Words I never said...

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Era noite quando Javier chegou em casa. O dia tinha sido nublado, as nuvens carregadas ameaçavam o tempo todo se despejar sobre a cidade, não parecia que demoraria muito a chover.

Já relaxado e aquecido no conforto de seu apartamento, apagou todas as luzes e se deixou largar o corpo no sofá. A chuva finalmente tinha chegado. Gostava do som dos pingos batendo na janela, não sabia o porquê, apenas gostava. Em alguns dias estaria em casa, na Espanha, cercado pela família, seu bem mais precioso. Preferencialmente com o hepta Europeu no peito. Tinha seus amigos no Canadá, sua segunda família, mas nada se comparava à sensação de estar em CASA e dali ha pouco tempo, talvez fosse do Canadá que viesse a sentir falta, mas estava bem com isso.

Sempre tinha trazido da Espanha muitos mimos na intenção de prolongar ao máximo aquela sensação tão gostosa que sua terra natal lhe propiciava. Dentre esses, um era especial: uma caixinha onde, com a ajuda de sua amada irmã Laura, tinha guardado recortes de revistas e jornais, além de fotos com a família e os amigos de várias épocas de sua vida. Aos vinte e poucos e já com tanto na bagagem... Adorava aquela caixinha. Ela guardava um pouco de quem ele era, do quanto mudou, do que passou e do quanto cresceu. Deixava-a sempre ali na estante ao alcance das mãos, e apesar das tantas coisas já encaixotadas, ela permanecia em seu lugar. Levantou, pegou a caixinha, ligou o abajur e dessa vez sentou no chão.

O clima parecia bastante propício à nostalgia. Já tinha espalhado algumas das fotos sobre o centro quando a campainha tocou. Estranho. Debaixo daquele temporal, quem diabos iria bater à sua porta? Esperou pela repetição do toque que demorou, mas aconteceu. Levantou e correu até a porta apenas para ficar ainda mais surpreso ao abri-la.

Parado à sua frente com uma expressão meio perdida e tremendo de frio, um Yuzuru encharcado dos pés à cabeça.

— Yu... Yuzu?

— Fui pego no caminho. — respondeu o japonês meio sem jeito levando a mão à nuca. — Tá frio...

— É. Meu deus, tá frio. Entra! — o espanhol sacudiu a cabeça como que para espantar a surpresa que ainda estampava seu rosto. — Eu vou... — correu até o quarto e em seguida voltou com uma toalha. — Tira esse casaco, se seca... Não. Só secar não adianta. Vem aqui...

Javier já tinha começado a andar na direção do quarto quando olhou para trás e viu que Yuzuru continuava parado próximo à porta com o cenho franzido. Riu de si mesmo quando percebeu o quão exageradamente estava agindo.

— Ok. Eu... Eu só não... Eu não sei o que aconteceu pra você vir parar aqui a essa hora e debaixo desse temporal mas eu não quero que você pegue um resfriado ou tenha uma crise de asma por isso.

— Habi, calma ok?! — disse calmamente e com um pequeno sorriso.

Javier voltou a se aproximar, pegou a toalha das mãos de Yuzuru e começou a secar seus cabelos negros. Yuzuru respirou profunda e lentamente e deixou que ele fizesse isso. Em seguida pegou a toalha, colocou-a entre seu corpo e o de Javier e o abraçou enfiando o rosto na curva de seu pescoço, como de costume. O mais velho sabia que alguma coisa tinha acontecido. Retribuiu o abraço do amigo e ficaram assim, abraçados, por alguns longos minutos.

Um espirro. Uma risada.

— Chuveiro! Você sabe onde fica. Eu vou pegar umas roupas secas pra você...

— Haaai!

*****

Javi separou algumas roupas e as deixou sobre sua cama para que o outro as vestisse. Saiu do quarto fechando a porta atrás de si para que Yuzu ficasse à vontade e foi até a cozinha preparar algo para beberem.

Hello, I love UOnde histórias criam vida. Descubra agora