A Anciã do Bosque

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Em algum lugar havia um bosque muito grande, repleto de animais e plantas exóticas. Neste lugar, existia uma árvore antiga, alta e retorcida. Era uma velha Anciã que possuía muito conhecimento, e sempre estava disposta em ajudar quem quer que passasse por ali, em sua maioria, perdidos que não sabiam encontrar o caminho para fora daquele lugar.

A velha árvore era muito bondosa, e os viajantes não tinham coragem de fazer mal a ela. Fora do bosque, a árvore era uma lenda, ninguém conseguia encontrá-la se não estivesse perdido. Diziam que ela era um espírito da natureza que vivia ali e se manifestava em árvores.

Antes mesmo de o bosque receber qualquer humano como visitante, a Anciã ajudou muitos animais desorientados que eram incapazes de encontrar o caminho de volta. O curioso é que os perdidos tinham algo em comum, todos eles haviam feito ou estavam fazendo algo de errado contra a vida. Então, após conversarem com a Anciã e prometerem arrependimento, ela os ajudava a ir embora, revelando a única trilha que serpenteava para fora do bosque. Até que um dia outro homem apareceu.

Ele era muito pobre e preguiçoso, não queria trabalhar e só vivia dos favores dos outros. Quando se perdeu no bosque, estava à procura de alimento, até que encontrou a Anciã. Ela o aconselhou a ser mais disposto e ter coragem para enfrentar a vida, assim conseguiria alcançar seus objetivos. Ele prometeu seguir tais conselhos, mostrando certo arrependimento nos olhos. Antes de ir embora, a Anciã deu a ele muitas frutas saborosas e puras, para que ele levasse para casa.

Vendo que as frutas eram muito boas e fáceis de conseguir, algum tempo depois, o homem voltou ao bosque para colher mais. Ele encontrou diversas frutas, e passou a colher diariamente todas elas, quase esgotando os frutos do bosque. Ele pretendia montar um comércio e vendê-las, contudo, não fazia nada para repor o que colhia, não plantava sequer uma semente, além de levar sempre mais do que precisava. Então, houve um dia que ele não encontrou mais frutas para levar e ficou extremamente irritado com isso. Procurou com tanta insistência que se perdeu outra vez.

Há vários dias perdido e com fome, acabou por encontrar a velha árvore. Ela estava muito triste, pois havia reconhecido aquele homem, e sabia o que ele tinha feito. Naquela época fazia muito frio e o miserável tremia e batia os dentes. A Anciã, muito decepcionada, disse que ele consumira todo o fruto do bosque, que os havia vendido, ganhado dinheiro e gastado com coisas tolas, e agora estava pobre mais uma vez, com fome e com frio. Mas como ela era bondosa, disse que o ajudaria a ir embora, mas ele nunca mais deveria fazer o que fez, esgotando os frutos daquela forma. Temendo morrer naquele lugar, ele jurou que nunca mais o faria. Sendo assim, ela indicou o caminho de volta, mas antes, deu a ele um bom casaco de peles, para que não morresse de frio.

O homem chegou em sua casa aliviado e protegido da friagem. Pendurou o casaco atrás da porta e ficou analisando o mesmo, até que teve uma ideia. O inverno de fato já estava chegando e ele precisava abastecer sua casa com comida, como havia prometido a não roubar mais os frutos do bosque, precisava se sustentar de outra forma.

Então, pegou uma espingarda emprestada e foi caçar os animais do bosque, para fazer casacos com suas peles e depois vendê-los no mercado. E assim ele o fez. Caçou inúmeros animais, confeccionou os casacos e os vendeu. Ganhou muito mais dinheiro fazendo isso, mas dessa vez, o administrou bem, para que pudesse se manter em longo prazo. Passou todo o inverno sem problemas, sem fome e aquecido. Contava e recontava suas moedas. Também havia comprado alguns livros sobre árvores, queria descobrir alguma coisa sobre a Anciã. E ao fim do inverno, descobriu que a velha árvore era de uma espécie muito rara, que tinha a madeira boa, dotada de propriedades mágicas e que os bruxos pagavam muito bem.

Quando chegou o verão, ninguém comprava seus casacos e o seu dinheiro foi acabando. Desesperado, o homem voltou para pegar mais frutos, mas eles ainda estavam pequenos e imaturos. Procurou e procurou. Dessa vez, foi tão fundo no bosque que se perdeu outra vez. Demorou um longo tempo até que encontrasse a árvore Anciã. Ela chorava, pois estava muito magoada com ele. Havia o ajudado tantas vezes, e ele, mesmo assim, seguia cometendo erros e se aproveitando de sua boa vontade. Agora, o bosque ainda tinha poucos frutos e demorava em se recompor, e os animais, ou foram caçados ou haviam fugido de medo. A Anciã sentia-se muito sozinha.

O senhor pediu desculpas e prometeu nunca mais voltar ao bosque se ela o ajudasse a ir embora e se desse alguma ideia do que fazer naquele verão. Ressentida e sem confiança, ela apenas mostrou o caminho de volta, ignorando-o.

Irritado, ele foi embora sem ter como ganhar dinheiro naquele verão. Em casa, observou que não tinha nada que fosse fruto de algo verdadeiramente honesto, além de ter poucas coisas. Já que não tinha mais a amizade da Anciã, e o bosque estava praticamente abandonado, pensou em algo ousado, que deveria fazer em segredo, durante a calada da noite.

Quando o sol se pôs, o sujeito pegou seu machado e o facão e adentrou no bosque. Começou a desmatar cada metro daquele lugar, derrubaria cada árvore até que encontrasse a velha Anciã. Conforme cortava as plantas e derrubava as árvores, podia-se ouvir o choro da natureza.

Exausto e com a madrugada findando, já desacreditava que poderia encontrar a árvore, então, deitou-se sobre uma pedra para descansar. Foi neste momento que ao longe, avistou a Anciã. Levantou rapidamente e correu até ela.

Dessa vez, antes que a velha árvore começasse a falar, ele tomou a frente e a culpou pelo o que acontecia em sua vida, que ela lhe havia negado ajuda e ferido o seu orgulho. Entristecida, a Anciã fechou os olhos, decepcionada: "Como o homem é iludido pelas coisas materiais, egoísta e rancoroso" — revelou a Anciã. "Só se importavam em conquistar à custa dos outros, preocupam-se apenas com o benefício próprio, sempre usando a violência e a mentira para conseguirem alguma coisa".

De maneira alguma, o homem se sensibilizou com aquelas duras palavras, na verdade, só serviram para alimentar a sua ira. E foi assim, que ele levantou o seu machado e com ranger de dentes cortou a velha árvore, a fim de se aproveitar de sua madeira, sem se importar com o que ela representava ou os ensinamentos e ajuda que prestava a outros.

O assassino vendeu a sua nobre madeira no mercado e ganhou muito mais dinheiro do que jamais viu em toda a sua vida. Contudo, com o tempo, o bosque foi morrendo. A vegetação secou, os rios sumiram e os animais foram embora. Logo, toda aquela região começou a se transformar em uma terra improdutiva e desértica. O povo que vivia ao redor sofreu de fome e tiveram de partir.

Por fim, o homem encontrou-se sozinho, semvizinhos, sem nada e sem ninguém de quem se aproveitar. Existia apenas ele, suacasa e suas moedas.    

A Anciã do Bosque | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora