Capítulo 2

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Primeiro dia

Tony

Cheguei na lanchonete. Estacionei o carro na vaga de funcionários e entrei pela porta da frente.

- Por que você sempre chega atrasado? - falou Eric chegando para me cumprimentar. - Estava com alguma garota?

- Cara, hoje eu não estou afim de brincadeiras, principalmente com você. - Eric era um otário completo. Loiro, alto e bonito pegou quase á cidade inteira " incluindo minha irmã e a trocando logo em seguida pela amiga dela" e ficava se vangloriando por isso. - Vou colocar meu avental.

Entrei no vestiário, coloquei o avental verde limão " Nada chamativo" e logo sai. Aquele lugar me deixa claustrofóbico, um lugar escuro e apertado. E é onde Eric da uns "pegas" na nossa colega de trabalho Paty. Sempre achei ela uma garota triste, sempre olhando para os pés e tudo nela me lembrava á banda gótica e nunca á vi esboçar um sorriso.

- Você está parecendo cansado, dormiu direito?- Paty falou aparecendo do nada.

- Dormi sim, obrigado.

A conversa terminou ali, nossas conversas não passavam disso. Sempre um de nós estava de mal humor, espero que ela me perdoe mas hoje era meu dia. A tarde se passou tranquila na lanchonete, somente os clientes habituais. Quando á noite caiu. Percebi que Eric, Paty e Tina a menina nova, foram para o vestiário.

Ouvi risadas, a gerente não estava, como é de costume, parecia não ligar para o estabelecimento, por conta disso, depois que deles saíram de lá. Eric me pediu para ficar na lanchonete até o horário de fechar, para que ele, Paty e Tina saíssem mais cedo e fossem á uma festa que estava acontecendo ali por perto. Concordei. Até que enfim fiquei sozinho somente eu e meus pensamentos. Depois de mais ou menos uma hora depois, já não havia cliente nenhum. Por conta disso, sentei-me em uma das mesas e decidi ler o livro que receberá essa semana de meu avô. Lembro-me de admirar sua biblioteca particular, sempre duvidei que meu avô foi capaz de ler, todos aqueles livros.

Estava tão absorvido pela leitura que não percebi que alguém entrou na lanchonete, até sentir uma mão em meu braço. Uma garota, provavelmente da minha idade, estava descalça com um vestido branco, a roupa não parecia ser curta mas em seu corpo acabou ficando. Por cima usava um casaco bege enorme, se á intenção era não chamar atenção com aquilo. Não obteve o resultado esperado. Usava óculos e o cabelo preso em um coque. Parecia uma versão atualizada e feminina de Sherlock Holmes.

- Desculpa não te vi entrando - Levantei da mesa fechando meu livro e ficando de pé.- A senhorita...Quer alguma coisa?

- Café? Ou Coca-Cola? Qualquer coisa que contenha cafeína está ótimo.- Ela sorria mas estava com o semblante triste.- Para me fazer esquecer daquela festa.

- Aqui só temos café de manhã mas tem coca-cola. Também não gosto muito de festas.- Fui até a geladeira.- Mas se você não gosta por que foi?

- Fui obrigada pela minha amiga, ela prometeu que seria legal e que seria bom conhecer gente nova, mas um cara estragou a noite. - Enquanto ela falava pegou e tirou o elástico do cabelo, deixando o solto.- só queria sair de lá o mais rápido o possível, até esqueci meu sapato.

Ela estava sentada na mesa, fui ate ela com duas latas de Coca-Cola, sentei de frente para ela. Seu cabelo era tão lindo, tão negro como o céu que se estendia na noite. Ela pegou um dos refrigerantes , abriu e começou a toma-lo. Mas logo percebeu que eu não parava de admira-lá, ela começou a corar e eu desvie meu olhar.

- Por que você estava sozinho? Sei que provavelmente deve ter outros funcionários aqui...- Sua voz era suave e calma.

- Os outros foram para uma festa mas eu só queria ler um pouco.

