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Sabe quando você sabe que uma pessoa nunca vai olhar para você e um dia, de repente, essa pessoa chega bem perto e diz...

- Oi!

"Sim, você existe!"

Pois é, isso aconteceu comigo, estávamos no terceiro ano do ensino médio e se fosse em qualquer outra ocasião eu ficaria surpresa do garoto mais popular do nosso ano vir falar comigo. Mas tenho quase certeza que Ethan Price estava falando comigo por pena.

Pena por saber que eu havia tentado me matar há duas semanas atrás.

- Oi

A palavra saí como um sussurro fraco.

Pois era assim que eu me sentia: FRACA!

Então acabo não dando importância ao tom da minha voz.

- Cameron, né?

Ele pergunta e novamente não sou pega pela surpresa, já que a escola inteira sabia meu nome agora.

Apenas balanço a cabeça em afirmativo.

- Como você está?

- Você realmente quer saber?

Pergunto séria, os olhos de Ethan parecem se encher de dúvida e juro que vejo uma pontinha de raiva também.

- Se não quisesse saber, não viria até aqui pedir! Não acha?

Sorrio de forma irônica.

- Acho! Por que no fim das contas ninguém realmente se importa com ninguém. O que as pessoa esperam ouvir é que sim, eu estou bem,  isso não é verdade, mas é o que eu vou acabar dizendo, vai ser mais fácil para mim e mais fácil para quem pediu, porque de verdade, essa pessoa não quer saber como eu estou!

Minha voz saí tranquila e decidida.

- Isso foi um desabafo ou uma lamentação? - ele pergunta

Ethan parece não se importar com o fato de eu estar de saco cheio de responder perguntas.

- Pense o que quiser! Só pare de me fazer perguntas.

Minhas mãos fazem um movimento esquisito no ar, para dar ênfase ao que eu acabei de falar.

- Posso fazer só mais uma pergunta?

- Tecnicamente você acabou de fazer uma!

Ele sorri e estende o seu celular.

- Qual o seu número?

- Por que você quer o meu número?

- Porque se eu não tiver o seu número, como vou chama-la para sair?

Rio como se ele tivesse acabado de contar a piada mais engraçada do mundo.

- Você não vai me chamar para sair.

- Você não pode provar isso.

Fico olhando para ele como se aquilo fosse loucura. E de fato era. Por que ele queria sair comigo? Não éramos amigos, para falar a verdade, mal nos conhecíamos. Apesar de estudar-mos juntos durante anos. Nunca havia-mos trocado tantas palavras em uma única conversa.

- Olha, eu só pensei que... podíamos sair para fazer algo divertido!

Ele continua a falar vendo que eu estava em silêncio.

- Eu não aceito caridade!

Saio andando para a aula de francês. Eu não tinha tempo para esse tipo de coisa. Sabia que as coisas estariam esquisitas quando eu voltasse, mas não imaginei que seriam tão esquisitas.

- Não é... - Ethan vem atrás de mim - Não é caridade!

- Não? Então o que é?

Paro abruptamente e encaro ele séria.

- Eu só percebi, que queria te conhecer!

- Escute uma coisa Sigmund Freud, você não precisa me conhecer, não é como se o que eu fiz fosse um pedido de socorro ou um "oh, por favor alunos da Ross Academy, me notem!". Eu não fiz por atenção.

Ethan parece dar de ombros a tudo o que eu falei.

- Você acabou de me chamar de Sigmund Freud?

Ele me olha quase sorrindo, e então percebo o quanto foi ridícula a minha comparação e acabo soltando uma gargalhada.

- Ah meu Deus! Me desculpe, eu... eu não sei o que deu em mim.

Ethan sorri e novamente me estende o celular.

- E então? Vai me passar o seu número? Ou terei que continuar insistindo?

Arqueio a sobrancelha e finalmente pego o celular. Com os dedos pálidos digito meu telefone e por um breve momento penso em trocar um dos números, mas eu sabia que seria em vão, quando ele notasse que o número estava incorreto, viria novamente atrás de mim.

- Contente?

Estendo o celular para ele, que pega o aparelho com um sorrisinho.

- Nos vemos por aí Baker!

Ethan pisca para mim e da meia volta, andando para o lado contrário ao meu. Pisco algumas vezes e dou dois passos para trás, giro e volto a andar na direção da minha aula.

As Luzes Ainda Brilham em KennedyOnde histórias criam vida. Descubra agora