"Assim como as estações, as pessoas têm a habilidade de mudar. Não acontece com frequência, mas quando acontece, é sempre para o bem. Algumas vezes leva o quebrado a se tornar inteiro de novo. Às vezes é preciso abrir as portas para novas pessoas e deixá-las entrar. Na maioria das vezes, é preciso apenas uma pessoa que tenha pavor de demonstrar o que sente para conseguir o que jamais achou possível. E algumas coisas nunca mudam. E que comece o novo jogo." - Gossip Girl.
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Péssimo dia para colocar aquela saia lápis que não parava de subir, deixando à mostra uma parte das minhas coxas que deveria estar coberta. Minhas mãos já estavam automaticamente ajeitando a peça de trinta em trinta segundos enquanto caminhava até a sala de aula. Era o primeiro dia e eu já estava fazendo tudo errado.
“Você está de parabéns, Nicole.” pensei.
Tudo parecia não cooperar desde o momento em que abri os meus olhos. O café que eu tinha comprado estava frio, minha saia estava muito justa e, consequentemente, subindo mais do que deveria, meu cabelo - em que eu havia passado quase duas horas fazendo cachos - já estava todo liso me deixando irritada por ter acordado tão cedo em vão e minha mãe tinha ligado cerca de cinco vezes para me parabenizar e dizer que estava orgulhosa de mim.
Tudo bem, eu tinha 22 anos – quase 23 - e já iria começar a dar aulas em uma universidade. Mas se fosse levar em conta que não era um emprego fixo, eu só seria uma substituta, minha mãe estava feliz até demais.
Passei pelo corredor em que os universitários estavam perambulando de um lado para o outro e sorri, sentindo a nostalgia tomar conta de mim. Alguns anos antes era eu ali, no meu primeiro dia, andando toda encolhida e evitando ser vista por alguém. Aquele meu complexo de inferioridade passou junto com os anos da faculdade e aos poucos me enturmei, fiz amizades que me ensinaram a viver de verdade e fui feliz.E mesmo que a área amorosa da minha vida não fosse tão bem sucedida quanto à área profissional, eu estava bem satisfeita com o que tinha alcançado.
Meus saltos faziam um barulho irritante no chão de porcelana e quando eu estava quase pronta para tirá-los e começar a andar com os pés no chão mesmo, encontrei a sala 301, minha próxima casa durante os dois próximos períodos.
Assim que entrei, todas as cadeiras estavam desocupadas e eu não me assustei com isso, afinal ainda faltavam vinte minutos para o início das aulas. Decidi, então, aproveitar o momento de silêncio para me familiarizar com o lugar. Era uma sala normal, eu já havia estudado ali antes, porém eu sentava do outro lado da mesa. Estar no posto de professora substituta pode não ser muita coisa para alguns, mas para mim era o que eu tinha nascido para fazer, sem pensar no salário maravilhoso que iria cair na minha conta durante os próximos meses.
Peguei minha pasta com as folhas que eu havia organizado dias atrás. Minha meta era começar com o planejamento de todas as aulas seguintes, mas como eu nunca cumpro nenhuma meta, deixei para cima da hora e acabei não fazendo nada. Apenas planejei as duas primeiras aulas e o resto ficou para outra hora. Tentei não refletir sobre o quanto isso era comum na minha vida.
Comecei a ler uma folha em que eu tinha escrito alguns livros que eu gostaria de abordar com os alunos, quando senti que alguém me observava.
- Ora, ora, ora... Bom dia, Nicole. - ele sorriu, daquele jeito galanteador que mexeu muito comigo em um passado não tão distante. - Ou melhor, professora Nicole Duarte.
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Não desista de mim (DEGUSTAÇÃO)
Roman d'amourNicole Duarte nunca pensou que se tornaria professora tão rápido. Muito menos que teria a oportunidade de lecionar no mesmo lugar em que se formou. É claro que essa conquista só foi possível com a ajuda de seu tio, reitor da universidade, que conseg...