Notas iniciais: Espero que vocês gostem e me deixem saber o que acharam. Boa leitura!
Joana está a uma hora no ponto de ônibus batendo os pés no passeio cinza e duro enquanto resmunga baixinho xingamentos contra o mundo, sua casa fica apenas a vinte minutos de caminhada, mas preguiçosa como é preferiu esperar o ônibus que resolveu não passar. A mulher espera mais meia hora até que sente sua nuca escorrer de suor e a boca ficar cada vez mais seca, portanto respira fundo parando de resmungar já que está parecendo uma maluca falando sozinha e se coloca a andar o mais rápido que suas pernas curtas permitem, afinal já está tarde e precisa chegar logo em casa para fazer o jantar para seu marido que daqui a pouco está voltando do turno extra que está fazendo na agência de viagens em que trabalha, todo dia em mais de vinte anos ela faz o jantar para ele e suas filhas e apesar de não gostar muito de cozinhar dessa vez está animada, pois é o aniversário de casamento dos dois.
Cada passo que dá mais se arrepende de não ter esperado mais um pouco o ônibus, as pesadas sacolas de compra que carrega já judiam de suas mãos, ela havia andado o dia inteiro fazendo compras para casa, procurando ingredientes para o jantar e velas perfumadas para dar um clima romântica na sala, quando finalmente chega em casa larga as sacolas na mesa da cozinha e enche um copo de água bebendo tudo em uma golada só sentindo um alívio na garganta e, imediatamente, uma calmaria acompanhada de estranheza a atinge ao perceber o quanto a casa está silenciosa já que suas filhas dormirão na casa de sua mãe essa noite dando um tempo sozinho a ela e seu marido, algo que precisam urgentemente. Joana deixa o copo na pia e vai até o armário anotar o que ainda precisa comprar para a casa, ao pegar a agenda a vê aberta em uma página com um bilhete escrito "Vou trabalhar até tarde, não precisa me esperar acordada", ela franze a testa sentindo uma súbita vontade de chorar se questionando como é possível que até no sábado, até no aniversário dos dois ele trabalhe até tarde, Joana respira fundo engolindo o choro, guarda a agenda e sai de casa.
Anda sem rumo pelo bairro tentando colocar seus pensamentos em ordem, tinha planejado fazer um jantar diferente para o aniversário de casamento, planejava decorar a sala de jantar com pequenas velas em formato de flor, no meio da mesa de madeira colocaria uma bandeja com macarrão alho e óleo e uma garrafa de vinho e algumas músicas tocariam baixinho na caixa de som para dar um toque especial entre os dois, mas sem atrapalhar alguma conversa que teriam, por fim a roupa que usaria é um vestido preto que marca suas curvas e vai até pouco acima do joelho. Dessa forma, era o maior desejo para a noite, Joana e seu marido se reconectariam novamente tendo em vista que faz um bom tempo que eles não se encontram em sintonia física e emocional, no início imaginou que era apenas uma fase difícil, entretanto conforme os meses passaram soube que o relacionamento já não é mais o mesmo.
Cansada de andar Joana senta no passeio sentindo as pernas doerem e pensando que talvez a ideia de entrar em uma academia para sentir menos dor ao fazer uma caminhada pequena não seja tão ruim, ao se sentir um pouco melhor olha para frente e vê uma lojinha charmosa que vende de tudo um pouco que abriu a uma semana atrás, se levanta e atravessa a rua entrando na loja. A primeira coisa que vê é uma prateleira cheia de bonecas de porcelana com olhos grandes que parecem estarem te julgando como se soubessem de cada passo que você dá, adentrando mais o local vê vários vestidos de festa pendurados em uma arara e no lado encostado na parede um espelho de corpo inteiro com moldura de madeira sem verniz.
Ao se olhar no espelho percebe que realmente está ficando velha como seu marido afirmou duas semanas atrás, era uma sexta-feira e ela tinha pensando em ir ao cinema ver um filme de romance que tinha estreado e depois jantar, ao falar sobre isso com seu marido ele concordou com o encontro sem hesitar, no entanto no momento que Joana colocou um vestido vermelho apertado na cintura e solto até a metade de sua coxa ele reclamou dizendo que é uma roupa de mulher novinha e não de alguém velha como ela, que mulher dele não sai de casa vestida assim e Joana já devia saber disso. Ela acabou perdendo a vontade de sair e enquanto remoía a tristeza esquentando um arroz com feijão para si e para as crianças ele apareceu na cozinha a abraçando e contando sobre seu dia como se nada tivesse acontecido, nesse dia ela não acreditou em nada do que ouviu, contudo olhando agora para as linhas de expressão em seu rosto que estão ficando cada vez mais marcadas percebe um fundo de verdade na fala do marido. Sai da loja e volta para casa mais frustrada do que já estava, ao passar pelo portão e a porta principal escuta um estrondo seguido de uma chuva forte que rapidamente escurece a sala de jantar, suspira derrotada e segue para seu quarto sem ligar a luz confirmando que hoje simplesmente não é o seu dia, ao entrar no quarto vai direto ao banheiro para tomar um banho quente que com sorte a relaxaria um pouco.
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Por amor
RomanceEm quatro de março de mil novecentos e noventa e dois Joana casou em uma pequena capela azul com o amor de sua vida e agora mais de duas décadas depois estão comemorando mais um ano dessa união, dessa forma ela planejou cada detalhe para ter a noite...