D o i s

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Morrer.

Eu nunca pensei na morte como algo a ser temida.

Pessoas morrem o tempo todo e na verdade, seria estranho se não morressem. É o ciclo da vida. Nascemos, temos uma vida relativamente boa ou ruim e então morremos.

Não é certo o que vem depois da morte. Mas o certo é que, um dia todos nós iremos morrer. Não tem como fugir disso. É a verdade, nua e crua.

Eu fui diagnosticada com depressão aos 15 anos. No começo meu pai achava que era baboseira essa história de depressão. Mas o fato era que eu estava deprimida. Não porquê briguei com minha melhor amiga, nem porquê meu namorado tinha terminado comigo.

Segundo os médicos, há quatro substâncias químicas naturais em nosso corpo: endorfina, serotonina, dopamina e oxitocina. A endorfina e a serotonina facilitam a comunicação entre neurônios e influenciam diretamente na sensação de bem-estar.

E para a minha má sorte, meu corpo não produz essas substâncias como deveria. Então basicamente, eu sou uma pessoa deprimida.

Isso não significa que eu seja infeliz o tempo todo. Eu tenho meus picos de felicidade, porém também tenho meus momentos de crise.

E foi em um desses momentos que eu tentei me matar. Parece cruel com a minha família e com as pessoas que me amam e é extremamente egoísta, eu sei, mas naquele momento eu só queria acabar com a minha dor.

Então eu andei até o armário de remédios, peguei um tubo de Amitriptilina e tomei 50 pílulas, tudo de uma vez.

Infelizmente ou felizmente, minha mãe chegou mais cedo naquele dia. Ela nunca chega cedo em casa, mas naquele dia ela chegou. Eu tinha acabado de tomar a minha 50° pílula e então ela entrou no banheiro e me viu deitada chorando, o copo de água e o tubo do remédio estavam bem na minha frente e a primeira coisa que ela fez foi chamar a ambulância.

Depois minha mãe veio até mim e tentou enfiar o dedo na minha garganta, no processo eu a mordi, ela começou a chorar e a gritar comigo.

"O QUE VOCÊ FEZ CAMERON?"

Era o que ela perguntava aos prantos, naquele ponto eu já estava dopada o suficiente para apagar completamente.

Após 3 dias em coma, lá estava eu, em um quarto branco, com toda a minha família ao meu redor, a primeira visão que tive foi do meu pai, ele estava sentado em uma das poltronas encarando o chão, seu olhar parecia vazio e ele parecia acabado, eu nunca tinha visto meu pai daquele jeito e acho que foi a primeira vez que ele entendeu a gravidade do que eu tinha.

- Senhorita Baker!

A voz da Dra. Jensen me tira de meus devaneios.

- Cameron...

Corrijo ela.

A Dra. Jensen já era minha psicóloga há um tempo, mas as vezes ela era formal demais, isso me incomodava um pouco.

- Me desculpe, Cameron, então, como está sendo a sua semana?

- Uma droga!

- Aé? Por que?

- Bem, eu voltei a ir à escola e agora as pessoas me olham com pena! Isso é angustiante, sabe?

- Se você pudesse voltar no tempo, teria tentado o suicídio?

Olho para ela um pouco cética.

- Eu não sei...

É tudo o que sai da minha boca. As pessoas esperam que eu me arrependa do que fiz. Eu não me arrependo, mas não sei o que faria se pudesse voltar no tempo. Talvez eu fizesse novamente, talvez eu não fizesse. É algo muito relativo no fim das contas.

- Mais alguma coisa que você queira compartilhar?

Lembro do ocorrido com Ethan no começo da semana e solto um longo suspiro.

- Tem esse garoto...

Vejo os olhos dela brilharem de entusiasmo atrás das grossas lentes de seus óculos.

- Nós estudamos desde sempre e agora ele veio pedir meu número de celular!

- E o que você fez?

- Passei!

Ela sorri.

- Ótimo.

Fala em aprovação.

- Não está nada ótimo!

A Dra. Jensen franze o cenho e empurra o óculos para trás com o dedo indicador.

- Por que não?

- Porque ele fez isso por pena... caridade... é simplesmente ridículo!

- Hmm. Olha Cameron, talvez, ele já tivesse certo interesse em você, mas não tinha coragem de se aproximar e quando ficou sabendo...

- Não!

Interrompo-a e começo a rir do que havia dito, como se fosse algo patético, porque de fato era patético.

- Ele é o garoto mais popular da escola. Nunca gostaria de mim.

- Por que? Você é uma garota inteligente, simpática e muito bonita Cameron!

- Ta, tá, tá, mas eu não faço o tipo dele.

- Tipo?

- É...

- Tudo bem. Grave o que vou lhe dizer.

Ela se inclina para frente como se fosse me contar um segredo super secreto.

- Essa coisa de fazer o tipo de alguém, não existe!

Abro um pequeno sorrio.

- Você acabou de falar "coisa"?

A Dra. Jensen devolve o sorriso para mim.

- É! Parece que sim.

Rimos juntas.

No fim, explico detalhadamente como foi a minha conversa com Ethan e a psicóloga me aconselha a dar uma chance para ele. Talvez fosse uma ótima ideia, mas também possuía o risco de ser péssima. Não sei. Só o tempo diria.

As Luzes Ainda Brilham em KennedyOnde histórias criam vida. Descubra agora