Capítulo 34

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*Alice

Acordei às 8h do dia seguinte com vontade de começar uma nova etapa da minha vida. Levantei-me, tomei um duche rápido, vesti-me, comi e saí de casa.

Apanhei o autocarro e fui até ao hotel. Despedi-me de toda a gente e voltei rapidamente para casa. Acabei de arrumar as minhas coisas e esperei que o Ricardo nos viesse buscar para nos levar até ao aeroporto do Porto.

-Tens a certeza que queres vir comigo? - perguntei à Cristiana quando esta se sentou ao meu lado nas escadas.

-Tenho. Eu preciso de me afastar deste ambiente. Preciso de ganhar novas experiências. E tu? Tens a certeza que queres deixar o André outra vez?

-Não... Mas não vou pôr a minha vida em pausa por causa dele, tal como não quero que ele o faça por mim.

Ela não disse nada e pouco tempo depois chegou o Ricardo. Colocámos as nossas mochilas na mala, trancámos a casa e entrámos no carro.

-A Cátia pede desculpa por não vir, mas a Clara não a deixou dormir e ela estava cansada.

-Não há problema - respondi - Tu se calhar também devias ficar a descansar. Nós podemos pedir boleia a outra pessoa.

-Nem pensar. Eu disse que vos levava e é o que eu vou fazer.

Sorri com a sua resposta e começámos a viajem.  Durante o caminho viemos a falar de futebol, fofoquices e a cantar que nem loucos as músicas que passavam na rádio.

Passavam poucos minutos do meio dia quando chegámos ao aeroporto. O nosso voo era só às 14h, mas tínhamos que lá estar com antecedência por causa do check in. O Ricardo estacionou o carro no ponto mais afastado só para não ter que pagar o lugar e fizemos o caminho até ao edifício em silêncio. Dirigimo-nos para um restaurante e fomos almoçar.

-Estou a pensar em escrever-vos cartas - comentei.

-Porquê cartas?- perguntou o Ricardo - Eu tenciono falar com vocês por vídeo, para vocês nos mostrarem os lugares.

-Eu sei que sim, mas da outra vez que vos deixei também escrevi cartas e agora sei que vocês as vão receber e ficam com postais para colar na porta do frigorífico!

O Ricardo riu-se com as minhas palavras e começámos a comer. Dei por mim a observar os casais que aqui se encontravam e despediam, as famílias que se abraçavam e choravam. Dei por mim a pensar em como seria a minha vida se a minha mãe nunca tivesse morrido. Provavelmente nunca teria saído de Lisboa. Teria ido para a faculdade e talvez namorasse com o André. Acho que não estava destinado a ser assim.

Saio dos meus desvaneios quando oiço o telemóvel do Ricardo tocar. Ele apressou-se a atender e logo olhou para mim.

-Estamos no último restaurante do lado esquerdo. Sim. Até já.

-Era o André? - perguntando apesar de já saber a resposta - Eu não posso. Vou à casa de banho.

Dei uma última garfada e peguei numa nota de 10€, deixando-a em cima da mesa. Pego na minha mochila e saio da mesa em direção à casa de banho.

Entrei rapidamente e logo me fechei na cabide. Não me estava a reconhecer. Eu nunca reagi assim por ninguém, não percebo o porquê de eu estar a deixar o André me afetar tanto.

Respiro fundo e saio da cabine. Vou até ao lavatório e passo água pela cara com o intuito de me acalmar. Levanto a cara e vejo o André a olhar para mim. Seco a cara com papel o viro-me para ele.

-Sabes que não podes estar aqui, não sabes?

-Não seria a primeira vez que nos encontram juntos numa casa de banho. Porque é que fugiste mal soubeste que eu vinha ter contigo?

-Porque eu não quero falar contigo.

-O que é que eu te fiz para estares assim comigo?

-Fizeste-me gostar de ti! - virei-me de costas para ele e olhei-me ao espelho.

-E isso é assim tão mau? - perguntou triste aproximando-se de mim.

-É André. É, porque eu era apenas uma criança quando me apercebi que tu significavas mais para mim do que os outros rapazes e demorei muito tempo a guardar-te num canto da minha memória. Eu achava que tu já não significavas nada para mim, mas claramente estava enganada.

Ele aproximou-se de mim e virou-me para ele. As suas mãos foram parar ao meu pescoço, obrigando-me a olhar para ele.

-Sabes a verdadeira razão para eu não te ter reconhecido naquele dia no autocarro? Porque eu não queria acreditar que eras tu. Tu também significavas mais para mim do que os outros e custou-me muito ver-te ir embora. Mas ao contrário de ti, eu não tenho medo de mostrar os meus sentimentos. Eu estou disposto a fazer tudo para que nós possamos ter um futuro. Eu tenho um saco com roupa no carro, basta tu dizeres que me queres que eu compro um bilhete e vou contigo e com a Cristiana.

Eu não podia acreditar que o André estava mesmo disposto a deixar a sua promissora carreira de futebol para fazer esta viagem comigo. Que ele estava disposto a deixar a sua família. Por muito que eu quisesse, eu não o poderia deixar fazer isso.

-Não - murmurei, mas sei que ele me ouviu pela dor que trespassou pelos seus olhos - Eu não posso deixar-te desistir dos teus sonhos.

-E se eu dizer que tu és o meu sonho?

-Então eu digo que tu não és o meu. Pelo menos por agora.

Doeu-me muito dizer isto, mas acho que doeu muito mais ao André ouvir. As suas mãos abandonaram o meu pescoço e ficaram a pender junto ao seu corpo. Caíram duas lágrimas dos seus olhos e apressei-me a limpá-las.

-Desculpa - sussurei - A minha avó costumava-me dizer que se gostas de algo, deixa-o partir. Se voltar para ti é porque era de verdade.

Ele olhou para mim e sorriu fraco. Levou as suas mãos à minha cara limpando também as lágrimas que eu não sabia que tinha. Ficámos a olhar um para o outro sem dizer nada até ouvirmos uma voz feminina a chamar os passageiros para o meu voo. Afastei-me dele e voltei a lavar a cara. Sequei a cara e saí da casa de banho sem olhar para o André.

Encontrei a Cristiana e o Ricardo junto à porta de embarque e fui ter com eles. Abracei uma última vez o meu melhor amigo e mostrei o meu bilhete à assistente de voo.

Ouvi o André chegar e despedir-se da Cristiana, mas não olhei para ele. Acho que não conseguia mesmo se quisesse.

-Eu vou esperar por ti, Alice. Já esperei 11 anos, não me importo de esperar mais 1 - disse ele.

As pessoas começaram a olhar para nós, mas eu apenas baixei a cabeça e entrei no túnel. Senti a Cristiana a caminhar ao meu lado e dei-lhe a mão.

-Tens a certeza que é isto que queres fazer?

-Sim, agora não há volta a dar.

Sorrimos uma para a outra e entrámos no avião. Ouvimos as explicações das assistentes de bordo e aí começámos a nossa viagem.

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Espero que tenham gostado!

Mónica

DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora