Royals

Prólogo

Era uma manhã onde poucas nuvens habitavam os claros céus ingleses nas últimas semanas da temporada da primavera. Aquela temperatura amena não era muito uma conhecida daquele reino, pois o interior nunca foi de manter-se com tempos quentes como no verão, o tão esperado e surpreendente verão.

Enquanto observava um pequeno feixe de luz pelo espaço entre as compridas cortinas de material grosso e rubro que despertava sua curiosidade para o que aquele dia lhe aguardava, Josephine perdia o fôlego em todas as vezes que sua dama de companhia, Lady Bennett, sem delicadeza alguma puxava as amarras do espartilho branco que afinavam e demarcavam sua delicada silhueta que logo estaria coberta por um delicado vestido que também seria vestido pela impiedosa mulher.

Aquela manhã não era comum. Tinha um caráter especial e Josephine mal conseguia conter-se já que seu instinto a fazia querer conseguir mais detalhes sobre a nova criada que logo chegaria para conhece-la. Como sempre quando seu lado curioso despontava, a princesa tratou de pedir que Lady Bennett selecionasse seu melhor traje de primavera e a vestisse para ser apresentada à mulher, pois adoraria impressioná-la com sua classe e com seu porte nobre.

 Vestida e calçada como pedira, Josephine apenas aguardava que sua criada terminasse de prender seus longos cabelos castanhos ondulados em um penteado médio, finalizados com sua tiara favorita, herdada da Rainha, sua falecida mãe. Assim que dispensada, Lady Bennett curvou-se em uma reverência a Alteza real antes de fecha-la em seu aposento, deixando-a aflita quanto a demora da tão misteriosa dama. A jovem observou sua figura esguia no reflexo do espelho e agradou-se com o que via, mas ainda não estava satisfeita, pois algo lhe faltava. Oh, é claro. A luz completa do dia. Josephine caminhou na direção das cortinas e as abriu, em seguida adiantou-se para a sacada, podendo observar do alto da fortaleza rochosa tudo que cercava o principal castelo do reino, tendo também o desprazer de ver àquela hora da manhã o Rei mantendo contato direto com seu futuro marido, o príncipe Liam. O olhar da jovem sobre as duas figuras imediatamente modificou-se, alertando a qualquer um que a visse o quanto aquele acordo de matrimônio selado no ano de seu nascimento a desagradava.

Ao invés de preocupar-se com os assuntos do Rei com o príncipe, Josephine desviou sua atenção aos montes além do castelo. A paisagem a deixava entretida, funcionava como um bálsamo para atenuar sua tensão por conta da união que se aproximava. No entanto, sua intuição apontava para algo que poderia livra-la de um enlace indesejado e com certeza não seriam os montes que tanto a alegravam e muito menos a alma da Rainha, para qual ela pedia em todas as suas preces um caminho que a tirasse daquele martírio. Josephine ia além de seu tempo. Onde a Igreja e seus líderes tinham o magno poder e prestígio concentrados em suas imagens incólumes de caráter incontestável, suas crenças não tinham chances de serem creditadas. Apesar de muitas vezes ter sido contrariada e apontada pela Santidade como uma herege, a princesa não perdeu sua fé, só a manteve velada para não sofrer com castigos por ter ido contra os dogmas tão exaltados.

Voltando seu olhar para a Alteza e para o príncipe Liam devido ao alarde feito no jardim do palácio para alertar aos dois, Josephine pôde deduzir pela expressão de alívio na face de seu pai que a dama já havia chegado, o que fez a princesa distanciar-se da sacada e ficar a postos para a recepção que faria. A princesa aprumou-se, verificou as camadas de seu vestido e sorriu para o seu reflexo antes mesmo de ser chamada por sua criada.

— Alteza, o Rei ordena a sua presença imediata no salão principal. — Disse Lady Bennett ao adentrar novamente o cômodo com ordens superiores direcionadas à princesa.

— Logo estarei lá. Está dispensada, Lady Bennett. — Josephine respondeu polidamente ao aproximar-se da criada que a aguardava para sua saída com uma sutil reverência retribuída com um rápido meneio.