CAPÍTULO 10 - CORRAM MENINAS!

8 1 0
                                    


10h00

Sana está cortando as cenouras, Vilde as batatas e eu estou sentada encarando o celular. Pensando quando a Eva vai dar algum sinal de que está bem, que já não está mais pensando como foi a reação dos meus pais.

Não podemos ficar sozinhos com os nossos pensamentos. Eles parecem que só querem o nosso mal; almejam, trazem, puxam coisas para dentro de nós que não queremos lembrar.

— Noora, você já fez tudo o que pôde! Te garanto que não adiantará nada você ir na casa dela. A mãe da Eva não é muito bem amigável. Principalmente quando as visitas da sua filha são meninas! — Disse a Sana me desconectando dos meus pensamentos.

— Como você sabe disso, Sana? — Coloquei minhas mãos sob o queixo e virei o olhar para ela.

— É que, an... eu e a Eva, fizemos um trabalho juntas, e você sabe que eu sou da sala do primo dela, certo? O Isak. — Consenti com a cabeça e ela prosseguiu. — Antes de vocês estarem juntas, eu a conheci através dele, em uma festa de aniversário. E lá estava a Eva, sentada encarando o nada e às vezes voltava sua atenção ao Jonas, mas teve um momento...

Por que ela parou? O que fez a Sana agir dessa maneira?

— Sana? — Me sentei e acabei ficando com uma postura meio tensa. Na real, muito.

— A Eva olhou para uma garota na festa, e a sua mãe observou isso e chamou ela para conversar. Foi só um olhar, Noora. 

O olhar dela com as batatas. A Sana parece querer chorar. Por que nenhuma delas me contaram sobre isso? O que houve? A mãe da Eva é homofóbica, isso é claro, mas a Sana estar assim? 

Oh, não!

— E quando voltavam de seja lá onde estavam, eu ouvi a sua mãe dizer:
"Sei que você e Isak são primos, mas não se misture muito! E não volte mais com esse assunto. Você é normal!"

Já era claro que a Eva tinha muito medo de contar aos seus pais sobre ela. Sobre gostar de mim, na verdade, sobre me amar. Eu já sabia disso, as meninas sabiam disso. Mas, o seu primo, o que tem ele?

  — Sana, o que tem o primo da Eva?
  — Ele é gay, Noora! A mãe da Eva transformou a vida do Isaak, em um inferno! Envenenou a mãe dele, que passou a mandar versículos diários para ele. Como se ele pudesse ser curado de ser ele. O pai já sabia, mas reagiu diferente das duas.

Era informação de mais. Não sabia como processar aquilo! Por que ela nunca me contou sobre o Isak? Falava algumas vezes, só que nunca conversou sobre isso. 

— Ela o ajudou! Sempre esteve do lado dele, fazendo o máximo que podia. Arrumou um emprego para ele, emprestou um dinheiro para que pudesse ir morar com o Evan.

A Sana me contava isso sem esforço nenhum para se lembrar. Não eram lembranças velhas. Se fossem velhas, eram marcantes. Ninguém se lembra de tantos detalhes para contar desse jeito, que não tenham ficados pendurados no coração para sempre. Como um trauma.

— Quanto tempo tem isso? Tem meses?

Ela parou para pensar.

— 2 meses! — Afirmou.

A Vilde estava parada nos observando. Ela analisava cada palavra que saia de nossas bocas, e em tempo recorde processava tudo. Ela parecia estar um passo à nossa frente. Em pensamentos, no que dizer, no que fazer.

— Gente...onde está a Chris? Tem algo errado! — Perguntou Vilde.

Ouvimos a mãe da Sana entrar e com ela a Chris. 

Ela parou em frente a porta. O olhar dela...

O que você sentiu Vilde? 
O que está acontecendo?

— Chris, fale logo, o que está acontecendo? — Perguntou a Vilde olhando para ela e segurando suas mãos. 

Os braços dela, eles estavam tremendo. Seus olhos não nos acompanhava. Ela está sem fala. 

Ela está em estado de choque.

— Rápido Noora! — Disse a Sana. Que obviamente percebeu as mensagens do corpo da Chris.

Bastou um olhar e eu fui encher um copo com água e levei até a Sana, que estava colocando a Chris no sofá.

— Mãe, o que houve? — Sana olhou aflita para sua mãe. 
— Eu realmente não sei! Ela estava parada em frente à nossa porta!

Chris... o que aconteceu? Não.

Não pode ser.

— Chris? Por favor, me olhe.  — Acelerei meus passos e me ajoelhei no chão, ficando em sua frente. Guiei meus olhos ao seus seus e segurei suas mãos. — Se você tiver alguma informação sobre a Eva, por favor, se concentre e diga. Não pense, fale! Meus olhos se enchiam de lágrimas. — Sentir a mão da Vilde no meu obro direito, e logo se agachando ao meu lado.

 Ela me olhou. Apertou a minha mão; Foi instantâneo, sentir cada aperto daquele se confrontar com todas as paredes do meu coração. Eu precisava de uma resposta.  Meu corpo pedia um único nome, uma única palavra. 

Ele gritava pela Eva.

(Nós)ssa última noite!Where stories live. Discover now