Finalmente pude ver o sorriso dela, seus dentes eram perfeitos, tive que rir depois de perceber que estava olhando para o dentes de uma pessoa desconhecida. Olhei para ela. Será que quando nossas latas chegassem ao fim. Ela sairá daquela porta do mesmo jeito que entrou, será que eu não veria mais aquele sorriso. Não poderia deixar isso acontecer.

- Vamos sair daqui?- Nem parecia eu mesmo falando.- Ela levantou as sobrancelhas, com certeza estava pensando que eu era maníaco ou algo do tipo.- Meu dia também foi péssimo e estou com vontade de ir á praia, vamos?

Seu rosto iluminou e ela levantou. Acho que esse gesto era afirmativo. Tirei meu avental coloquei sobre a mesa, junto com o resto de nossos refrigerantes. Desliguei as luzes da lanchonete e abri a porta para ela, quando ambos estavamos lá fora, tranquei a porta. Fomos andando até meu carro, entramos e partimos para o nosso destino. Meu lugar favorito dessa cidade, que por sinal não ficava muito longe. Logo chegamos, ela desceu primeiro, tirei meus sapatos e minhas meias e as deixei no carro e a segui.

Assim que pisamos na areia, ouvindo á musica do mar, as estrelas brilhando e o vento dançando entre nós como se fossemos únicos. Peguei na mão dela e ela deixou, andamos em direção ao mar, até a água fria do mar bater em nossos pés. Me virei para ela e do nada, ela me beija. Seus lábios são macios como pétalas mas com uma intensidade.Coloquei minhas mãos em sua cintura, puxando-a para mim.

Quando nos soltamos, estavamos ofegantes e rindo. Meu Deus acabei de beijar uma garota que nem sei o nome e acho que queria beijar de novo. Cheguei perto dela mas ela se afastou e o sorriso do seu rosto desapareceu completamente.

- Para, eu tenho que voltar para casa, já está tarde e essa noite foi confusa demais.- sua voz saiu como um sussurro.

Podia estar de noite mas pude ver focos de lagrimas em seus olhos. Só podia ser sobre aquele cara da festa que ela comentou. Podia jurar que ela estava com medo de mim. Só de pensar que algum babaca á forçou fazer algo.

- O cara da festa fez algo com você?

Ela afirmou e começou a chorar, cheguei perto dela e a abracei. Começei á ficar com raiva, do cara que fez isso com ela. Sentia suas lágrimas atravessarem minha camiseta.

Ficamos ali abraçados por minutos ou ate mesmo horas, ate perceber que ela se acalmou, pois ela se desgrudou de mim.

- Você pode me levar para casa? - Não olhava para mim mas para seus pés.

- Sim.

Começamos á andar. Silêncio. Entramos no meu carro. Silêncio. Ela me mostrou o endereço no celular. Conhecia bem o lugar, Eric morava ali. As vezes enquanto estava dirigindo olhava para ela e a única coisa que eu pensava era, como era linda. Até que chegamos. Ela iria sair do carro mas eu impedi.

- Eu...Ainda não sei seu nome.- Ela olhou para mim e sorriu. Aquele sorriso.

- Helena. - Falou saindo do carro mas foi ate a minha janela. Seu nome era a capital de Montana. Um belo nome.

- O meu é Antony.

- Isso eu já sabia.

- Como você sabia? Sou capaz de lembrar cada palavra nossa e eu não lembro que te disse meu nome.

- Seu avental tinha seu nome, Boa noite. - Depois de falar isso, se virou e foi embora.

Fiquei ali parado, vendo Helena entrar no prédio.Queria ir atrás dela, pedir o número do celular mas tinha a sensação que ela não iria me dar. Helena era estranha mas uma estranha que foi capaz de roubar meu coração em uma noite.

Quando cheguei em casa. Já era muito tarde, minha irmã e mamãe provavelmente estavam dormindo, então entrei caladinho sem fazer barulho e fui direto para meu quarto.  Deitei na minha cama sem tirar nada. E logo adormeci em segundos.

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⏰ Última atualização: Jul 04, 2018 ⏰

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