A IRA

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  ''Evite a ira e rejeite a fúria; não se irrite: isso só leva ao mal -Salmos 37:8.''

  Estava nua deitada na cama com o corpo coberto por um lençol de seda enquanto acariciava o belo rosto de Fernando após fazermos amor. Estávamos junto e sempre que podia eu dormia em sua casa, mentia para minha avó Catarina dizendo que tinha que dormir na casa de Cecília por causa da faculdade e ela acreditava. Nunca antes havia me entregado para um homem daquela maneira, mas ele era diferente. Além de bonito, inteligente e charmoso tinha dinheiro e uma carreira. Eu tinha tudo em mãos e estava prestes a conseguir tudo que sempre sonhara.

- Eu já te falei que te amo hoje? - Fernando me perguntou com um sorriso bobo nos lábios.


- Só pela décima vez só hoje - ele riu - Eu já lhe disse que você é maravilhoso? - ele estava deitado de barriga para cima e eu estava ao seu lado de bruços com apenas um pedaço do lençol de seda cobrindo minha bunda e deixando minhas costas nuas.

- Só maravilhoso? - ele fez beicinho e eu o beijei.

- E bonito, gostoso, inteligente e cheiroso... Só lhe falta uma coisa.


 As sobrancelhas grossas se arquearam.


- O que me falta? - perguntou curioso.

- Audácia. Lhe falta ambição, amor.

Seu corpo mudou de posição na cama.


- Como assim, Carmen? 

- Amor, você já pensou em ganhar mais? Eu sei que você ganha super bem, mas apesar de você fazer parte da família Albuquerque, sendo irmão do dono da ''Le Cintre'', ainda acho que não recebe tudo o que lhe é de direito.

- Mas você acha que eu preciso de mais? - ele ergueu uma de suas mãos e olhou em nossa volta - Tenho uma casa bacana, um carro, uma carreira e uma mulher maravilhosa ao meu lado. O que eu quero mais? - sorri ao ouvir o elogio deflagrado à mim.

- Nando, nunca é demais pensar alto. Você tem noção de que a metade da empresa é sua? Você deveria ter mais posse na ''Le Cintre''. Ser mais ativo e buscar seu direito. Seu pai, se estivesse vivo, com toda a certeza iria querer que seu patrimônio fosse dividido por igual entre os filhos.


- Isso é verdade, amor. Mas não sou tão ambicioso assim...

- Mas deveria ser - me debrucei sobre o peitoril malhado dele - Sendo um dos donos você teria muito poder. Poderia fazer viagens internacionais em nome da empresa, teria fama, conheceria os melhores estilistas e seria reconhecido mundialmente.

- Você é ambiciosa - ele me roubou um beijo - Então me responda, o que você faria se a empresa fosse sua?

 Meus olhos brilharam. Meu sonho sempre foi ter a minha própria empresa de moda.
Talento eu sabia que tinha e ambição tinha de sobra. Carregaria o nome da ''Le Cintre'' com orgulho e me transformaria nas melhores e mais conhecidas estilistas do Brasil.

''Carmen Figueiredo'', ou melhor... ''Carmen Albuquerque como uma das estilistas mais influenciadoras da era contemporânea''.
E eu sabia que aquilo era possível, bastasse eu acender uma fagulha para que o incêndio começasse.

- Eu faria de tudo para que a minha empresa fosse a mais poderosa do Brasil. 

Ele me observou e umedeceu os lábios.
Naquele momento eu almejei ter o poder de ler pensamentos.

- E posso eu saber quais seriam os seus planos?

Abri um sorriso em satisfação. Finalmente havia conseguido chegar no ponto que queria. Agora o meu trabalho seria apenas em o manipular, mas isto seria fácil, pois Fernando já estava em minhas mãos.

    † † †     

 Perto da faculdade, pela cidade urbana eu me despedia de Fernando. Ele me deixou de carro e eu o beijei através da janela do veículo antes de entrar.
 Nos despedimos e eu o olhei até cruzar a esquina.

- Quer dizer que a senhorita Carmen dormiu fora de casa hoje?

  - Que susto, Cecília! - gritei e levei uma das mãos ao coração.  

''PUTA QUE PARIU, QUER ME MATAR DE SUSTO?'' era o que eu realmente queria dizer.

- Te peguei no flagra. Quem é o gato? - ela me questionou, enquanto sorria satisfeita.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora