EM BREVE

77 13 3
                                    

A grama verde e macia que minhas mãos seguravam estavam quase sendo arrancadas da terra pouco úmida, que estava sendo regada pelas minhas lagrimas. 

Parecia impossível respirar, como se tivesse flores trancando a minha traqueia. A ponta do meu nariz estava formigando, fazendo essa sensação correr por todo o meu rosto em menos de dois minutos.

A cada cinco segundos havia um constante apagão na minha visão, uma multidão já havia se formado em torno de mim, impossibilitando ainda mais de me sentir livre e ter o ar puro circulando ao meu redor.

Em algum momento em meio ao meu ataque de panico, alguém me pegou no colo, gritou por espaço, começou a me levar para longe das pessoas curiosas e, no momento em que eu me senti segura, deixei meu corpo apagar totalmente.

O quarto em que eu acordei era claro, branco par ser mais exata, havia uma janela enorme com a visão da cidade de Toronto, que logo iria escurecer.

Tinha soro passando pelo tubo que estava ligado a minha veia. O espaço em que eu estava era algo que eu não conseguiria pagar, por ser um custo maior que o meu salário da loja de doces.

Eu estava tentando me levantar da cama macia para poder ir ao banheiro e trocar a roupa de hospital quando a porta foi aberta e a minha atenção desviou, minhas pernas falharam e eu quase caí mas senti braços em tordo da minha cintura mantendo o meu corpo fraco em pé.

Suspirei fundo levantando meu olhar, passando pelos calçados e calça preta, chegando em sua blusa cinza dobrada até o ante-braço. No seu pulso havia um relógio caro que indicava exatamente seis e trinta e dois da tarde.

Seu rosto era familiar para mim, cabelos ondulados, olhos cor-de-mel claros. Seus lábios chamaram a atenção por serem carnudos e estarem em um tom de rosa escuro, seu sorriso, que abriu quando percebeu que estava sendo observado por mim, me fez perder o foco.  

– Tudo bem? –  sua voz era suave, passava tranquilidade fazendo minha perna fraquejar novamente.

– Você poderia se afastar um pouco? –  Ele garantiu que eu ficaria em pé sem a sua ajuda e deu dois passos para trás. O silencio dominou o ambiente até que criar coragem para falar novamente. – Porque eu estou aqui? – Ele fez questão de me encarar por meros quinze segundos e depois caminhar até o sofá enorme que tinha em frente a cama do hospital, se sentando de um jeito bem confortável, me deu a impressão que começaríamos uma conversa então, voltei a me sentar na cama. 

  – Você não estava passando bem, a principio, eu iria penas te levar para longe mas então você desmaiou. – Sua voz continuava tranquila enquanto seu olhar continuava em mim.  

  – Eu realmente agradeço mas coisas assim acontecem constantemente. – Me levantei na intenção de encerrar a conversa. – Você se importa se eu for ao banheiro por um estante?  

Após ele negar com a cabeça, fiz meu caminho até o banheiro, encontrando lá as minhas roupas. Tirei a agulha da minha veia deixando alguns pingos de sangue escorrer pelo local. 

Coloquei minhas roupas e passei as mãos pelo cabelo, uma água pelo rosto, limpei eu braço e deixei a roupa de hospital dobrava em cima da pia.

Quando voltei para o espaço de antes, podia ver o garoto alto perto da janela, concentrado em seu celular. Cocei a garganta fazendo o mesmo se virar para mim.

  – Você está com uma cara estranha, está tudo bem? – novamente, ele me analisou, franzindo o cenho em seguida. – Cade o soro no seu braço?

– Está no banheiro. – respondi após despertar do meu pequeno mundo. –  Quero te agradecer por tudo...bem, eu não tenho dinheiro para pagar esse quarto de hotel mas eu posso te reembolsar em alguns meses. – Ele soltou uma pequena risada, negando com a cabeça.

  – Não precisa.

– Eu quero. –  reforcei.

– Eu aceito como pagamento uma explicação do que aconteceu. – Seu celular voltou para o seu bolso, fazendo-o voltar totalmente a sua atenção para a nossa conversa.

– Eu prefiro a forma de dinheiro. – Ele assentiu e veio na minha direção, parando em minha frente e pegando meu celular que estava em cima da cama, ao lado da minha pequena bolsa. – Ei! – tentei pegar o celular da sua mão mas o mesmo levantou, fazendo isso ser impossível para mim.

  – Meu numero está salvo, quando você achar melhor, me manda mensagem para me pagar. – O tom da sua voz era irônico e metade do meu corpo dizia que ele não me deixaria pagar nada. 

  – Como está salvo o seu contato? – E novamente, ele abriu um pequeno sorriso enquanto eu guardava o meu celular em meu bolso.

– Você vai saber algum dia. – Revirei os olhos e dei meia volta, andando até a porta do quarto, me virando novamente para ele. – Obrigada, desculpa te atrapalhar e eu vou te reembolsar. 

– Aham, você vai. – Seu tom de ironia me fez revirar os olhos pela segunda vez durante cinco minutos. 

Dei um pequeno sorriso passando pela porta em seguida. 

AURORAOnde histórias criam vida. Descubra agora