baixos.

-Quem diria que era capaz, senhor William?- seus olhos ainda estavam fixos nos corpos imóveis.

-Majestade, permita-me lembrar que é Capitão Dourado.- o homem disse e tamborilou os dedos no brasão de ouro que estava no cinto.

-Não foi esse o nome que seus pais lhe deram.- ela sussurrou sem mover o olhar.

-Majestade, me comprometi a cumprir o que a senhora quisesse, mas exijo respeito para com minha honra.- começou a dizer e a enrubescer violentamente. Segurava a raiva com todo esforço e sorriso falso que possuía.

-Você não tem que exigir nada, senhor William. Um ladrão como o senhor não tem honra alguma.- ela disse. Somente seus lábios se moveram. A pantera parecia adormecida aos seus pés, se não fosse pela incessante cauda.

Amante do SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora